Sorte do Iniciante é o viés heurístico de quem aprende as coisas por si só, através de tentativa e erro. Faz uma associação (falsa) a êxitos anteriores, projetando a permanência de êxitos no futuro. Os primeiros lucros dão motivação para o iniciante mais investir. Obviamente, esse êxito nada tem a ver com sua capacidade individual, mas sim por entrar em ciclo de alta.
Júlia Moura (FSP, 09/05/19) informa: a Bolsa de Valores brasileira atingiu 1.046.244 de investidores pessoa física em abril de 2019. O Tesouro Direto também superou a marca de 1 milhão, com 1.006.547 investidores no mês.
Confira o histórico de perfil dos investidores pessoas físicas de Abril de 2019.
O cálculo é feito por meio dos CPFs cadastrados em corretoras. Dentre 1 milhão de investidores em Bolsa, 5% são CPFs duplicados, ou seja, investidores com conta em mais de uma corretora.
Os números, anunciados pela B3, seguem a especulação com retroalimentação de elevação de cotações por causa da predominância da compra de ações, visando antecipar o inflar de uma bolha com a implantação obrigatória de um regime de capitalização na reforma da previdência do “banqueiro de negócios”. O Chile é aqui!
Em março de 2019, o Ibovespa, maior índice acionário do país, chegou alcançar 100 mil pontos ao longo do dia, mas encerrou pouco abaixo, com 99.993 pontos.
Com a queda do juro básico de referência (SELIC/CDI), indexador da renda fixa, para o menor patamar histórico, segue a tendência dos últimos anos. Ao fim de 2017, eram 619 mil investidores. Em 2018, o número saltou para 813 mil.
A aceleração se deve aos ganhos da Bolsa brasileira no período. A partir de 2016, o Ibovespa teve ganhos expressivos. A valorização dos papéis listados — preço por ação multiplicado pela quantidade de ações que compõem o índice — saltou de 43 para 60 mil pontos de 2015 para 2016, uma alta de 39% após recessão econômica e turbulências políticas.
Neste ano, o índice chegou aos 100 mil pontos com a aposta de investidores no regime de capitalização/militar. O cenário externo também é avaliado como favorável às exportadoras brasileiras. Com a recuperação das economias americana e chinesa e juros baixos nestes países, elas exportam mais e investidores estrangeiros buscam ativos de riscos em países emergentes.
Sem a aprovação da reforma da Previdência, entretanto, o cenário é de incertezas. O aporte estrangeiro ainda não voltou ao país e dados econômicos do primeiro trimestre preocupam economistas.
No ano, sem o viés de auto validação ilusória dos especuladores brasileiros, o saldo de investimento estrangeiro na B3 é negativo em R$ 26 milhões. Se houver entrada após a aprovação da reforma e, provavelmente, será tímida porque a imagem externa do país está péssima com este governo neofascista.
Atualmente, os estrangeiros têm quase metade do valor investido na Bolsa. Eles somam 46,3% do total de volume negociado. Brasileiros pessoas físicas têm 18,3% e pessoas jurídicas, 30%.
Dentre as pessoas as físicas, o volume tem grande variação conforme o aporte investido. A maioria dos brasileiros — 40% do total — coloca até R$ 10 mil na Bolsa. Eles somam apenas R$ 1 bilhão do estoque da B3, menos de 1% do total alocado em Bolsa. A estimativa equivalente a R$ 220 bilhões é questionável.
Os ganhos do Ibovespa neste ano, no entanto, são impulsionados por movimentações domésticas, aponta a B3. Com a taxa Selic na mínima histórica, a renda variável oferece um retorno maior. Por isso, as corretoras facilitaram o acesso para pessoas físicas.
Segundo levantamento da B3, 51% dos entrevistados na pesquisa “Ecossistema-do-Investidor-Brasileiro“, também divulgada hoje, gostaria de contar com algum especialista para tomar decisões de investimentos.
