quarta-feira, 6 de março de 2019

Fora regime de capitalização em ações!

Marcelo Mello (Valor, 01/03/19) publicou artigo sobre a gestão de investimentos ativa ou passiva, apesar de ter se intensificado recentemente, não é nova.

John C. Bogle criou a famosa gestora americana de investimentos Vanguard e sua família de fundos passivos em 1975. Atualmente, a Vanguard é a maior casa de administração de carteiras de investimentos do mundo com mais de US$ 5 trilhões de recursos sob administração. Fundos passivos buscam seguir um índice de referência, como o CDI para renda fixa ou o Ibovespa para ações, sem a pretensão de superá-los no longo prazo.

Portanto, esses fundos possuem taxas de administração mais baixas.

Do outro lado, temos os fundos ativos, que são aqueles cujo gestor aplica no dia a dia toda sua experiência e conhecimento para, no longo prazo, superar tais índices de referência. Nos fundos ativos, os investidores estão dispostos a pagar uma taxa de administração maior por conta desse retorno adicional, como acontece com a gestora do Warren Buffett, Berkshire Hathaway.

Parafraseando o próprio Bogle: “Investimento de longo prazo é um ato de fé”. Quando compramos a estratégia de gestão passiva, estamos exercitando nossa crença de que, no longo prazo, a economia irá desenvolver bem e por consequência terá efeitos positivos nos mercados financeiros. Já na gestão ativa, a crença é o gestor farzer os ajustes necessários para evitar solavancos.

É muito difícil para os investidores selecionarem fundos que consistentemente consigam superar os índices. O bom desempenho não persiste ao longo do tempo, como mostra um estudo da revista “The Economist” sobre os fundos de ações americanos.

Quem selecionou um fundo entre os 25% melhores em um ranking de performance dos últimos 12 meses, nos 12 meses subsequentes, somente 25,6% daqueles fundos se mantiveram no primeiro quartil. Nas três janelas subsequentes de 12 meses, o percentual de 25,6% cai para 4,1%, 0,5% e 0,3% respectivamente.

Por que tais gestores não apresentam um desempenho mais consistente ao longo do tempo?

Uma das explicações é: com a boa performance dos fundos, uma maior quantidade de clientes é atraída e os patrimônios líquidos aumentam significativamente. Desta maneira, os gestores são obrigados a expandir o número de ativos no portfólio, diluindo as melhores ideias de investimentos. À medida que os fundos crescem, eles ficam com carteiras mais parecidas com os índices de mercado (média da indústria).

No mercado brasileiro, a gestão ativa predomina em fundos de investimento multimercados. Apesar do crescimento relevante dos fundos multimercados em 2017 e 2018, o desempenho continua consistente, provavelmente por causa da renda fixa.

Tentando reproduzir o estudo da “The Economist” com a categoria que mais cresce no Brasil (Fundos Multimercados) chegamos aos seguintes resultados.

Considerando os fundos no 1o quartil com base em um ranking de performance anual, nos 12 meses subsequentes 14,7% desses fundos se mantém entre os melhores fundos. Já nas duas janelas posteriores, esse número aumenta para 24% e 21%, respectivamente.

Uma das possíveis explicações do motivo do mercado de capitais brasileiro ser diferente do americano baseia-se no fato de que aqui o prêmio de risco dos ativos ainda é substancialmente maior, fazendo com que o posicionamento em ativos de prazo médio mais elevado supere significativamente o benchmark como o CDI ao longo do tempo, apesar dos fortes solavancos no meio do caminho.

Empiricamente, podemos comprovar por meio da forte correlação que há entre os fundos multimercados e o IRF-M, indicador utilizado para medir o desempenho dos títulos de renda fixa prefixados.

O fator mais importante para o investidor levar em consideração não é necessariamente a escolha entre gestão passiva ou ativa, e sim a melhor diversificação de seus recursos entre as diferentes classes de ativos (juro nominal, juro real, moedas, renda variável, imobiliário etc.), pois é ela — a alocação em carteira de ativos diversificada — que fará diferença na performance da carteira de longo prazo.”

FNC: discordo. A Teoria da Diversificação protege contra riscos de forma compensatória se não houver correlação entre movimentos dos preços dos ativos, mas não garante a entrega de desempenho (rentabilidade), seja em curto, seja em longo prazo.

Confira a volatilidade do Ibovespa acima e as quedas súbitas de cotações de grandes empresas abaixo. Imagine vincular as aposentadorias dos brasileiros ao mercado de ações! Fora regime de capitalização em ações!

Os três grandes negócios da 3G Capital e de seu trio bilionário, os megainvestidores Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, atravessam uma fase difícil. Enquanto a Kraft Heinz acumula um prejuízo bilionário, a AB InBev, a maior fabricante de cerveja do mundo, e a Restaurants Brands International (RBI), dona do Burger King, tiveram queda de lucro no ano passado.

A cervejaria chegou a perder, em 2018, a participação de mercado que havia conquistado no ano anterior no Brasil — a Heineken, sua principal concorrente, no mundo e no país, o ganhou.

