A diferença de salários entre demitidos e admitidos no mercado de trabalho formal aumentou nos últimos meses de 2019. Esse é um sinal de, apesar da melhora na geração de empregos com carteira assinada no ano passado, ainda não há pressão no mercado de trabalho. Na leitura oficiosa de O Mercado, deve contribuir para um cenário inflacionário tranquilo em 2020, reforçando a hipótese de ainda haver espaço para mais corte de juros pelo Banco Central. O Mercado está comprado em dólares e ganhará com a depreciação da moeda nacional face à paridade zerada entre juros reais interno e externo.
Conforme série com ajuste sazonal pelo Itaú Unibanco, a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em dezembro, o salário médio de admissão no país estava em R$ 1.573, comparado a um salário médio de demissão de R$ 1.785, uma diferença de R$ 212. Esse intervalo estava em R$ 209 em novembro e em R$ 177 em outubro, o que mostra tendência de aceleração da distância nos dados mais recentes.
Em 2019, foram abertas 644,1 mil vagas com carteira de trabalho assinada, acima das 529,6 mil criadas em 2018. Esses números consideram o dado ajustado para incluir informações enviadas com atraso pelas empresas.
O contrato intermitente, modalidade criada pela reforma trabalhista, explicou parte razoável da melhora do emprego formal em 2019, em relação a 2018. O saldo de empregos intermitentes foi de 85,7 mil vagas em 2019, contra 51,2 mil no ano anterior, crescimento de 34,5 mil. Assim, das 114,5 mil vagas com carteira geradas a mais em 2019, 30% são explicadas pelo emprego intermitente, no qual o trabalhador fica contratado, mas pode ser chamado ou não para trabalhar. Esses empregos também costumam ter menor remuneração.
A composição dos setores mais geradores de vagas é outro fator explicativo o melhor resultado do mercado de trabalho em 2019, apesar da expectativa de desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) parecido nos dois anos – em 2018, houve uma expansão de 1,3%, enquanto o consenso dos analistas aponta para uma alta de 1,2% em 2019.
No ano passado, a construção civil e o comércio foram os grandes destaques na criação de vagas formais, com 71 mil postos e 145 mil respectivamente, contra 18 mil e 102 mil em 2018. São justamente setores muito empregadores. Quando você aumenta a atividade no comércio e na construção, a alta do emprego em geral costuma ser bastante próxima. Ambos os setores têm sido impulsionados pela queda do juros e pela maior oferta de crédito.
Devem ser necessários ainda dois anos para o país recuperar o estoque de vagas com carteira anterior à recessão. Entre 2015 e 2017, o Brasil fechou 2,9 milhões de empregos formais. Já em 2018 e 2019, foram abertas 1,2 milhão de vagas. O estoque de empregos formais era de 41 milhões em 2014, fechou o ano passado em 39 milhões. Assim, seriam necessários dois anos gerando cerca de 1 milhão de empregos para retomar o patamar pré- crise.
A inflação deve contar com uma ajuda extra neste ano, além da ociosidade na economia, inibidora de reajustes de preços livres, e da dissipação do choque de proteínas. Economistas também veem um cenário bastante tranquilo para as tarifas administradas. Elas aumentaram 5,5% no ano passado e, em 2020, devem desacelerar para cerca de 3,5%. Esse é um dos fatores capazes de fazer com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subir abaixo a meta, de 4%.
Com participação de cerca de 25% no IPCA, fazem parte dos preços administrados itens como gasolina, diesel, energia residencial, plano de saúde, medicamentos, transporte público, água e esgoto e gás, entre outros. Em comum, todos têm correções determinadas ou influenciadas por órgãos públicos, sem relação com as condições de oferta e demanda, segundo definição do Banco Central.
Neste ano, o principal alívio deve vir da tarifa de eletricidade residencial, que tem peso de 4,1% no IPCA, diz ela. Em seus cálculos, as contas de luz vão subir apenas 2% dentro do indicador, vindo de avanço de 5% em 2019. Em setembro, foi quitado antecipadamente o empréstimo bilionário chamado “conta-ACR”, cobrado dos consumidores desde 2014, quando distribuidoras enfrentavam dificuldades financeiras devido à crise hídrica.
Sobre a crise hídrica do Estado do Rio, confira o gráfico abaixo e reflita sobre a carência de investimentos públicos em infraestrutura urbana.
Em evidência por causa de alterações de qualidade na água distribuída no Rio de Janeiro, a degradação dos mananciais hídricos que abastecem o Sistema Guandu reflete o desequilíbrio social e econômico entre a capital e a periferia de sua região metropolitana. Entre 1940 e 2018, a população da Baixada Fluminense – onde estão alguns do municípios que mais despejam esgoto na Bacia do Rio Guandu – cresceu pouco mais de 20 vezes. Passou de 184,2 mil para 3,87 milhões de habitantes.
