Thais Carrança (Valor, 02/05/19) afirma: ao atual ritmo de crescimento, a economia brasileira só voltará ao nível anterior à recessão no terceiro trimestre de 2023, quase uma década depois do início da crise, no segundo trimestre de 2014. Com a trajetória de crescimento um pouco mais otimista esperada pelo mercado para este e os próximos anos, a recuperação aconteceria no quarto trimestre de 2020, após quase sete anos.
Mesmo nessa hipótese mais otimista, será a recuperação mais lenta desde quando os ciclos econômicos começaram a ser datados, segundo estimativas dos economistas Gilberto Borça Jr., Ricardo de Menezes Barboza e Mauricio Furtado, em estudo divulgado pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômico da Fundação Getulio Vargas (Codace).
Comparando a recessão mais recente às outras oito enfrentadas pelo país desde a década de 1980, os analistas avaliam a crise atual ter como particularidades a queda contínua do Produto Interno Bruto (PIB) por quase três anos e uma lentidão na recuperação sem precedentes. Em relação às recessões na periferia da zona do euro após a crise financeira de 2008, a depressão brasileira recente é comparável às crises de Portugal, Itália e Espanha, mas menor do que a da Grécia, constatam os economistas.
Em média, as recessões brasileiras são relativamente rápidas, duram cerca de quatro trimestres, e a recuperação é relativamente breve e ocorre de maneira linear. A recessão atual, além de ser muito profunda, está durando muito: passados quase cinco anos, a economia brasileira ainda está muito abaixo do pico pré-recessão.
Conforme dados do Comitê de Datação de Ciclos Econômico da Fundação Getulio Vargas (Codace), na média das recessões brasileiras, a recuperação do PIB ao nível pré-crise geralmente ocorre sete trimestres depois de seu início. Já o nível atual do PIB, após 19 trimestres do início da contração, ainda está mais de 5% abaixo do que era no início de 2014 e 12,6% inferior ao padrão histórico de recuperação.
Além dos efeitos presentes da lenta retomada — desemprego elevado, redução do consumo, investimento público abaixo do mínimo necessário para repor o estoque de capital, entre outros –, a morosidade da recuperação pode ter efeito sobre o crescimento de longo prazo do país.
Há questões associadas ao mercado de trabalho: com o desemprego muito alto e o desalento, as pessoas perdem capacitação, então a produtividade dos trabalhadores piora. Quanto ao investimento, as plantas produtivas se depreciam, ficando defasadas tecnologicamente, o que diminui a produtividade do capital. O fenômeno, no jargão técnico, se chama histerese, quando o ciclo econômico afeta a tendência.
Isso vai minando a popularidade do governo, aumenta a dificuldade dele de aglutinar uma base aliada e pode afetar a aprovação de reformas, o que, por um canal indireto, também pode prejudicar o crescimento potencial de longo prazo. O crescimento potencial não gera pressões inflacionárias. Se ele for menor, o Banco Central terá menos espaço para manter os juros em níveis mais baixos depois de esgotada a ociosidade na economia.
As duas mais longas e profundas recessões desde a década de 1980, antes da atual, foram:
- a da crise da dívida externa, de 1981 a 1983, e
- a do governo Collor, de 1989 a 1992.
Nelas, o PIB caiu respectivamente 8,5% e 7,7%, a duração da recessão foi de nove e 11 trimestres e o tempo para o produto voltar ao que era antes foi de sete trimestres para ambas.
Na crise atual, a queda do PIB chegou a 8,2%, a duração da recessão foi de 11 trimestres e a recuperação pode levar 27 trimestres, se a trajetória de crescimento esperada pelo mercado se confirmar, ou 38 trimestres (nove anos e meio) se o ritmo de crescimento atual se manter.
Obviamente, o Focus hoje, ao menos para 2019, não reflete a realidade e estamos tão pessimistas a ponto de talvez nem o mesmo nível do ano passado a gente consiga manter neste ano. Os dois cenários de recuperação do estudo são portanto conservadores.
No boletim Focus mais recente, a projeção do mercado é de um crescimento de 1,70% em 2019 e 2,5% nos três anos seguintes. Borça aposta para esse ano em algo mais próximo de 1%, apenas repetindo 2017 e 2018 ou nem isso.
