sexta-feira, 3 de julho de 2020

Menos da metade (49,5%) da população em idade para trabalhar (14 anos ou mais) ocupada

Bruno Villas Bôas (Valor, 01/07/2020) avalia: embora os falsos propagandistas dizerem abril ter sido o “fundo do poço”, em diferentes setores da economia o “poço está sem fundo”!

A crise do mercado de trabalho se aprofundou no trimestre móvel encerrado em maio, quando 7,8 milhões de pessoas perderam suas ocupações. Pela primeira vez na série temporal da PNADC, desde 2012, menos da metade (49,5%) da população em idade para trabalhar (14 anos ou mais) estava ocupada.

Segundo economistas, os sinais não são de melhora do emprego nos próximos meses. Mesmo se a flexibilização do isolamento social permitir uma retorno dos informais às ruas, a expectativa é de mais dispensas nas empresas nos próximos meses ou, na melhor das hipóteses, de uma estabilização.

Dados divulgados pelo IBGE mostram a população ocupada – empregados, empregadores, conta própria, servidores – era de 85,9 milhões no trimestre até maio de 2020, queda de 8,3% frente aos três meses anteriores. Houve uma perda de 7,8 milhões de vagas. É o pior resultado da série histórica, iniciada em 2012.

O destaque negativo foi a perda de 1,98 milhão de ocupações no comércio, o que representa redução de 11,1% ante os três meses anteriores. Mas outras atividades tiveram perdas expressivas, como indústria (-1,23 milhão de postos), construção (-1,08 milhão) e serviços domésticos (-1,17 milhão).

Apesar dos resultados tão negativos, a taxa de desemprego do país cresceu relativamente pouco: de 11,6% no trimestre até fevereiro para 12,9% no trimestre até maio, por causa do desalento. O país tinha 12,9 milhões de desempregados.

Segundo economistas, a taxa de desemprego do país não mostrou a realidade do mercado de trabalho. O IBGE segue metodologias internacionais e não há nada de errado com seus cálculos. Para o órgão, desempregado é quem procura trabalho e não encontra. O problema é que a quarentena dificulta ou impede essa busca. Nos cálculos da MCM Consultores, sem essa marcha para fora da força de trabalho, o desemprego teria atingido 20 milhões de pessoas e a taxa estaria em 18,9%.

Dados do IBGE mostram 9 milhões de pessoas tornaram-se inativas no trimestre até maio. São pessoas em idade de trabalhar, mas que preferiram não procurar vaga. É um movimento recorde.

Além da flexibilização da quarentena, a perspectiva de redução do auxílio emergencial pago pelo governo tende a motivar mais trabalhadores a buscar colocação no mercado em junho e julho, puxando a taxa de desemprego para cima.

Ao calcular o desempenho do mercado de trabalho isoladamente no mês de maio, expurgando março e abril do trimestre móvel usado pelo IBGE, identifica-se a queda da ocupação ter sido de 1,2% em maio, ante o mês anterior. Essa queda havia sido mais intensa em abril, de 6% em relação a março.

São dois saldos negativos, mas um menor do que outro. O estoque de emprego caiu mais devagar, mas não chegou ao fundo do poço. Então, é um movimento semelhante ao visto nos dados do emprego formal do Caged. O ajuste do emprego não chegou ao fim.

Discute-se se as medidas adotadas pelo governo, como a possibilidade de redução da jornada de trabalho, evitaram uma maior perda de empregos no país. Para alguns economistas, o ajuste do mercado de trabalho vai ser mais intenso do que o previsto nas horas trabalhadas, e menos no desemprego.

O IBRE-FGV está revisando a projeção da taxa de desemprego média do ano para algo em torno de 15,5%, abaixo da taxa média de 18,7% prevista antes. Está esperando uma redução mais intensa das horas trabalhadas e menor da população ocupada. Os danos ao mercado de trabalho levarão mais tempo para serem totalmente avaliados.

Assis Moreira (Valor, 01/07/2020) informa: o Brasil teve uma redução de 20,1% em horas trabalhadas no segundo trimestre, equivalente a perda de 15 milhões de empregos e uma das mais elevadas globalmente, segundo estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A entidade afirma, no caso do Brasil, as perdas mais acentuadas de horas trabalhadas serem um dos reflexos da expansão da covid-19 no país.

No geral, o atraso indevido no combate ao vírus “tem consequências em perda de empregos, renda, sobrevivência”, numa crítica indireta ao governo brasileiro, conhecido por minimizar a severidade da pandemia.

A América do Sul tem o maior aumento percentual de perda de horas trabalhadas no mundo, com redução de 20,6% nas horas trabalhadas comparado ao trimestre anterior, equivalente a 32 milhões de empregos no segundo trimestre – ante 4,8% de horas de trabalho perdidas no primeiro trimestre, representando 7 milhões de empregos.

“A América do Sul nos traz sérias preocupações, com impacto socioeconômicos consideráveis”, afirmou Ryder.

Globalmente, a perda de empregos por causa da crise provocada pela pandemia da covid-19 tem sido mais severa do que previsto e se agrava especialmente nos países em desenvolvimento, de acordo com a OIT.

As novas projeções da entidade mostram que o número de horas trabalhadas no mundo no segundo trimestre caiu 14%, o que equivale a perda de 400 milhões de empregos a tempo integral (levando em conta semana de 48 horas de trabalho).

Isso representa uma clara deterioração no mercado de trabalho comparado a projeção anterior que apontava para baixa de 10,7%, o que atingiria 305 milhões de empregos atingidos.

Para o segundo semestre, as projeções da OIT sugerem que a recuperação do mercado de trabalho é incerta e incompleta. No cenário de referência, ainda haverá 4,9% de aumento nas horas de trabalho perdidas comparado ao último trimestre, ou 140 milhões de empregos. No cenário pessimista, considerando uma segunda onda da pandemia, a perda de horas de trabalho chegaria a 11,9%, equivalente a 340 milhões de empregos. Mesmo no cenário otimista, baseado em rápida recuperação global do mercado de trabalho, as horas de trabalho dificilmente voltam ao nível do pré-crise.

Para a OIT, existe um claro risco de continuação de perdas de emprego em escala global. A situação é mais difícil para as mulheres, com o risco de a pandemia da covid-19 anular modestos ganhos na luta de décadas pela igualdade com os homens no mercado de trabalho. As graves repercussões da pandemia sobre as trabalhadoras têm a ver com sua super-representação em setores em crise como hotelaria, restaurantes, comércio e industria manufatureira.

A entidade reconhece: governos adotaram medidas de amplitude sem precedentes, num total de US$ 10 trilhões, mas acha que mais deve ser feito para proteger por exemplo os grupos vulneráveis e particularmente afetados.

A situação grave do emprego no mundo vai ser debatida numa cúpula mundial sobre covid-19 e o mundo do trabalho. A OIT organiza virtualmente com representação de governos, empregadores e trabalhadores. O Brasil está desprestigiado na arena internacional por conta de sua equivocada política externa com um estrupício no comando.

Menos da metade (49,5%) da população em idade para trabalhar (14 anos ou mais) ocupada publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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