Sem uma injeção extra de recursos na renda, como ocorreu via FGTS e PIS-Pasep nos últimos anos, o poder de consumo das famílias deverá crescer lentamente neste ano, se não há a recuperação do emprego e da atividade econômica.
Projeções do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) mostram a massa salarial ampliada, somando a renda do trabalho e benefícios sociais, atingir R$ 1,18 trilhão neste ano, apenas 1,1% a mais em relação à do ano passado (R$ 1,17 trilhão).
É um crescimento muito lento e pouco gradual. Apesar de ser um dado de crescimento, ele reforça a permanência na crise, uma das maiores da história. O indicador havia crescido 1,1% em 2018.
Além da massa dos salários, os cálculos do Ibre/FGV englobam os ganhos de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC, concedidos para pessoas com deficiência e idosos de baixa renda), assim como benefícios previdenciário. Também inclui os saques do FGTS em 2017 e os do PIS/Pasep no ano passado.
O mercado de trabalho não contribui para o crescimento da massa salarial, especialmente pelo aumento do número de trabalhadores ocupados (empregados, empregadores, informais). Os rendimentos de aposentadoria devem seguir crescendo pela pressão de se aposentar logo devido à ameaça de corte de direitos adquiridos. Aumentará a quantidade de aposentados com baixas pensões.
Com o perfil etário brasileiro, e a ameaça de corte de direitos previdenciários da grande geração baby-boom, vai continuar o avanço da população aposentada. A reforma da Previdência Social só vai ter efeito sobre essa renda no longo prazo, quando houver redução do fluxo de entrada da aposentadoria.
Benefícios como Bolsa Família e BPC são variáveis mais incertas. O governo reacionário até anunciou o pagamento de uma espécie de 13o salário para as famílias beneficiadas pelo Bolsa Família, mas sua efetividade pode depender de questões fiscais. O benefício não é garantido por lei e está sujeito a intempéries políticas.
Apesar das projeções não muito animadoras, a massa salarial do trabalho foi positiva no primeiro trimestre deste ano. Conforme dados divulgados pelo IBGE , a massa avançou 3,3% no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 205,289 bilhões no período.
O desempenho da massa salarial chamou atenção, considerando a renda habitual do trabalhador ter crescido apenas 1,4% por essa base de comparação, para R$ 2.291. A população ocupada cresceu 1,8% em base interanual no trimestre, foi surpreendente.
Como divulgado pelo IBGE, a taxa de desemprego nacional atingiu 12,7% no primeiro trimestre de 2019. O resultado ficou ligeiramente abaixo da média das previsões de 25 analistas ouvidos pelo Valor Data. Eles previam elevação para 12,8%. O país tinha 13,387 milhões de desempregados no trimestre.
Retirados os efeitos sazonais do período, marcado tipicamente pela dispensa de temporários, a MCM Consultores calcula a taxa de desemprego ter passado de 12,2% no quarto trimestre de 2018 para 12% no primeiro trimestre de 2019.
Sergio Lamucci (Valor, 29/04/19) informa: o investimento segue travado, mesmo depois de passadas as eleições presidenciais e da queda de mais de 30% no auge da crise. Com a demanda anêmica e as incertezas em relação à aprovação da reforma da Previdência, o setor privado investe muito pouco, ainda mais num cenário em que grande parte das empresas tem enorme capacidade ociosa. O setor público contribui ainda menos, dada a péssima situação fiscal do governo federal e de muitos Estados e municípios.
Sem o investimento ganhar fôlego, o PIB crescerá a um ritmo fraco também em 2019 e aumentam os prognósticos de uma expansão de 1,5% ou menos neste ano. Do lado da demanda, o consumo das famílias, os gastos do governo e as exportações não puxarão a atividade. O país deverá ter mais um ano perdido em termos de crescimento e redução do desemprego.
O anúncio de investimentos desacelerou significativamente depois da greve dos caminhoneiros, em maio do ano passado, como aponta o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato. Levantamento do banco com base em projetos anunciados na imprensa mostra uma queda mais forte exatamente a partir de junho de 2018. De julho de 2017 a maio do ano passado, a média de projetos divulgados foi de 109 por mês. De junho de 2018 a março deste ano, ficou em 56.
No segundo semestre de 2018, as incertezas relacionadas às eleições seguraram o investimento. “Hoje, as dúvidas quanto à reforma da Previdência, fundamental para garantir a sustentabilidade das contas públicas no longo prazo, mantêm o setor privado em compasso de espera”. Essa ladainha equivocada, sem mostrar o mecanismo de transmissão entre essa reforma e o crescimento econômico, é repetida sem cessar!
Pergunto: porventura houvesse um corte de gastos previdenciários imediatos — não haverá — a equipe ultraliberal elevaria os gastos públicos em investimento?! Duvido!
Como pano de fundo, uma demanda muito fraca e uma grande ociosidade na economia. A sondagem industrial de março da Confederação Nacional da Indústria (CNI), informou um salto das empresas apontando a “demanda interna insuficiente” como um dos maiores obstáculos. No quarto trimestre de 2018, esse era um dos principais problemas para 31,1% das companhias; no primeiro trimestre deste ano, o número pulou para 37,5%.