A comparação com os países da periferia europeia é relevante, segundo os analistas, pois essas são economias que não tinham à sua disposição instrumentos monetários para combater a recessão, por fazerem parte da zona do euro e não terem moeda própria. Nós temos todos os instrumentos disponíveis, embora não estejamos usando a contento. Quem defende um novo corte de juros pelo Banco Central não vê a “armadilha da liquidez” e/ou a assimetria da política monetária: um canhão para deflacionar a economia, uma espoleta para retomar o crescimento.
Já começa a surgir, porém, um debate entre economistas se um novo corte da Selic seria suficiente para devolver algum dinamismo à atividade, em meio à falta de um componente autônomo da demanda agregada que puxe a recuperação. Nesse contexto, Borça e Furtado dizem ver com simpatia a proposta de seu colega da FGV, Fernando de Holanda Barbosa, em artigo publicado no Valor.
Como uma forma de retomar o investimento público, sem piorar o quadro fiscal, Barbosa propõe o uso do recurso que virá das privatizações e do pré-sal para investimento em infraestrutura. A FGV-RJ reconhece a necessidade de se desprender de preconceitos contra os social-desenvolvimentistas e ser um pouco pragmática, face à recessão onde a atividade econômica se meteu.
A economia brasileira através das “livres forças-de-mercado” não está conseguindo sair da recessão. Por isso, devem ser objeto de maior atenção pelos economistas neoliberais. Esse debate, pelo menos até agora, foi negligenciado, mas isso parece estar mudando.
Claudia Safatle (Valor, 02/05/19) avalia: com o Estado falido e muitas incertezas sobre o futuro, o Brasil procura o caminho para um novo e duradouro ciclo de crescimento econômico. Da crise da dívida externa dos anos de 1980, quando o Brasil quebrou por estrangulamento cambial e exauriu-se o modelo de substituição de importações, até aqui essa é uma busca já durando quase quatro décadas. Houve alguns breves períodos de retomada da atividade econômica sem se sustentarem.
A série histórica mostra:
- entre 1943 e 1980 o país teve crescimento ininterrupto, com uma expansão média de 7,40%;
- passou pela “década perdida” dos anos de 1981 a 1990 com recuperação bem modesta da atividade, de 1,67% na média,
- teve uma melhora nas duas décadas seguintes, com crescimento médio de 2,63% e de 3,71, respectivamente, e
- caiu para pífios 0,59% no período seguinte, de 2011 a 2018.
Nos últimos 37 anos (de 1981 a 2018), os governos tentaram as mais diversas combinações de políticas econômicas. Houve a fase dos grandes experimentos heterodoxos: da prefixação da correção monetária e cambial ao congelamento de preços, do confisco da poupança financeira à nova matriz macroeconômica, com o aumento dos gastos públicos de forma sistemática e o crescimento desenfreado na dívida bruta como proporção do PIB.
Poucos foram os tempos de perseverança em uma política de austeridade fiscal, no segundo mandato de FHC e no primeiro mandato de Lula, entremeado por crises na oferta de energia, pelo escândalo do “mensalão” e pela crise financeira global de 2008/2009.
Há seis anos, incluindo 2019, o setor público consolidado registra persistentes e elevados déficits primários, que engordam a dívida como proporção do PIB. A dívida bruta, que correspondia a 51,27% do PIB em 2011 pulou para 78,36% nos últimos doze meses até março.
Pela primeira vez, há uma proposta de política econômica assumidamente ultraliberal (e desastrosa), concebida e afiançada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, um ideólogo da casta dos mercadores-financistas, mas professado de forma titubeante pelo presidente Jair Bolsonaro.
A eleição de Bolsonaro e a escolha de Guedes para conduzir a economia deram um impulso nos índices de confiança dos empresários e dos consumidores ignorantes a respeito do fracasso do ultraliberalismo em termos de retomada do crescimento da renda e do emprego. Simplesmente, nada faz a respeito!
A melhora desses indicadores, porém, não está se traduzindo em expansão dos investimentos e, mais recentemente, os índices de confiança começaram a cair.
O Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br), divulgado esta semana pela Fundação Getulio Vargas (FGV), avançou 8,1 pontos em abril, chegando a 117,3 pontos, o maior nível desde setembro de 2018 quando atingiu 121,5 pontos. Isso é explicado, no front interno, pela instabilidade política do governo, o atraso na reforma da Previdência e, no externo, pela guerra comercial entre EUA e China.