O desempenho no ano passado fez encolher o valor de mercado das três multinacionais. Há um ano, elas valiam, juntas, US$ 301,3 bilhões. Esse número caiu para US$ 209,3 bilhões. Perderam, no período, quase um terço de seu valor, ou 30,5%.

O aumento da concorrência de grandes empresas e até de fabricantes menores é um desafio comum aos negócios das três companhias. A AB InBev disputa nos Estados Unidos, seu maior mercado, e também no Brasil, a preferência do consumidor com marcas menores. Elas têm investido em cervejas de melhor qualidade, mais encorpadas.

Não à toa, Carlos Brito, CEO da AB Inbev, disse, ao comentar o desempenho de 2018, as cervejas premium serem a melhor oportunidade de crescimento para a companhia nos próximos anos. As vendas desse tipo de cerveja podem crescer cinco vezes mais rapidamente que a bebida tradicional, até 2020. E a receita por hectolitro chega a ser o dobro, estimou Brito.

No portfólio atual da companhia, que abriga 500 marcas, as cervejas premium respondem por 10% da receita. “Para ganhar [mercado], precisamos de um portfólio de marcas premium“, disse Brito. A companhia também aposta na tendência das “cervejas artesanais“. Dessa categoria, segundo ele, a empresa lançou 35 marcas em 30 países no ano passado.

Essa linha de cervejas costumava ser tratada como bebida de nicho, mas vêm ganhando cada vez mais adeptos, a AB InBev citou o desempenho das vendas de cerveja sem álcool ou com baixo teor alcoólico. Dos 567 milhões de hectolitros vendidos pela companhia no ano passado, 8% foram desse tipo. Em seis países (China, Austrália, Colômbia, Equador, Honduras e Panamá), essa fatia chegou a 20% das vendas.

Ao longo do ano, a AB InBev lançou 12 produtos sem ou com pouco álcool. “Considerando a crescente tendência de preocupação com saúde e bem-estar, especialmente nos mercados maduros, estamos otimistas com o futuro dessa categoria”, informou a empresa.

Captar as mudanças de comportamento do consumidor, em várias partes do mundo, e reagir rapidamente – de preferência, antes da concorrência – é um desafio que todas as empresas de bens de consumo vêm enfrentando. E não é diferente com Kraft Heinz e RBI. Esta, além do Burger King, é dona de outras duas redes de “fast food”, a Popeyes e a Tim Hortons.

A busca por uma vida mais saudável, na qual um prato de salada tem mais peso que um saquinho de batata frita, vem mudando o cardápio de grandes cadeias de restaurantes. Segundo analistas do setor, a RBI tem sido mais lenta em promover mudanças em suas bandeiras do que os concorrentes.

Para esses analistas, concorrentes como Starbucks, Panera e até o rival direto McDonald’s reagiram mais rapidamente para remodelar seus restaurantes, oferecendo ingredientes frescos à clientela.

No caso da Kraft Heinz, que vende salgadinhos de queijo processado, além de molhos de tomate e maionese, o investimento insuficiente em inovação e marketing levou a empresa a promover uma baixa contábil de US$ 15, 4 bilhões no ano passado em duas de suas marcas mais importantes, a Kraft e a Oscar Mayer. O motivo: seu plano de corte de custos não produziu os resultados esperados e suas marcas perderam valor. Especialistas têm dito que a empresa pode ter exagerado no enxugamento das despesas.

O reconhecimento de a estratégia não estar dando certo jogou uma sombra de dúvida sobre outros negócios da 3G. A Ambev, o braço da AB Inbev no Brasil, foi perguntada se avaliava fazer o mesmo movimento. Fernando Tennenbaum, diretor financeiro e de relações com investidores da Ambev, respondeu: “Sempre que a empresa divulga o balanço, ela avalia os ativos intangíveis, para ver se o valor está compatível com o momento atual e com a capacidade da marca gerar fluxo de caixa futuro. Não encontramos nada que levasse a companhia a fazer uma baixa contábil.”

Apesar dos desafios, no fim do dia, os investidores pareciam dispostos a continuar apostando nas três empresas. A AB InBev fechou o pregão com alta de 4,6%. Kraft Heinz, que neste ano acumula queda de quase 23% na Nasdaq, subiu 3%. Os papéis da RBI também fecharam o dia em alta.

Para ter uma operação sustentável, a Marfrig Global Foods, segunda maior empresa de carne bovina do mundo, precisa ser “grande”, afirmou ao Valor o CEO da companhia, Eduardo Miron. “Não é crescer por crescer, mas tamanho é importante em um negócio de commodities“, disse o executivo. No ano passado, a Marfrig deu um salto com a aquisição, por quase US$ 1 bilhão, do controle da National Beef, quarta maior indústria de carne bovina dos EUA.

