domingo, 26 de maio de 2019

Por que a economia brasileira não cresce

Fernando Rocha é economista­-chefe e sócio da JGP; Arlindo Vergaças é sócio fundador e diretor da JGP. Ambos publicaram artigo (Valor, 03/05/19) sobre tema a respeito do qual escrevi um Texto para Discussão nesta semana, embora eu esteja preocupado mais com a tendência de crescimento em longo prazo:

Porque a Economia Brasileira não tem um Crescimento Sustentado em longo prazo (I), por Fernando Nogueira da Costa

 

Reproduzo o artigo deles abaixo por apresentar uma visão de participantes de O Mercado. Discordo da questão demográfica em contexto de elevadíssima subutilização da força de trabalho. O problema crucial é faltar oferta de emprego e, quando houver, ela será desqualificada para ocupá-los.

Critico também o conceito utilizado de produtividade. Ele é indicador ex-post, i.é, após os fatos transcorridos. Logo, se a produção ou renda está baixa pelo baixo investimento multiplicador de renda e empregos, divide-se pelo número de trabalhadores empregados e se registra uma baixa produtividade. Portanto, ela indica a baixa produção. Esta se eleva com investimentos em máquinas e equipamentos “poupadores de mão-de-obra”. Nesse caso, aumentará a produtividade dos qualificados a ficarem ainda empregados.

“Existe uma certa perplexidade com o fraco crescimento da economia brasileira. Após os anos de recessão profunda do fim do governo Dilma, veio uma agenda de reformas, primeiro com o ex-presidente Temer e, depois, com o presidente Bolsonaro. Existia a crença de que, com as reformas propostas, a confiança dos agentes seria retomada e a economia voltaria a crescer.

No entanto, desde 2017, a economia patina. Começa a haver desconfiança de que talvez o crescimento permaneça medíocre, mesmo se aprovada a reforma da Previdência. Nesse artigo, examinamos as possíveis razões para esse fenômeno.

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que a economia brasileira está passando por uma mudança demográfica muito rápida. A taxa de fecundidade despencou de 5 filhos por mulher na década de 70 para 1,8, atualmente. Esse é um movimento grande, ocorrido em curto espaço de tempo, que gerou um forte declínio da taxa de crescimento populacional. Na década de 70, a população crescia a 2,5% ao ano, e hoje cresce a 0,8% ao ano. Isso significa que o número de pessoas em idade de trabalhar tem crescido menos, resultando em uma expansão potencial menor da economia.

Outro fator importante é o desempenho medíocre da produtividade. Em geral, os economistas decompõem a taxa de crescimento do PIB em dois componentes: crescimento da mão de obra e crescimento do capital. O que sobra é explicado pela produtividade. Vimos que a mão de obra está crescendo menos. O capital, por sua vez, depende de investimentos, que têm sido baixos. Por fim, a produtividade também tem crescido pouco: meros 0,4% ao ano de 1996 para cá.

Mesmo após debelar a inflação e adotar o tripé macroeconômico de câmbio flutuante, metas de inflação e equilíbrio fiscal, o país não conseguiu aumentar a produtividade. Isso se deve a problemas estruturais, nunca resolvidos. São exemplos desses problemas:

  1. educação de má qualidade,
  2. burocracia excessiva,
  3. infraestrutura deficiente e
  4. um sistema tributário caro e complexo.

Apesar de tudo, entre 2004 e 2013, o Brasil conseguiu crescer a razoáveis 4% ao ano. O ciclo de crescimento da China elevou os preços das commodities, reduzindo a fragilidade do balanço de pagamentos e ocasionando uma apreciação do real. Isso possibilitou um recuo da inflação e permitiu a queda da taxa de juros que, por sua vez, alavancou o crédito.

No entanto, essa expansão do crédito doméstico ocorreu a taxas altíssimas. O endividamento das famílias e das empresas cobrou o seu preço mais tarde na forma de aumento da inadimplência.

O excesso de demanda agregada do período tornou a inflação mais alta e resiliente. A partir do início do segundo mandato, a ex-presidente Dilma tentou reverter a situação, mas já era tarde demais. Ao afrouxar o pilar fiscal do tripé macro, a “nova matriz econômica” gerou uma deterioração sem precedentes do endividamento público. De 2014 a 2018, a relação dívida/PIB cresceu 25 pontos percentuais.

A elevação da taxa de juros a partir de 2013, somada à incerteza fiscal e aos danos das políticas setoriais equivocadas, provocou uma perda de confiança que jogou o país em uma das piores recessões de sua história. Entre 2015 e 2016, houve contração de quase 7% do PIB.

Como se não bastasse a má política econômica, tivemos ainda os impactos da operação Lava-Jato. Praticamente todas as empresas do setor de construção pesada no Brasil foram afetadas por essa operação. Mais do que isso, seus efeitos se estenderam a toda a economia.

O modo de operação do capitalismo brasileiro foi desnudado. Um modo corrupto, de compadrio e de relações incestuosas entre o setor público e privado.

Até agora, nada foi oferecido em substituição. O excesso de instituições e a burocracia acachapante não permitiram que se punisse os indivíduos e liberasse as empresas para seguir produzindo. Não se sabe ainda quando, e se isso ocorrerá. Por ora, várias engrenagens da economia permanecem paradas.

O “impeachment” da ex-presidente Dilma foi fruto direto do descaminho econômico. O vice assumiu e, com a sua “Ponte para o Futuro”, tentou empreender uma agenda de reformas. No entanto, o período seguiu turbulento: greves, denúncias de corrupção e manifestações políticas ocorreram.

Nesse contexto, chegamos às eleições presidenciais de 2018. Quando muitos acreditavam que surgiria uma terceira via capaz de pacificar o país, deu-se o contrário. As eleições canalizaram-se para um segundo turno polarizado entre o PT e o anti-PT.

Os eleitores mais ao centro do espectro político decidiram a favor de Bolsonaro, cansados da corrupção e dos maus resultados dos governos petistas. No entanto, o novo governo não pacificou o país. Caracterizou-se como “nova política“, em antagonismo evidente à antiga política, rotulada de corrupta e clientelista.

Isso gerou insatisfação no Parlamento, alijado dos ministérios e dos cargos públicos. O velho presidencialismo de coalização, que tem sido a forma mais eficiente de governar desde a redemocratização, está sendo colocado em xeque. Não se sabe ainda se o novo “modus operandi” proposto vai funcionar.

Chegamos assim aos dias atuais e não é de se espantar que o crescimento esteja decepcionando.

São fatores estruturais como:

  1. baixo crescimento da população ativa,
  2. investimento anêmico,
  3. produtividade medíocre,
  4. burocracia excessiva e
  5. carga tributária alta,

São somados a fatores conjunturais como:

  1. desastres ambientais,
  2. problemas judiciais, crise na Argentina e, principalmente,
  3. incerteza elevada:
    1. com os rumos políticos e
    2. com a situação fiscal do país.

O curioso é que, do ponto de vista cíclico, temos bastante espaço para crescer. Porém, o crescimento não se dará por geração espontânea. É preciso que haja confiança nos rumos do país. Só a implementação da boa política econômica proposta pelo governo e uma condução política eficiente podem fazer isso.

Já os problemas estruturais, esses vão demandar bastante tempo e esforço. Não é tarefa de curto prazo.”

Por que a economia brasileira não cresce publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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