Não há esperança edo governo de extrema-direita reverter esse quadro. Aposta tudo em progressos nas suas relações com o Congresso e na aprovação da reforma da Previdência, em especial, no regime de capitalização para inflar uma bolha de inflação de ativos. Isso daria uma ilusão de riqueza em curto-prazo para a tentativa do capitão reacionário se reeleger.
O momento não é fácil para o governo incompetente, por causa do esgotamento fiscal. Sem ousar tributar os mais ricos e cortar as isenções aos templos dos sabidos-pastores, dificulta iniciativas anticíclicas por parte do setor público, pela elevada capacidade ociosa gerada por dois anos e meio de recessão e pelo ainda existente processo de desalavancagem do setor privado.
O país está digerindo os excessos recessivos cometidos no passado recente. Com a queda da renda, levaram a um forte endividamento das empresas e ao crônico desequilíbrio fiscal por conta da relação dívida/PIB.
Grave, também, é o encolhimento do investimento público ao longo dos anos, quando ele se tornou a variável de ajuste para o cumprimento das metas fiscais. Não é simples ter uma expansão substancial dos investimentos privados ao mesmo tempo em que é grande a contração do setor público.
No primeiro trimestre deste ano, os investimentos públicos caíram 30% em relação a igual período do ano passado, o que levou o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, a alertar para o “nível crítico” da situação fiscal em geral e dos investimentos, em particular. Curiosamente, o neoliberal era da equipe Temer e foi responsável pelo aprofundamento da recessão com a política “corta, corta”…
Apesar do quadro já ser delicado, o capitão imbecil agrega mais incertezas tanto pela sua recente e instável conversão ao neoliberalismo. Pelo populista de direita se imaginar falando em nome do “povo” (reduzido aos seguidores de seus tuítes), ele tem rompantes de ações intervencionistas, quanto pela dificuldade de obter apoio político para a aprovação das reformas, em especial a da Previdência, sem a repartição de cargos e poder com os partidos aliados.
Soma-se a isso a prática de governar por tuítes e a participação dos filhos nos assuntos de governo, além da exposição de richas com o vice-presidente, Hamilton Mourão, e com o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz. A combinação torna-se explosiva.
O fim do mais longo período de recessão no país, quando derrubou o PIB per capita em 8,3% entre 2015 e 2016, e elevou o desemprego para 13 milhões de brasileiros, empobrecendo ainda mais a população, não foi seguido de uma retomada substancial do crescimento, nem a criação de novos empregos.
O que se vê é praticamente a estagnação da economia brasileira. Ela cresceu a taxa de 1,1% nos dois últimos anos e está no mesmo nível de 2012.
Sem impulso de qualquer natureza, interno ou externo — mesmo a economia nos países desenvolvidos já começa a desacelerar, o que deverá restringir o comércio internacional — e com grandes incertezas a respeito da base de sustentação do governo, o que ocorre é uma revisão praticamente semanal das expectativa de crescimento do PIB para este ano. Chegou a ser de 2,5% no início do ano e agora é de apenas 1,7%, conforme o último relatório Focus, do Banco Central.
Justamente quando a taxa básica de juros (Selic) encontra-se em seu menor valor – 6,50% ao ano – o que, em tese equivocada face à assimetria da política monetária, deveria estimular a expansão do crédito, dos investimentos e do consumo, as perspectivas de uma retomada mais expressiva da atividade econômica ainda este ano vão ficando para trás. O que leva a questionamentos sobre se o Banco Central não deveria ousar mais na redução da Selic para ajudar o crescimento.
A missão do Banco Central, porém, é a de levar a inflação para a meta. Segundo estudos do BC, a incerteza impacta rapidamente a taxa de inflação pelos canais do prêmio de risco e da taxa de câmbio e, só num segundo momento, o canal do nível de atividade reduz os preços. Portanto, não seria o caso de simplesmente se adicionar flexibilidade à política monetária para não correr o risco de comprometer o cumprimento da meta de variação do IPCA para este ano, de 4,25%.