A “Pesquisa do Ecossistema do Investidor Brasileiro” feita pela B3 com mais de 1 mil pessoas físicas apontou que o brasileiro ainda vê a poupança como opção de investimento mais seguro e acessível.
Enquanto a poupança possui 153 milhões de investidores, com quase R$ 800 bilhões aplicados, a Bolsa alcançou 1 milhão de pessoas em abril, com R$ 220 bilhões investidos.
Entre os investidores da Bolsa, 421 mil pessoas (42% do total de 1 milhão) mantêm até R$ 10 mil aplicados em algum dos produtos oferecidos (ações, derivativos, fundos imobiliários e ETFs). Juntos, eles respondem por um montante de R$ 1 bilhão.
Um pequeno grupo de 8 mil pessoas investe, individualmente, R$ 5 milhões ou mais. Juntos, respondem por R$ 127 bilhões, ou 55% do total de investimentos de pessoas físicas na Bolsa.
No Tesouro Direto, a distribuição é um pouco mais homogênea. 567 mil investidores (56% do total) aplicam até R$ 10 mil por pessoa, totalizando R$ 1 bilhão, ou 2% do estoque de R$ 57 bilhões de títulos nas mãos de pessoas físicas. Outros 101 mil investidores (10%) investem entre R$ 100 mil e R$ 500 mil por pessoa, totalizando R$ 21 bilhões (34% do estoque).
Para William Eid Jr, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), a explicação está na alta da Bolsa nos últimos anos.
“Não é porque os juros caíram. Até porque a Bolsa no longo prazo perde para Selic e o brasileiro nem sabe o que é a Selic. O aumento é porque a Bolsa tem subido muito. A pessoa vê o cunhado ganhando com ações e decide investir também, mas não sabe elaborar uma estratégia de investimento, avaliar o que compra. Se a Bolsa cair, ele sai correndo”, afirma Eid.
Nos últimos três anos, o Ibovespa acumulou altas expressivas.
- Em 2018 foram 15%.
- Em 2017, 26,86%.
- Em 2016, 39%.
Até abril de 2019, são 9,76% de ganhos.
A marca de 1 milhão de investidores representa aproximadamente 1% da População Economicamente Ativa (PEA). Segundo o IBGE, reúne 105 milhões de brasileiros.
Nos Estados Unidos, onde há uma maior participação da população nas Bolsas, o percentual de investidores é bem maior. Segundo o Instituto Gallup, 54% dos adultos americanos investiram em ações de 2009 a 2017. O número apresenta um decréscimo quando comparado ao período anterior à crise financeira. De 2001 a 2008, eram 62%.
A falta de conhecimento é a principal causa da tímida participação.
“O brasileiro tem desconhecimento e medo. O mercado doméstico é muito imaturo, com potencial de crescimento acelerado. Está vivendo uma mudança estrutural com o trabalho das corretoras.
Ao ser perguntada da meta divulgada em 2014 de 5 milhões de investidores esperados pela B3 até 2018, a B3 responde não trabalhar mais com projeções.
No fim da Era Social-desenvolvimentista, o cenário macro era muito diferente, com a expectativa de crescimento econômico diferente. Naquele ano tivemos mais de R$ 50 bilhões em 64 grandes IPOs. A entrada de investidores depende dos bancos e corretoras. Não se pode fazer projeções se o resultado depende deles.
Já para o Tesouro Direto, a expectativa é ultrapassar a meta de 1.350.000 investidores até o final do ano.
Não há uma boa justificativa para esse crescimento, porque não há boas perspectivas para a economia. As expectativas para o governo do capitão eram muito positivas para O Mercado e hoje já se fala ‘não é bem assim’. A demora da reforma, a incompetência de toda a equipe ministerial, a imbecilidade do presidente tuiteiro e as falhas de comunicação do governo, em “guerra cultural” na rede social, trazem muita incerteza.
Carência de Educação Financeira dos Investidores e Sorte de Iniciante publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com


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