quinta-feira, 9 de maio de 2019

Taxa de Juros Real Negativa e Aposta em Bolha de Ações inflada pelo Regime de Capitalização

O nível negativo (abaixo da taxa de inflação) da taxa de juro real impulsiona investidoras saírem da renda fixa com risco soberano para investirem em renda variável com alto risco. Se houver um choque de demanda por ativos, no caso, ações, para atender às carteiras dos Fundos de Previdência Privada Complementar, os especuladores ganharão em curto prazo. Depois do estouro da bolha artificial, os futuros aposentados não terão recursos para custear suas necessidades básicas, tal com no Chile dos Chicago’s Boys.

Adriana Cotias (Valor, 02/05/19) informa: a bolsa despontou como um dos ativos de melhor desempenho em abril de 2019 dentre as aplicações financeiras. Os estrategistas de investimentos ainda acreditam: quem partir para a diversificação com uma parcela da carteira em ações será premiado.

Porém, não é hora de colocar todas as fichas nesse tipo de risco porque até a reforma da Previdência ser aprovada com Regime de Capitalização substituindo o Regime de Repartição, para os trabalhadores de renda superior ao teto do INSS, é de se esperar muito vaivém de cotações. A recomendação é tomar o mesmo passo dos gestores profissionais e deixar um pouco mais dinheiro em caixa, ou seja, em aplicações atreladas ao CDI ou à Selic, para aproveitar eventuais oportunidades.

No mês passado, foi do índice de dividendos, reunindo empresas reconhecidas pela distribuição de resultados, a melhor performance, com ganhos de 3,09%, seguido pela carteira com ações do setor imobiliário (1,67%) e pelo índice de small caps (1,66%), de companhias de menor capitalização na bolsa.

O Ibovespa, principal termômetro do mercado acionário brasileiro, subiu 0,98% e acumula no ano ganhos de 9,63%. Na renda fixa, destaque para o IMA-B, que representa uma cesta de papéis atrelados à inflação, com valorização de 1,51% em abril e 7,13% no ano.

Em meio a tantos ruídos no campo político dá para dizer que foi um resultado puramente especulativo. Para quem tem dinheiro novo, pode até comprar bolsa, mas devagar. Na medida do possível, é melhor carregar pouco risco e acompanhar de perto os movimentos. Não fazer todo o investimento agora, colocar ao longo do tempo e reservar mais caixa para esperar um momento melhor.

A euforia observada no começo do ano por achar o livre-mercado ter triunfado sobre todos e tudo, deu lugar a um certo choque de realidade com o péssimo governo. A partir de agora, os ativos vão depender de coisas mais concretas para avançar. “A expectativa era o governo ser ágil e aprovar tudo rapidamente. Não é bem assim.” Pior, os preços já estão perto das suas máximas.

Na renda fixa, é preferível as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) e os prefixados mais curtos para o investidor não ficar muito exposto às oscilações. No Tesouro Direto, o Tesouro IPCA+ 2024 assegurava taxa de 4,11% mais a inflação, enquanto o Tesouro Prefixado com resgate em 2022 sinalizava 7,77%, ante 6,5% da atual Selic, base da remuneração de LFT.

Se a taxa básica da economia ficar congelada no nível atual, o investidor garante um retorno melhor por mais tempo em prefixado. No boletim Focus, a taxa esperada para o fim de 2020 é de 7,25% ao ano.

No curto prazo, a bolsa é o ativo com mais chances de alta se a reforma da Previdência não sofra diluições drásticas, descartando totalmente o regime de capitalização. O juro real terá condições de cair mais abaixo de zero, enquanto a moeda brasileira desvalorizará mais em comparação a outras divisas emergentes?

Mesmo nos juros nominais aparentemente há prêmios, capazes de atrair o capital externo. O Tesouro Prefixado para 2029, com pagamento de juros semestrais, apontava taxa de 8,93% ao ano no Tesouro Direto. A curva de juro longa tem taxa de quase 9%, é raro no mundo ter algo nesse nível, então o ajuste para a moeda [real] no ano tende a ser positivo.

Após os ativos de risco globais baterem recordes recentes pela mudança de plano do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de subir juros, o mercado de ações pode ceder a movimentos de realização de lucros. Especulações como a guerra comercial dos EUA com a China e um cenário não muito positivo para a Europa e China farão os investidores reavaliar para onde vão os preços.

Pode faltar fundamentos para os ativos brasileiros engatarem nova rodada de valorização. Os índices de confiança e de atividade no primeiro trimestre dão sinais de desaceleração de novo e, a depender do que se observar no começo deste segundo trimestre, pode confirmar um maio ainda devagar para a economia.