O programa econômico de Paulo Guedes é totalmente equivocado. Ele envolve só a reforma da Previdência. Se ela for aprovada como preconizada pelo ministro, renderia uma economia de R$ 1,2 trilhão em dez anos. Cifra suficiente para, segundo ele, implementar um novo regime de Previdência, de capitalização, onde cada trabalhador terá sua própria conta de contribuição para a aposentadoria aplicada na bolha de ações a ser explodida depois. Este modelo, na imaginação do Chicago’s Old, criaria um estoque de poupança doméstica capaz de sustentar taxas mais robustas de investimentos e consequente expansão do PIB. Ele se baseia em uma teoria econômica totalmente equivocada — e ultrapassada!
O ministro da Economia defende um amplo programa de privatizações, mas não está a claro até onde o Palácio do Planalto aprovará a venda de ativos públicos. Prepara, também, uma reforma tributária de modo a viabilizar a abertura da economia, para o setor privado doméstico competir no mercado internacional. Mas, antes de sair do governo, essa reforma já tem polêmicas.
A mudança na Previdência é a barreira inicial a ser superada, sem a qual o país poderá entrar em uma nova recessão no segundo semestre de 2020, segundo previsões de técnicos do Ministério da Economia. A equipe incompetente usa, recorrentemente, essa ameaça causada sim por sua inoperância.
“Nenhum investidor, portanto, vai expandir os seus negócios no país sem ter a garantia de uma relevante reforma ser aprovada pelo Congresso”. Esta é outra tese equivocada repetida com desconhecimento de causa por jornalistas econômicos sem formação em Economia plural.
Isso, dizem os ignorantes, dará a certeza de havera um equilíbrio das contas públicas no horizonte visível. Então, a trajetória da dívida pública será cadente a partir de 2021, com o retorno da geração de superávits primários. Ao estancar o crescente déficit previdenciário, o governo estará garantindo não dar um calote, no futuro, nos investidores financiadores a dívida pública.
Perguntinha: alguém já viu “calote no risco soberano”, tirando a época do regime de alta inflação no governo Collor e na Argentina?!
Os reducionistas idiotas (sem consciência do mal feito à própria reputação e aos demais cidadãos) afirmam a economia estar marcada por um quadro binário:
- ou se aprova a reforma da Previdência
- ou não haverá crescimento e o país viverá mais uma década perdida.
Anuncia-se, mas não se implementa, um largo espectro de mudanças microeconômicas para melhorar a política de crédito, incentivar o mercado de capitais e para desanuviar o ambiente de negócios. Esse é um pacote de medidas a ser enviado ao Congresso depois de quitada a fatura da Previdência.
Desemprego, queda nas vendas, corte do faturamento e crédito caro, com certeza, deixaram empresas sem mercado para sobreviver.
Técnicos oficiais tentaram mapear as consequências da eventual não aprovação da reforma da Previdência. O desemprego, atualmente de 12%, cresceria para a casa dos 15%, o brasileiro ficaria mais pobre, a taxa de juros básica (Selic) seria aumentada para a faixa de 18,5% ao ano e o país perderia, em média, 2,9% de PIB nos próximos cinco anos. A dívida bruta do governo geral cresceria sistematicamente até atingir 102% do PIB em 2023.
Com a aprovação da reforma, a cena seria outra: o país poderia abrir 8 milhões de novos empregos até 2023, a taxa de juros básica poderia cair para 5,6% ao ano e a dívida do governo cairia para 76,1% do PIB.
Alguém bem informado (e formado) acredita nessa ameaça pueril, onde se sequestrou a inteligência nacional?!
Nem tudo no passado foi desastroso. O Brasil quebrou mais uma vez em 1998, por crise no balanço de pagamentos, e no ano seguinte adotou a política do tripé macroeconômico, com superávit das contas públicas, câmbio flutuante e o regime de metas para a inflação.
A estabilização da inflação e a política social-desenvolvimentista garantiram ao país um longo período de expansão moderada do PIB: média de 3,47% (1993 a 2008). Durante esse tempo, que abarcou o governo FHC e o primeiro mandato de Lula, houve progressos na economia decorrentes de reformas estruturais e de gestão macroeconômica consistente.
A crise global de 2008/2009 produziu uma rápida recessão no Brasil. Ao reagir com presteza e tendo um bom conjunto de política econômica, voltou a crescer, dessa vez de forma acelerada e com limitada capacidade de oferta. Em 2010, o PIB aumentou 7,5% e embalou as eleições de Dilma Rousseff como sucessora de Lula.