A urbanização não ocorreu na mesma velocidade. Segunda cidade mais populosa da região, Nova Iguaçu tinha apenas 4% de sua população urbana atendida por serviços de coleta e tratamento de esgoto em 2013, de acordo com os dados mais recentes disponíveis da Agência Nacional de Águas (ANA). Em Seropédica, esse percentual era nulo. Já na capital fluminense, a porcentagem estava em 66,2%.
A estação de tratamento de águas tem capacidade para atender 9 milhões de pessoas, o que representa quase 70% da população da região metropolitana do Rio de Janeiro. Antes de ter parte de sua vazão captada para tratamento, o Rio Guandu recebe água transposta do Paraíba do Sul, que, por sua vez, já foi contaminado a esta altura por resíduos dos Estados de São Paulo e Minas Gerais.
Em 1955, quando foi inaugurada a Estação de Tratamento de Água do Guandu, a população da Baixada Fluminense era inferior a 1 milhão de habitantes. Sessenta e três anos depois, em 2018, esse total era de 3,87 milhões de pessoas. A urbanização acelerada da região – principalmente entre 1940 e 1980 – foi impulsionada pela migração inter-regional em direção à capital fluminense.
No Estado do Rio de Janeiro, as primeiras levas de migrantes mais pobres se estabeleceram em favelas enquanto as ondas seguintes se instalaram na Baixada Fluminense, lembra Mauro Osorio. A urbanização deficiente, no entanto, é resultado de um conjunto mais amplo de fatores.
A crise é estrutural: desde a década de 1970 o Rio de Janeiro foi o Estado brasileiro que menos cresceu economicamente. A periferia da região metropolitana do Rio de Janeiro é, de longe, a região mais precária, entre todas as periferias metropolitanas do Sul e Sudeste.
O fato de a cidade do Rio sediar a capital federal até 1960 e, posteriormente, o Estado da Guanabara também contribuiu para concentrar investimentos públicos na cidade do Rio de Janeiro. Até 1975, quando foi extinto o Estado da Guanabara, todo imposto arrecadado na cidade ficava na cidade. A área ocupada pelo antigo Estado da Guanabara corresponde à do município do Rio de Janeiro.
A Baixada Fluminense não foi prioridade dos governos estaduais nas últimas décadas após a redemocratização do país (1985). Esse abandono tem um custo ambiental para a capital e para o Estado como um todo. Na região, prevalece um ambiente político dominado por algumas famílias que ascenderam a partir do apoio ao regime militar nas décadas de 1960 e 1970. Na capital, o que se vê é uma maior alternância de grupos políticos no poder.
E não adote a ideologia neoliberal predominante em O Mercado de tudo culpar O Estado. Mais da metade dos 12,4 milhões de funcionários públicos brasileiros trabalha em prefeituras, aponta estudo inédito elaborado para a Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público.
Intitulado “O Lugar do Funcionalismo Estadual e Municipal no Setor Público Nacional (1986-2017)”, o estudo mostra que o número de servidores nas prefeituras aumentou de 1,7 milhão para 6,5 milhões no período analisado. Nos Estados, a elevação foi de 2,4 milhões para 3,7 milhões. E na esfera federal a expansão foi de 1 milhão para 1,2 milhão.
Apesar da expansão, sustenta o estudo, o emprego público não cresce de forma descontrolada. Num período de análise mais curto, de 1992 a 2017, os empregados do setor público passaram de 9% da população economicamente ativa para 11%, “desautorizando interpretações que insistem em falar em movimento explosivo do emprego público no Brasil”.
A expansão do emprego no setor público ocorreu em sintonia com o número de empregos no setor privado. Em 1986, 3,8% da população tinha vínculos de trabalho com o setor público, e 20,2%, com o setor privado. Em 2017, eram 5,5% e 25,5%, respectivamente.
Para “desmistificar” outro argumento em favor da reforma administrativa, o estudo minimiza a expansão das despesas de Estados e municípios com folha salarial. Admite ter havido crescimento real, de 55% e de 78%, respectivamente, entre 2006 e 2017. Mas aponta relativa estabilidade no gasto como proporção do Produto Interno Bruto (PIB). Passaram de 3,1% para 3,8% do PIB nos municípios e de 3,95% para 4,25% do PIB nos Estados.
Em 2019, a aprovação da reforma da Previdência por um governo sem base legislativa foi um feito devido à campanha de terrorismo econômico. O apoio do Congresso à necessidade de fazer a reforma neoliberal da economia para supostamente superar a crise explica o fenômeno. O resultado imediato é quase 2 milhões de pessoas na fila do INSS.
Por fim, nesta análise da conjuntura com base em fatos e dados, cabe uma olhada para as relações externas. O ministério de Relações Exteriores está sob o comando de um ideólogo imbecil como os demais do “primeiro escalão”.
