Talita Moreira (Valor, 17/05/19) informa: o futuro não muito distante sem cartões de plástico e maquininhas vai transformar as bandeiras em empresas de tecnologia. A Mastercard já se posiciona dessa forma, afirma Gilberto Caldart, brasileiro que, há quase um ano, assumiu a presidência da divisão internacional da companhia, responsável pelas operações da companhia fora da América do Norte.
“Nossa visão é ser empresa de tecnologia de meios de pagamentos, capaz de conectar qualquer conta a qualquer conta”, diz o executivo, que conversou com o Valor durante visita ao Brasil. “O cartão é apenas um formato que a gente usa para isso.”
É uma missão mais abrangente em relação ao papel histórico das bandeiras de cartões de:
- validar as compras nas maquininhas e
- criar ecossistemas de pagamentos em torno de suas marcas.
Agora, há uma série de modelos convivendo simultaneamente – do tradicional POS a carteiras virtuais, passando por soluções mais simples, como o QR Code, em países da África. Em paralelo, estão em desenvolvimento sistemas de pagamentos instantâneos em diversos países, como o Brasil. O mercado em geral está indo na direção de oferecer opções.
No caso da Mastercard, uma das grandes apostas são os pagamentos por aproximação. Eles estão ganhando relevância sobretudo em mercados mais desenvolvidos. A companhia tem fomentado o uso desse modelo em países como Canadá, Austrália e Polônia. A bandeira atua em 150 projetos para uso da tecnologia em sistemas de transportes urbanos — caso do metrô londrino.
No Brasil, a adoção ainda é baixa porque boa parte dos cartões não tem a tecnologia NFC. Ela viabiliza as operações por aproximação. Porém, o sistema deve ganhar escala, uma vez que grande parte das maquininhas está habilitada e surgem novos casos de uso em transportes.
Maior concorrente da Mastercard, a Visa anunciou neste mês uma parceria com a MetrôRio, concessionária do metrô do Rio. Ele aceitará o pagamento de passagens com cartões de crédito da bandeira. A credenciadora Cielo é a responsável pela aceitação dos cartões.
Enquanto os pagamentos sem contato ainda avançam no país, outra frente de atuação da Mastercard é a chamada “tokenização” dos cartões. Com a tecnologia, a bandeira identifica o usuário e autentica as transações sem a necessidade do número do cartão – ele é convertido em um token novo a cada compra.
A expectativa é a tecnologia ser dominante nos maiores emissores e varejistas em até três anos. Você coloca o número do cartão em centenas de lugares. Vão transformar todos em tokens. Vamos parar de ouvir o cartão ter sido clonado.
Flávia Furlan (Valor, 17/05/19) informa: sem a clareza de qual será o modelo dominante de pagamentos no futuro, a plataforma de transações on-line americana PayPal, co-fundada pelo bilionário Peter Thiel, tem usado seu robusto caixa para comprar participações em empresas que atuam em diversas frentes de negócios.
A ideia é ampliar a exposição a diferentes produtos, estratégias e regiões. A América Latina e o Brasil estão entre as prioridades dessa agenda. Ela recebeu autorização do Banco Central (BC) para atuar como instituição de pagamento.
A forma como nos relacionamos com os pagamentos deve mudar mais nos próximos três anos do que mudou nos últimos 20.
Fundado no fim dos anos 90 e pioneiro em pagamentos on-line, o PayPal foi comprado quatro anos depois pelo site de comércio eletrônico eBay, sendo separado em 2015. Dados do primeiro trimestre deste ano mostram a empresa ter em caixa o equivalente a cerca de US$ 9,5 bilhões. A empresa tem a intenção de gastar US$ 3 bilhões por ano em aquisições.
As compras dos mais variados tipos de negócios têm ficado mais evidentes desde o ano passado. No total, foram quatro contratos fechados, sendo o mais valioso o da empresa de pagamentos sueca IZettle por US$ 2,2 bilhões, no ano passado. Com ela, o PayPal entra no negócio de adquirência, responsável por cadastrar os varejistas para aceitar pagamentos.
Neste ano, foi anunciada a compra por US$ 750 milhões de uma fatia no Mercado Livre. Este desenvolveu a carteira digital Mercado Pago e tem forte atuação na América Latina. Os grupos de trabalho com representantes de ambas as empresas estudam a melhor sinergia para as operações. O PayPal aportou ainda outros US$ 500 milhões no Uber, para atuar em “negócios disruptivos”.
Há espaço para mais aquisições e oportunidades no Brasil fazem sentido. Busca uma base de cliente engajada e diferentes setores, de inteligência artificial a microcrédito.
Olhando para o futuro, é difícil prever quais tecnologias vão se destacar, embora compras via QR Code estejam ganhando espaço, assim como o uso do blockchain. É preciso considerar as particularidades de cada mercado. Um exemplo: no Brasil, um quarto das compras no comércio eletrônico ainda é feito por boleto bancário.
O PayPal vê o Brasil como uma das fronteiras para o crescimento, ao contrário de Estados Unidos, Austrália e Inglaterra, onde a operação está mais madura. No Brasil, há 70 milhões de compradores digitais, enquanto a empresa tem 4 milhões de usuários ativos. No mundo, são mais de 270 milhões. Esse potencial se sobressai diante do cenário político e econômico. Este é preocupante.
Em relação ao ambiente para os pagamentos no Brasil, está cada vez mais competitivo. No entanto, a companhia vê com bons olhos a atuação do BC. O regulador autorizou o PayPal a funcionar como instituição de pagamento, na modalidade emissor de moeda eletrônica, resposta que a empresa esperava há cinco anos.
Com isso, a empresa poderá gerenciar conta de pagamento do tipo pré-pago, na qual os recursos são depositados previamente. Não existe nenhuma mudança imediata na operação. Tudo isso só reforça o fato de encarar o Brasil como uma das grandes potências para a empresa.
Futuro do Sistema de Pagamentos no Varejo publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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