A ociosidade da capacidade produtiva é enorme. O nível de utilização de capacidade instalada da indústria de transformação ficou em 74,4% em abril de 2019, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV). É um número muito abaixo da média registrada desde 2001, de 80%.
Entretanto, os idiotas reduzem tudo às dúvidas quanto à Previdência! Olha só o comentário: “elas afetam mais diretamente um grupo de grandes empresas globais, muitas de capital de aberto, que esperam uma definição sobre o futuro das contas públicas para tomar decisões de investimento”. Desde quando esse critério de investimento em títulos de dívida pública por parte de rentista (dívida/PIB) é o mesmo de investimento produtivo?!
“Há dois canais de transmissão aí”, diz o contorcionismo de economista-chefe de banco, quem pauta a imprensa econômica.
- Se a reforma não passar, a tendência é de haver uma desorganização do ambiente econômico, o que leva as empresas a esperar antes de investir.
- O outro é o risco de haver um aumento de impostos no futuro se não houver a mudança do sistema de aposentadorias, gerando dúvidas sobre a rentabilidade dos investimentos.
É mesquinho esse pensamento da casta dos mercadores-rentistas!
“No caso de empresas de médio e pequeno porte, de capital fechado, o efeito das incertezas sobre a Previdência é diferente. Ele se dá porque a indefinição quanto ao sistema de aposentadorias impede mais estímulos para a demanda por parte do próprio Banco Central (BC), por exemplo. Isso poderia contribuir para reduzir mais o custo de capital. É um efeito indireto.”
Entendeu o contorcionismo mental? O Banco Central não abaixa mais os juros por causa de tudo a acontecer no Brasil depende de ferrar as aposentadorias dos trabalhadores e criar uma bolha de ações para o enriquecimento maior dos mercadores. Ora, conta outra para quem quiser acreditar em lenda imaginária…
“Esse empresário só vai investir mais quando perceber a perspectiva de crescimento mais forte da demanda. É obviamente um fator crucial também para as empresas de maior porte, mas uma perspectiva clara de aprovação da reforma da Previdência poderia deflagrar decisões de investimento das companhias maiores, que anteveriam um cenário melhor para a economia”, avalia o neutro, imparcial e técnico economista-chefe do Bradesco. Ele espera a proposta passar em primeira votação na Câmara dos Deputados em julho ou agosto, com aprovação final pelo Senado ainda neste ano. Ele está se lixando para os aposentados!
No primeiro trimestre do governo do capitão, a economia foi péssima. O Bradesco estima o PIB ter recuado 0,1% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. Nessa base de comparação, a previsão é o investimento ter recuado 0,6%. Por enquanto, o banco projeta um crescimento do PIB de 1,9% em 2019, número que eventualmente pode ser reduzido. Pela pesquisa empresarial do banco, o segundo trimestre se encaminha para uma alta de 0,5%, pouquinho melhor doem relação ao primeiro, mas que, se confirmada, torna difícil um avanço no ano perto de 2%. Imaginem só!
E aí vem mais da mesma ladainha para pressionar o Congresso Nacional. “A demora na tramitação e a aprovação de uma versão pouco robusta da reforma da Previdência podem retardar ainda mais a recuperação da formação bruta de capital fixo”
A FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação, entre o terceiro trimestre de 2013 e o quarto trimestre de 2016, caiu 31,6%.
Em recuperações cíclicas em seguida às recessões anteriores, o investimento costumava liderar a retomada. Depois de uma queda superior a 30%, não seria absurdo esperar um aumento da FBCF em torno de dois dígitos em um primeiro momento. Nos oito trimestres seguintes ao fim da recessão, porém, a FBCF só cresceu 6%.
Para o economista-chefe de banco, o problema não é falta de financiamento. A queda dos empréstimos do BNDES já foi mais do que suplantada pelas emissões no mercado de capitais, segundo ele, sem apresentar os números absolutos comparativos.
Com demanda fraca e o setor público sem espaço para investir, uma opção seria cortar mais os juros, em 6,5% ao ano desde março de 2018. A redução da Selic é tema para o segundo semestre. Até lá, deverá ficar claro, para o BC, o repique recente dos preços ser transitório, como ele e a grande maioria dos analistas avaliam.
Se a atividade continuar fraca, a inflação e o câmbio ficarem comportados e a reforma da Previdência estiver bem encaminhada, o BC poderá então baixar mais os juros. Nesse quadro, não seria necessário esperar a aprovação final pelo Senado.
Se não for possível estimular a demanda pela redução dos juros, Honorato vê como outras possibilidades promover outras reformas, como a tributária, e intensificar privatizações e concessões de infraestrutura. Hoje, essa agendas estão em segundo plano pela prioridade dada à mudança na Previdência.
Nesse quadro, é fundamental o governo se concentrar na articulação dessa reforma no Congresso, tentando aprovar o mais rapidamente possível uma versão robusta da proposta. A falta de coordenação política da administração de Jair Bolsonaro já cobra o seu preço em termos de crescimento, por adiar a retomada do investimento e dificultar a adoção de outras medidas para estimular a demanda, como novos cortes dos juros. Ah, chega de bullshit!
