Nos três capítulos anteriores, Atif Mian e Amir Sufi avaliaram as políticas em potencial possíveis de os governos implementar quando ocorrer uma crise de perdas alavancadas. Salvar os bancos a qualquer custo é contraproducente.
A política monetária e a política fiscal ajudam, mas são inferiores a um ataque direto à dívida das famílias. Este é, afinal, o principal problema nos Estados Unidos – não no Brasil. Aqui, o problema maior é a alavancagem financeira das empresas não-financeiras. A reestruturação da dívida impulsionará de maneira mais eficaz uma economia em dificuldades.
Embora seja útil discutir quais políticas econômicas são melhores, quando ocorre uma crise, essa discussão ignora ‘o enorme elefante na sala’. Se aprendemos alguma coisa sobre política nos últimos anos, devemos saber como os conflitos partidários envenenam governos durante severos contrações econômicas.
Quando é mais necessária, a política econômica a ser aprovada pelo Congresso Nacional se torna inviável politicamente. Aqui, no Brasil golpista, lembre das “pautas-bombas” para sabotar todas as políticas públicas enviadas pelo Poder Executivo para o Poder Legislativo.
Por exemplo, o eleitorado nos Estados Unidos tornou-se extremamente polarizado durante a Grande Recessão. O surgimento de grupos como o movimento Tea Party e o Occupy Wall Street exemplificam uma tendência mais ampla: durante o coração da Grande Recessão, a fração da população nos Estados Unidos autodenominada “moderada” despencou. A polarização política lá, como aqui, expandiu a intolerância.
Em pesquisa com Francesco Trebbi, Atif Mian e Amir Sufi mostraram como a polarização política nos Estados Unidos nos sete anos anteriores a 2014 foi a regra, não a exceção. Depois, com a eleição de Donald Trump agravou muito.
Mais especificamente, os coautores examinaram a polarização política após as crises financeiras de 1981 a 2008 em setenta países. Quando uma crise se materializa, a fração da população autodenominada centrista cai acentuadamente. Em seu lugar, há um grande aumento na participação de extremistas, tanto à esquerda quanto à direita.
Por sua vez, as crises financeiras movem os sistemas políticos em direção a legislaturas e cenários políticos mais fragmentados. Governos são menos capazes de formar coalizões viáveis. A desintegração política se torna a norma.
Mesmo se todos os economistas do mundo concordassem com as políticas corretas, não poderiam contar com os governos para adotá-las. O desastre do Teto da Dívida do verão de 2011, o sequestro de 2013, o fracasso do governo dos EUA em implementar qualquer legislação significativa nos últimos anos: essas não são exceções, mas representam como o governo se torna impotente, politicamente, quando a economia entra em colapso.
Não podemos confiar nas autoridades para implementar com agilidade as políticas corretas quando ocorrer uma recessão com perdas alavancadas. De alguma forma, precisamos estabelecer mecanismos capazes de ajudarem, automaticamente, a economia a responder quando os preços dos ativos caírem.
A dívida é um instrumento horrível por causa de sua inflexibilidade: requer intervenção governamental, após o fato de entrar em fase de desalavancagem financeira, para ajudar a distribuir de maneira mais igualitária as perdas associadas a um crash pós-boom. Por causa da polarização política, essa intervenção é improvável. Logo, o tempo, a energia e os recursos desperdiçados na luta pela reestruturação da dívida podem ser demasiadamente caros.
No próximo e último capítulo, Atif Mian e Amir Sufi argumentam: o ciclo vicioso de perdas alavancadas só pode ser quebrado se alterarmos fundamentalmente a maneira pela qual as famílias se financiam. Precisamos ter mecanismos capazes de nos ajudarem a evitar crises de perdas alavancadas em primeiro lugar. Só podemos apreciar os frutos do sistema financeiro se nos afastarmos de um sistema tão dependente de dívidas.
A leitura desse livro contribui para fazer analogias com o estudo do caso brasileiro. Ele é diferente por a crise de desalavancagem financeira ter atingido às empresas não-financeiras, ou seja, Pessoa Jurídica em lugar de Pessoa Física. Posteriormente, a pandemia atinge, gravemente, as ocupações, tanto formais, quanto informais, das pessoas. A desocupação generalizada não permite enxergar, brevemente, uma normalização e, depois, um novo ciclo de endividamento, com a retomada de alavancagem.
Nosso caso parece ser, mais uma vez, o caso de uma intervenção governamental direta nos investimentos e na produção, via empresas estatais e bancos públicos, sem afastar a possibilidade de Parceria Público-Privada. Buscar a superação dos erros anteriores.
Paralisia Política Devido à Polarização Intolerante publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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