Alguns eventos corporativos podem pautar o rumo das ações, na avaliação do especialista, sobretudo de algumas empresas estatais. A venda de ativos estudada para a Caixa, Banco do Brasil, Petrobras e alguma definição para a Eletrobras vão continuar chamando a atenção do mercado de negócios com ativos existentes — sem criação de novos ativos. O cancelamento da oferta de ações é sintomático de um período de mais cautela.

Para quem tem sobra de caixa neste momento, a sugestão é deixar em títulos atrelados à Selic. Eles assimilam possíveis choques negativos.

É ilusório ver chances de o Ibovespa encerrar o ano na casa dos 130 mil pontos, portanto com potencial de valorização em relação ao nível atual. O investidor tem de ter consciência do risco, oscilar muito, é um negócio para o longo prazo. Não dá para ficar desesperado e nem achar que vai ficar rico de uma hora para outra.

Na renda fixa, há fundos com um mix entre títulos públicos e privados, a fim de ter um retorno melhor em lugar do puro CDI. No ano roda com pouco mais de 2%, abaixo da taxa de inflação.

Terminou o prazo para o investidor fazer sua reserva para participar da oferta pública do fundo de índice (ETF), com cotas negociada em bolsa. Ele vai reunir uma cesta com títulos do Tesouro Nacional atrelados à inflação. Se por um lado o ETF traz vantagens tributárias e de custo de administração, menor do que um fundo de renda fixa convencional, por outro, o momento de mercado não parece ser o mais propício para uma cesta com Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), segundo especialistas.

Uma parcela de 70% das cotas será direcionada ao público de varejo. Porém, a oferta chega num momento de forte oscilação de preços dos títulos públicos no mercado secundário, à mercê das idas e vidas dos boatos e rumores. O risco equivale a comprar uma ação cara, sem muita margem para valorização adicional. Só valeria entrar se fosse bom para o investidor ter uma carteira com todas as NTN-B, mas não é uma boa hora porque as taxas de juros estão muito baixas se comparar com o histórico. Subirá muito se a reforma não for aprovada de acordo com a aposta especulativa em regime de capitalização.

Embora os fundos de índice (ETF) negociados em bolsa sejam produtos financeiros bem disseminados, principalmente em economias como Estados Unidos, Canadá, e também na Europa e na Ásia, no Brasil a modalidade ainda não decolou. Passada mais de uma década desde quando chegaram ao pregão local, há menos de duas dezenas de opções disponíveis para o investidor. Uma das razões para que o segmento seja tão incipiente por aqui é os ETFs não serem vendidos, não há uma oferta destacada nas corretoras.

Essa é uma das conclusões do estudo “Perspectivas para os ETFs no Brasil”, produzido por Claudia Emiko Yoshinaga e William Eid Junior, do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Elas são muito rápidas na abertura de contas e nas negociações, excluindo um aspecto que poderia ser um entrave ao crescimento dos ETFs: um mecanismo complicado para investir. Não, é relativamente simples investir nos ETFs. Mas o problema é eles não estarem disponíveis ou facilmente acessíveis nos sites das principais corretoras e plataformas. Os bancos e corretoras dedicam um esforço mínimo, se é que dedicam algum, à venda desses produtos. Talvez pela baixa remuneração que eles oferecem.

O crescimento vertiginoso dos ETFs nos EUA e Canadá ocorreu pela influência dos consultores de investimentos. Numerosos, esses profissionais sofreram pressão dos seus clientes para redução dos custos de manutenção dos investimentos. A saída natural foi migrar de fundos de investimento, com custo mais alto, para ETFs, de custo mais baixo.

Enquanto no mundo, os ETF são de natureza das mais variáveis e reúnem patrimônio na casa dos US$ 4,5 trilhões, no Brasil os fundos de índice representam uma pequena fração do mercado. Dos 15 ETFs na B3, apenas o BOVA11, colado no comportamento do Ibovespa, apresenta alguma liquidez. Mesmo assim, movimenta apenas 0,02% do mercado à vista de ações, segundo a coleta feita por Claudia e Eid Junior em um determinado pregão.

Em média, os ETFs tiveram lá fora um volume diário negociado em 2018 da ordem de US$ 60 bilhões. A Bovespa negociou US$ 130 milhões por dia, ou 0,20% do volume global, ocupando a 15a posição no mundo nesse indicador. Quando se compara com o volume de ações negociado diariamente, da ordem de 1,25% do volume global,  a conclusão é os ETFs não terem se desenvolvido no Brasil.