Os sinais de desleixo com as contas públicas, devido à política keynesiana anticíclica, já vinham sendo emitidos desde 2008/09. Eles se consolidaram e extrapolaram as marcas da responsabilidade fiscal a partir de 2013. Nesta narrativa a jornalista não fala nada a respeito da grande seca (2012-2016) e a inflação de alimentos, reagida com absurda alta da taxa de juros!
“O governo de então buscou no aumento do gasto público o motor do crescimento. O desequilíbrio das finanças se agravou e deu a razão formal para o “impeachment” da presidente Dilma, por “pedaladas” na contabilidade fiscal. Se cometidas no setor privado, seriam consideradas crime de gestão temerária.”
A imprensa golpista repete cotidianamente essa mentira com a ânsia de transformá-la em verdade para o público leitor desavisado de uma análise alternativa. Não há um debate plural na mídia brasileira e, por isso, o País se afunda cada vez mais com a mesma ladainha neoliberal.
Michel Temer, vice presidente, assumiu o comando do país com um diagnóstico neoliberal e propostas firmadas na “Ponte para o Futuro“. Este documento, redigido pelo Marcos Lisboa e avalizado pelo Delfim Neto, era praticamente um consenso entre economistas neoliberais como uma base para a recuperação da atividade produtiva. Foi uma “pinguela para o passado”…
Nos primeiros meses do governo Temer, o Congresso aprovou a proposta de emenda constitucional (PEC) que instituiu o teto para o crescimento do gasto público. Quando a segunda PEC, da reforma da Previdência, iria ser submetida ao plenário da Câmara, em maio de 2017, foi divulgado o teor da gravação onde o dono da JBS, Joesley Batista, fez de uma conversa “não-republicana” com o presidente da República.
Nela, Temer teria recomendado ao empresário que continuasse a comprar o silêncio de Eduardo Cunha, então presidente da Câmara e preso pela Operação Lava-Jato. Cunha havia acolhido o processo de impeachment de Dilma. Ali, acabaram as energias políticas de Temer para aprovar a reforma da Previdência. Ele passou a governar para não ser afastado do cargo tal como sua antecessora havia sido.
De todas as experiências passadas, a mais bem sucedida e que deveria ser resgatada, é a da perseverança na gestão fiscal responsável. Esta orientou o segundo mandato de FHC e o primeiro de Lula, capaz de produzir superávits primários para a relação dívida/PIB ficar em um patamar sustentável. “O programa econômico de Guedes vai nessa direção com profundas reformas estruturais”, afirma a desavisada jornalista.
A ideologia única do neoliberalismo propagado recorrentemente sem nenhum contraponto plural está afundando cada vez mais o País. Desde quando satisfazer rentistas em suposta segurança da relação dívida/PIB resolverá o problema da economia brasileira?!
Só se retomar o crescimento do PIB (e do emprego) renascerá a esperança!
Exemplo da carência de debate plural na área econômica pode ser visto com apenas a publicação de artigos de economistas neoliberais e veto/censura aos de economistas social-desenvolvimentistas.
Por exemplo, o Valor (02/05/19) publica artigo ideológico do Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, sem nenhum contraponto crítico! Depois de recitar sua ladainha usual com o lugar-comum típico de sua ideologia, termina com a seguinte frase: “o pior que poderia acontecer seria uma eventual perda da serenidade que levasse a tentativas anacrônicas de ressuscitar o nacional-desenvolvimentismo“.
Ora, simplesmente, insiste em mais do mesmo! Por esse neoliberalismo, desde os anos 80, perde-se décadas e a economia brasileira continua estagnada!
Confira abaixo a ladainha neoliberal sem nenhuma novidade:
“A divulgação de dados sobre atividade econômica no Brasil tem ensejado uma nova e deprimente rodada de revisões baixistas nas projeções de crescimento. O consenso do mercado, compilado pelo Banco Central, para o crescimento do PIB em 2019 apontava para 2,6% ao final do ano passado, e está próximo a 1,7% atualmente (o Itaú espera 1,3%). Esperamos uma leve queda do PIB no primeiro trimestre, contra o anterior, número que deve ser divulgado no final de maio. Caso nossa projeção seja confirmada, a economia precisaria acelerar para 0,6% ao trimestre (cerca de 2,4% em termos anualizados), para atingir a
projeção de 1,3%. É verdade que as perspectivas para a economia mundial também pioraram, a julgar pelas projeções do FMI, de 3,5% para 3,3%, mas a redução foi menor do que a observada para o Brasil.