Arícia Martins (Valor, 29/04/19) informa: em um ano com uma onda de revisões pessimistas para o crescimento, o setor externo também não deve ajudar. Depois de ter retirado 0,5 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 — primeira contribuição negativa desde 2013 –, o volume de importações de bens e serviços deve crescer mais do que as exportações em 2019 novamente, avaliam economistas. Assim, a expansão do PIB será garantida pela demanda interna.
Analistas ponderam que, em meio a um processo de retomada, é normal que o setor externo tenha desempenho negativo, uma vez que a reativação do consumo e dos investimentos eleva importações. Desta vez, porém, a dinâmica já conhecida será influenciada também por compras contábeis de plataformas de petróleo, enquanto o ambiente de desaceleração da economia global, guerra comercial entre EUA e China e recessão na Argentina pesa negativamente sobre as exportações brasileiras.
Bráulio Borges, economista-sênior da LCA Consultores e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), destaca a importância da crise argentina no pífio crescimento do Brasil em 2018. Em abril do ano passado, o consenso de mercado para a alta do PIB ao fim do ano era de 2,9%, mais do que o dobro do ritmo observado (1,1%). Em seus cálculos, o colapso da economia argentina explica quase metade da frustração.
As previsões de O Mercado culpa “fatores exógenos” para justificar seus erros recorrentes! Ora, todos os previsores se copiam e erram em conjunto por se mostrarem “vítimas de acontecimentos coletivos” — e não serem despedidos.
Historicamente principal destino das vendas externas de manufaturados nacionais, o país vizinho reduziu fortemente as compras no ano passado, tendência que deve persistir no ano corrente, ainda que em menor magnitude.
O Ibre calcula que, entre janeiro de 2018 e de 2019, a participação argentina no total de exportações brasileiras caiu de 7,1% para 3,7%, com recuo de 44% nas vendas para o mercado argentino. E o capitão já quer enfrentar a próxima (re)eleita lá! Vá ser burro…
Outro fator de retração do setor externo em 2018 foram as importações contábeis de plataformas de petróleo, como consequência das novas regras do programa Repetro, de incentivo tributário ao setor de óleo e gás. Após as mudanças, esses bens passaram a ser considerados como investimentos em capital fixo e, por isso, foram importados, mesmo já estando no país, o que explica parte da expansão de 8,5% das importações no PIB, observa o economista.
Considerando que em 2019 essas operações contábeis vão ocorrer, mas em menor volume, a LCA estima alta de 5,6% das importações e de 5% das exportações na média do ano, o que resulta em contribuição negativa de 0,1 ponto do setor externo ao PIB. Mas esse número tem um viés de baixa.
Para o Ibre, as exportações vão avançar 6% neste ano, e as importações, 6,7%. Assim, o setor externo deve retirar 0,1 ponto do PIB no período, aponta o pesquisador Livio Ribeiro, para quem o efeito de importação das plataformas também será observado em 2019. A diminuição dos embarques para a Argentina deve ter peso menor neste ano devido à base de comparação fraca de 2018, diz Ribeiro, movimento que, sozinho, já eleva as exportações para o país. Por outro lado, a perspectiva para o comércio global como um todo segue difícil.
Mesmo se a guerra comercial entre EUA e China for resolvida, há uma defasagem entre o fim das tensões e a volta à normalidade do fluxo de exportações e importações mundiais. É muito difícil que vejamos alguma melhora do comércio global pelo menos até meados do ano. Como o Brasil é uma economia relativamente fechada, há pouco impacto por aqui em termos de volume, mas os preços das exportações brasileiras, concentradas em commodities, caem.
A China é a principal compradora das matérias-primas brasileiras. Explicam cerca de 70% dos nossos preços de exportação. Assim, quando a economia chinesa desacelera, a relação entre preços de exportação e importação no Brasil piora. Nas estimativas do Ibre, os termos de troca devem cair 6% em 2019, recuo maior se a perda de fôlego do PIB chinês for mais forte.
A redução dos termos de troca seria outro impacto negativo sobre o crescimento brasileiro neste ano, embora não afete a contribuição do setor externo. Quando os termos de troca caem, ficamos mais pobres. Destaca-se a relação positiva entre cotações de commodities e o desempenho do consumo das famílias e dos investimentos produtivos.
O cenário global é ruim. Não é por meio das exportações que a economia vai crescer mais. A contribuição do setor externo no PIB será próxima de zero em 2019. As variáveis fundamentais para a recuperação serão o consumo e o investimento.
Nas projeções do banco Fibra, a absorção doméstica – soma do consumo, dos investimentos e dos gastos do governo – vai crescer ligeiramente acima da alta prevista para o PIB, de 1%.
Os neoliberais crentes do livre-mercado simplesmente confessam: “não temos muito o que fazer quando o mundo está crescendo menos, mas no que depende somente do país estaremos crescendo”, mentindo ideologicamente a respeito da melhora do mercado de trabalho e da manutenção da taxa de juros em nível baixo.
Motores do Crescimento rateando: Consumo, Investimento e Exportação em baixa publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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