No Brasil, há dois tipos de ETFs, os de renda variável e os recém-lançados de renda fixa. Estes últimos têm uma clara vantagem tributária sobre aplicações similares. Como são carteiras com prazos longos, a alíquota é de 15% sobre os ganhos, aplicáveis na hora da venda, sem o come-cotas, o imposto semestral. No Tesouro Direto ou demais fundos de renda fixa, a tributação é em função do tempo de permanência na aplicação, partindo de 22,5% para até seis meses, a 15% para aquelas com mais de dois anos.

O ETF do Itaú tende a fazer sucesso junto aos investidores institucionais, dificilmente será um produto para o varejo. No estudo, fica claro que uma das dificuldades dos ETFs é a distribuição. O custo é muito baixo para gerar interesse dos canais de distribuição.

Nos ETFs de renda variável a tributação funciona como em um investimento em bolsa ou em um fundo de ações, com alíquota de 15% de IR. Mas há uma desvantagem referente às movimentação de até R$ 20 mil por mês nas compras diretas isentas de IR.

Exchange Traded Funds (ETFs) são fundos de índices negociados em bolsa, da mesma forma de uma ação. No Brasil, os ETFs mais comuns são de renda variável e se propõem a seguir um determinado indicador de forma passiva, ou seja, serão o reflexo da variação do índice.

Um ETF que segue o Ibovespa, por exemplo, subirá aproximadamente 20% se o Ibovespa subir esse mesmo percentual. O mínimo para investir em ETFs é uma unidade e, para investir nesse produto, você precisa abrir conta em uma corretora, escolher qual ETF comprar e enviar uma ordem, que está sujeita a corretagem. Vale lembrar também que os ETFs possuem uma taxa de administração.

Fundos de investimentos em ações (FIAs) podem ser classificados como passivos e indexados a um índice ou ativos, com o gestor escolhendo quais ações investir, qual o melhor momento de compra, venda ou troca de ações.

Os FIAs também possuem taxas de administração e os fundos ativos ainda cobram taxas de performance. Para simplificar um exemplo, se um FIA ativo render 15% e o Ibovespa 10%, poderá haver uma cobrança percentual sobre a parte que superou o índice. Os fundos de investimentos em ações estão disponíveis nas plataformas de investimentos e bancos e, normalmente, possuem um mínimo de entrada a depender de cada fundo.

A tributação de ambos os produtos é igual. Tanto os ETFs como os FIAs estão sujeitos ao Imposto de Renda de 15% sobre o ganho de capital. A diferença vem apenas na forma de cobrança. Enquanto os FIAs cobram o imposto direto na fonte, no caso dos ETFs, você deve pagar a DARF até o último dia útil do mês subsequente à venda.

As estratégias envolvidas em cada um dos produtos são complementares. Depende de qual o volume financeiro você tem disponibilidade para investir no mercado de renda variável. Analise os dois exemplos seguintes.

No primeiro, você está começando a investir agora e planejou aportes de R$ 100 por mês. É melhor começar nos ETFs atrelados ao Ibovespa para acumular capital sem se preocupar com o valor mínimo disponível para novas aplicações.

O mercado brasileiro já conta com corretoras que não cobram taxas de corretagem e custódia e, dessa forma, sempre que possível você pode comprar quantas cotas de ETF que quiser. Ao acumular mais capital, você pode diversificar sua carteira de ETFs, para índice de “small caps“, investimentos no exterior, moedas, ouro e outros tipos de ETFs.

Já no segundo, você possui R$ 30 mil para investir em ações. Nesse caso, conseguirá montar uma carteira com ETFs e fundos de ações, incluindo fundos investidores em empresas fora do Brasil, e ETFs que aplicam em empresas de menor capitalização.

O cuidado na escolha dos fundos de ações é importante. Fique atento às taxas de administração dos fundos de ações e invista em fundos não correlacionados, ou seja, fundos capazes de entregarem rentabilidades diferentes para momentos distintos.

Não adianta você ter cinco fundos de ações se os gestores investirem nos mesmos ativos. Essa costuma ser a parte mais difícil para um investidor iniciante, pois, normalmente os fundos não divulgam as carteiras antes de três meses.

Ao longo do tempo sua carteira de renda variável irá alterar, com a inclusão de novos produtos financeiros. Para diluir riscos, você pode combinar fundos de investimentos em ações de gestores com credibilidade e ETFs de índices como o Ibovespa e o de “small caps“. Na renda variável, a diversificação de estratégias é extremamente importante para compensar riscos. Mas não evita riscos sistêmicos como acontece durante “bolha de ações”.

Taxa de Juros Real Negativa e Aposta em Bolha de Ações inflada pelo Regime de Capitalização publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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