Com a incorporação dos resultados da National Beef, a receita líquida da Marfrig superou a marca de R$ 40 bilhões em 2018, conforme balanço divulgado. No ano anterior, as vendas da companhia brasileira haviam alcançado R$ 18,5 bilhões. O foco da empresa são as operações nas Américas, a região mais competitiva na produção de carne bovina.

Mas aquisições pequenas nas regiões onde a Marfrig atua estão no radar. No entanto, as aquisições só serão feitas caso não tenham impacto relevante no endividamento.

Atualmente, a Marfrig tem abatedouros nos Estados Unidos, no Brasil, no Uruguai e na Argentina. O negócio nos EUA representa cerca de 70% do faturamento. Para o futuro, a estratégia de crescimento terá como foco produtos de “valor agregado”.

Nesse sentido, a compra das ativos da hambúrguer da BRF, anunciada pela Marfrig em dezembro de 2018, é um exemplo tanto de estratégia quanto de preço. A companhia pagou cerca de R$ 315 milhões, com um impacto de “0,01 vez” na alavancagem. Estrategicamente, o negócio permitiu o avanço para alimentos de valor agregado – e melhores margens.

Com a compra da fábrica da dona de Sadia e Perdigão em Mato Grosso e da Quickfood (empresa líder em hambúrguer na Argentina), a Marfrig se tornou a maior produtora de hambúrguer do mundo.

Nos EUA, a Marfrig já contava com uma grande fábrica de hambúrguer, no Estado de Ohio, capaz de produzir cerca de 90 mil toneladas por ano. Considerando as aquisições dos ativos da BRF, a capacidade supera 200 mil toneladas anuais.

A BRF chegou ao fundo do poço em 2018,  com a gestão do Pedro Parente, aquele de aparente sucesso na Petrobras, porque glorificado pela imprensa tucana e O Mercado. Em última instância, foi o provocador da guerra dos caminhoneiros com sua política de reajuste diário de preços dos combustíveis. A interpretação de analistas e investidores, porém, agora não é a mesma. Em O Mercado, ainda há muitas dúvidas sobre a capacidade de recuperação da rentabilidade da dona de Sadia e Perdigão, o que continua pressionando as ações.

Em um pregão negativo na bolsa por causa de preocupações com a reforma da Previdência e aversão a risco dos investidores estrangeiros, os papéis da BRF caíram 4,8%.

Em teleconferência, o presidente do conselho de administração e CEO global da BRF, Pedro Parente, reconheceu os prejuízos líquidos do quarto trimestre e do acumulado de 2018 terem sido “expressivos”, embora ele enxergue sinais de retomada.

Conforme balanço divulgado, a BRF teve o maior prejuízo de sua história. Com uma baixa contábil de aproximadamente R$ 2,5 bilhões em razão da venda de ativos na Argentina, Europa e Tailândia, a BRF amargou um prejuízo líquido de R$ 2,1 bilhões no quarto trimestre, quase o triplo da perda de R$ 784 milhões registrada no mesmo período de 2017.

No acumulado de 2018, o prejuízo alcançou o recorde de R$ 4,4 bilhões, 306,4% mais do que o total de R$ 1,1 bilhão reportado no ano anterior. Além da baixa contábil feita no quarto trimestre para reconhecer o impacto negativo (sem efeito caixa) da venda dos ativos por valores mais baixos do que aqueles pagos pela BRF quando comprou os ativos, o resultado anual foi afetado por um impacto de cerca de R$ 1 bilhão em despesas com a greve dos caminhoneiros e com a Operação Trapaça, investigação da Polícia Federal que apura fraudes que teriam sido cometidas por ex-funcionários da empresa.

“O ano de 2018 foi o mais desafiador da história de dez anos da BRF e testou nossa capacidade de reação e de respostas”, afirmaram, na mensagem que acompanha o balanço, Parente e o vice-presidente-executivo, Lorival Luz.

Na mensagem, os executivos lembraram das restrições internacionais à empresa — a União Europeia proibiu a BRF de exportar ao bloco após a Operação Trapaça — e problemas de governança.

No ano passado, os fundos de pensão Petros e Previ, os dois maiores acionistas da BRF, lideraram um movimento para destituir o empresário Abilio Diniz da presidência do Conselho de Administração. Abilio foi substituído por Parente em abril de 2018.

“Os problemas em nossa governança, a extensa desestruturação de equipes, sistemas e processos e uma segunda fase de operações de investigações policiais foram outros elementos a compor este cenário de desafios”, acrescentaram os executivos.

O quadro de oferta e demanda para o mercado brasileiro de carne de frango e suína aponta para melhora de margens da companhia. Diferentemente do ano passado, em que a companhia sofreu com a sobreoferta de frango e suínos no Brasil, em 2019 a produção está ajustada, o que permite a recuperação dos preços, indicou o executivo. Além disso, as cotações dos grãos que compõem a ração de aves e suínos (basicamente, farelo de soja e milho) apresentam tendência de “estabilidade”. Em 2018, esses custos prejudicaram os resultados.

 

Fora regime de capitalização em ações! publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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