Há várias possíveis explicações, não necessariamente excludentes, tanto conjunturais quanto estruturais, para esse desapontamento com a evolução da atividade. Uma delas é que estaríamos basicamente sentindo os efeitos defasados dos choques de 2018: a paralisação no setor de transportes, a recessão argentina e, principalmente, o aperto das condições financeiras observado no período de maior incerteza eleitoral. Como os efeitos da elevação das taxas de juros de mercado demoram a impactar plenamente a atividade econômica, essa explicação ainda é plausível, mas vai deixar de ser caso a estagnação econômica se prolongue muito. Há também fatores climáticos que podem estar prejudicando o setor agropecuário e a geração de energia, mas seus efeitos tendem a ser limitados.
Outra vertente de explicações está associada à crise fiscal brasileira. No âmbito federal, a incerteza sobre o progresso das reformas, em especial a crítica reforma da Previdência, ajuda a travar os investimentos e os gastos de consumo de valor elevado. Em escala subnacional, o ajuste fiscal forçado que se observa em certos Estados e municípios, com atrasos seletivos no pagamento de aposentados, funcionários e fornecedores, tem impacto direto sobre a atividade. E há também o reposicionamento dos bancos públicos, que é parcialmente compensado pela intensificação da atividade no mercado de capitais local – ainda que existam também sinais de fraca demanda por crédito.
Há também aspectos setoriais, que retardam a retomada da indústria de construção (que responde por cerca de 4% do PIB), bem como do segmento de infraestrutura.
É possível, também, que, além de fatores conjunturais, estejamos experimentando os custos de um processo de transição estrutural. O modelo de economia fechada, com forte e disseminada presença do Estado – ao abrigo de uma interpretação generosa do artigo 173 da Constituição de 1988, que estabelece a preeminência do setor privado na condução de atividades econômicas – contribuiu para a perda de dinamismo observada desde os anos 1980, e mostrou seu esgotamento aparentemente terminal na profunda crise fiscal de 2015-16.
A economia iniciou uma transição para um modelo em que o Estado tende a ceder espaço para o setor privado na exploração direta de atividades econômicas, voltando-se para a atuação regulatória e normativa prevista no artigo 174 da Carta fundamental. A julgar pelas declarações das autoridades, o governo irá, também, trabalhar para aumentar o grau de inserção da economia, usualmente a mais fechada entre os membros do G-20, nas correntes globais de comércio.
Outra transição refere-se ao ambiente de taxa de juros. A Selic atingiu o mínimo histórico em março de 2018, e já está há 22 meses em um dígito – um recorde desde o início do Plano Real. A redução das rendas de investimentos pode estar ocasionando certa contenção de gastos por parte de poupadores – os rentistas estariam reagindo ao novo ambiente de forma conservadora, cortando gastos, antes de empreender. Tendo em vista a prolongada estagnação econômica, há um debate sobre a existência de algum espaço para o Banco Central adicionar estímulo à economia, caso a persistência de patamares amplos de ociosidade, notadamente no mercado de trabalho, indique que a convergência da inflação para a trajetória de metas pode vir a tardar mais do que o esperado. Mas, dado o patamar corrente da taxa Selic, qualquer estímulo adicional deve ser ministrado com cautela e parcimônia.
A multiplicidade de explicações sugere que dificilmente teremos uma iniciativa de política econômica isolada que vá tirar a economia da estagnação – não há bala de prata. Tomando emprestado o mantra de nossas autoridades monetárias, será preciso cautela, serenidade e perseverança para superar essa conjuntura. Avanço na agenda de reformas, notadamente da Previdência, mas também a agenda de desestatização e abertura, mais esforço para desatar alguns nós setoriais, bem como alguma ajuda extra da política monetária, devem finalmente acelerar a recuperação. O pior que poderia acontecer seria uma eventual perda da serenidade que levasse a tentativas anacrônicas de ressuscitar o nacional-desenvolvimentismo.”
Faltou acrescentar: esse nacional-desenvolvimentismo foi responsável pelo Brasil ter a maior taxa de crescimento no século XX até 1980! Confira os números acima.
Esgotamento do Neoliberalismo, Necessário Retomar o Social-desenvolvimentismo! publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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