domingo, 22 de setembro de 2019

Primeiro Banco Central Norte-Americano

Charles R. Geisset, em seu livro Wall Street: A History from its beginnings to the fall of ENRON –, publicado pela Oxford University Press em 1997 (e reeditado em 2004), narra: quando o primeiro Congresso se reuniu, uma de suas ordens originais para os negócios era estabelecer o Banco dos Estados Unidos. Este foi incorporado em 1791.

O escritório principal estava localizado na Filadélfia, com filiais em New York e outras grandes cidades da Costa Leste. Ao contrário de muitos dos bancos comerciais do período, o Banco Central recebeu filiais em outros estados, uma prática incômoda a muitos banqueiros estaduais. Eles sentiram estar em desvantagem comparativa, pois estavam confinados em seus estados de origem. De fato, suas agências bancárias cristalizaram a oposição inclusive ao seu papel como Banco Central. Comerciantes locais, muitos dos quais estavam no processo de criação de bancos estaduais, não deseja qualquer concorrência ou regulamentação de uma entidade federal.

Quando o banco foi dissolvido em 1811, depois de sua carta patente ter sido extinta, mais de 120 bancos estaduais foram constituídos. Muitos começaram suas próprias emissões de notas bancárias. Dentro de alguns anos, muitos inundaram o mercado com papel, levando o governo a recorrer a pagamentos em espécie em 1817. A capacidade imprimir notas era um poder extraordinário, por isso muitos novos bancos locais e seus proprietários detestavam se render a um forte Banco Central.

Originalmente, o Banco dos Estados Unidos foi uma das primeiras questões “quentes” da história americana, mas sua própria história curta e problemática refletia as divisões ideológicas já galopantes no novo país. Mesmo tendo provado ser altamente lucrativo para seus acionistas, os lucros não foram suficientes para salvá-lo em longo prazo. Seus títulos foram bem aceitos, mas não eram do tipo aceito para serem negociados pelos leiloeiros e revendedores em Wall Street e no Café Tontine House, o bar favorito dos comerciantes.

O capital original do banco foi fixado em US$ 10 milhões, com o governo federal assinando só US$ 2 milhões. Em troca, o banco logo emprestou também US$ 2 milhões ao governo com juros de 6% aa a serem pagos em dez parcelas iguais. O banco também atuou como agente de recolhimento fiscal do governo. Ao público foi permitido assinar os US$ 8 milhões restantes. No entanto, em termos contemporâneos, a maioria das emissões públicas ficou em mãos de investidores institucionais. Infelizmente para o banco, esses investidores eram em sua maioria estrangeiros. Os mercadores domésticos mais substanciais da época subscreveram apenas o saldo restante.

Embora a estrutura do Banco dos Estados Unidos fosse relativamente simples e seu capital tivesse sido prontamente fornecido pelos investidores, ele caiu na maior controvérsia ideológica sobre o papel do governo federal na nova República. Em 1791, Thomas Jefferson havia expressado suas próprias reservas a respeito da capacidade do governo federal intervir no mercado, como fosse uma empresa privada concorrente, como o banco permaneceu ao longo de sua breve história.

Embora parte dessa controvérsia em particular fosse resolvida em 1819, havia também o medo de o banco evoluir para uma forte instituição central formada a partir da experiência do Banco da Inglaterra – o banco central mais antigo, datado de 1694. A “Velha Senhora da Threadneedle Street”, como se tornou conhecido, adquiriu o monopólio da emissão de notas bancárias. Elas certamente não foram prontamente aceitas nos Estados Unidos na época.

O Bank of England foi criado em 1694 e, do século XVIII em diante, assumiu o papel de emprestador de último recurso, embora alguns analistas sugiram isso só ter acontecido de fato na primeira metade do século XIX. Entretanto, só se tornou um Banco Central completo em 1844. Fundado em 1800, o Banco Central francês (Banque de France) só obteve o monopólio da emissão monetária em 1848. Mas, até 1936, esteve mais sob o controle dos próprios banqueiros em lugar do governo. O Banco Central da Holanda, o Nederladsche Bank, foi fundado em 1814 pelo rei Guilherme I, calcado no modelo do Bank of England. Mas até 1830 teve de lutar obstinadamente para pôr suas cédulas em circulação e, até 1860, não deixou de ser um banco “local” com sede em Amsterdã.

Ao mesmo tempo, outros bancos começaram a depositar dinheiro no Bancos dos Estados Unidos, usando-o como uma câmara de compensação para suas transações. Isso significava ele poder ditar o tipo de moeda a ser aceita. O tipo de poder centralizado, tal como a Velha Senhora, adquirido pelo Banco dos Estados Unidos não agradou àqueles mais interessados em direitos estaduais em vez de prerrogativas federais.

Parte dos problemas do Banco dos Estados Unidos pode ser atribuída a seus investidores. Dos US$ 8 milhões disponíveis para assinatura pública, mais de US$ 7 milhões foram assinados por estrangeiros, principalmente britânicos. Muitos investimentos britânicos nos Estados Unidos foram representados pela casa bancária de Baring, depois Baring Brothers.

Já em 1803, a Barings havia sido nomeada agente oficial do governo dos Estados Unidos, além de representarem os interesses britânicos. Nos anos seguintes, a empresa ajudou a financiar a compra da Louisiana. Juntamente com títulos do Tesouro, instituições financeiras em geral foram os investimentos favoritos dos britânicos no período pós-colonial imediato.

Mas a ideia de ter o banco, efetivamente o Banco Central do país, em mãos estrangeiras provou ser um risco muito grande para muitos. Naturalmente, de quem era a propriedade foi uma pergunta feita por políticos. Um Sr. Desha, congressista de Kentucky, temia o George III ser um dos principais acionistas. Considerando a estado mental do rei na época (supostamente à beira da loucura), Desha alegou não ser prudente receber resgate por esses investidores, embora ele tenha admitido: o rei George provavelmente pagaria milhões pela renovação do Carta em 1811.

O banco foi liquidado depois do Congresso ter se recusado a renovar seu estatuto em 1811. Nos vinte anos, quando operou, rendeu aos investidores cerca de 8% ao ano em dividendos e rendeu-lhes cerca de 57% em ganhos de capital. O governo federal arrecadou mais de US$ 600.000 em seu investimento inicial. No entanto, os sentimentos de repulsa eram tão fortes quanto ao papel de um Banco Central em novo país em desenvolvimento de modo o governo nacional não ter encontrado apoio político suficiente para sua manutenção. Logo, seu estatuto foi expirado.

Primeiro Banco Central Norte-Americano publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



Nenhum comentário:

Postar um comentário