O déficit em conta corrente atingiu em 2019 o maior nível em quatro anos. A diferença entre o que o país gastou e o que recebeu nas transações internacionais relativas a bens, serviços e rendas ficou em US$ 50,7 bilhões no ano passado, conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). A quantia é equivalente a 2,76% do PIB.
Em 2018, o déficit havia sido de US$ 41,5 bilhões (2,22% do PIB). Apesar desse crescimento, economistas destacam que a perspectiva para as contas externas em 2020 segue confortável, já que os investimentos diretos no país (IDP) continuarão financiando com folga o saldo de transações correntes.
Esse aumento [do déficit entre 2018 e 2019] decorreu fundamentalmente do resultado do balanço comercial brasileira”, disse o chefe do departamento de estatísticas do Banco Central (BC), Fernando Rocha, em entrevista coletiva. Puxado principalmente pela queda de US$ 15,1 bilhões das exportações, o superávit comercial recuou de US$ 53 bilhões em 2018 para US$ 39,4 bilhões em 2019.
Outro fator para a explicar o crescimento do saldo negativo em conta corrente é uma revisão metodológica realizada pelo BC durante o ano passado. Em novembro, para calcular os lucros de investimento direto, a autoridade monetária passou a usar informações da pesquisa Capitais Brasileiros no Exterior (CBE) e do Censo de Capitais Estrangeiros no País, considerados mais atualizados. Com isso, na ocasião o déficit acumulado em 12 meses subiu de 2,05% para 2,67% do PIB.
O último ano quando o déficit em conta corrente ficou acima do patamar de 2019 foi em 2015, quando atingiu em US$ 54,4 bilhões (3,03% do PIB). O saldo das transações em conta corrente é um dos principais indicadores de vulnerabilidade externa de uma economia. Apesar do crescimento visto em 2019, o déficit segue menor do que o IDP. Esse fluxo, voltado para atividades produtivas, somou US$ 78,5 bilhões em 2019, o equivalente a 4,27% do PIB.
Esse tipo de investimento registrou, portanto, uma pequena alta em relação aos US$ 78,1 bilhões (4,18% do PIB) de 2018. Por estarem menos suscetíveis a crises internacionais, esses recursos são considerados uma fonte mais estável de financiamento externo.
Os preços médios das importações brasileiras caíram no ano passado, o que pressionou para baixo o valor total das compras externas do país. Em 2019, elas somaram US$ 177,3 bilhões, um recuo de 2,1% em relação ao total importado em 2018. Desmembrando por preço e quantidade, os desembarques totais na verdade cresceram 2,4% em volume, enquanto as cotações tiveram baixa de 4,5%, segundo dados da Fundação Centro de Estudos para o Comércio Exterior (Funcex). Em queda, os preços de importação contribuem para ajudar a manter a inflação em níveis baixos.
O recuo de preços foi generalizado. Dos 30 segmentos de atividade que a Funcex acompanha, somente em sete não houve queda das cotações no ano. O aumento de volume também não foi isolado. Dos mesmos 30 setores, houve elevação de quantidades desembarcadas em 20.
O fluxo cambial no início de janeiro registrou um comportamento parecido com o do mesmo período de 2019, ano marcado pela maior saída de dólares do Brasil da série histórica do Banco Central, iniciada em 1982.
O ciclo de cortes que levou a Selic para as mínimas históricas também deve dar sobrevida a outra dinâmica vista no ano passado: a saída do estrangeiro da renda fixa. Em 2019, essa linha teve saída acumulada de US$ 4 bilhões.
Os dados do fluxo comercial, mais especificamente, mostram os exportadores continuarem mantendo receitas no exterior, um indício de o processo de pré-pagamentos de dívidas no exterior ainda não ter acabado. Essas contas, ao responderem a um diferencial de juros menor, continuam apresentando saída. Há um estoque de US$ 116 bilhões das empresas não-financeiras mantidos no exterior, bem como outros US$ 251 bilhões em empréstimos intercompanhia.
Em 2019, o Investimento Brasileiro Direto (IBD) no exterior chegou a US$ 22,1 bilhões, um salto em relação aos US$ 2 bilhões do ano anterior. Já as aplicações em portfólio passaram de US$ 0,5 bilhão para US$ 15,2 bilhões no mesmo período. Não é só repatriamento de capital estrangeiro, mas também fuga de capital feita por brasileiros. Quem se arrisca a ficar em um país onde governa um sujeito totalmente desqualificado para o cargo?!
A depreciação da moeda nacional poderá incentivar as exportações brasileiras, embora as perspectivas de exportação do petróleo tenham piorado. Ela já representa o segundo produto na pauta de exportações.
O que sugere essa análise dos fundamentos macroeconômicos da economia brasileira? Gritar “socorro” ou fugir daqui?
O último capitalista a fugir do Brasil apague a luz do aeroporto… publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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