Como vimos no post anterior, Gustavo Cerbasi adota o modelo de ciclo de vida no livro “Adeus, aposentadoria: como garantir seu futuro sem depender dos outros”: “se os investimentos conservadores são insuficientes para nos conduzir aos resultados esperados em nossos planos, é natural considerar a possibilidade de aumentar o grau de risco de nossa carteira de investimentos. Afinal, reza a teoria: quanto maior o risco assumido, maior será o retorno obtido, principalmente se a estratégia for mantida no longo prazo”.
Essa “teoria” sugere o seguinte: se for possível ganhar mais com menor risco todos os investidores fariam esse investimento, descolando seu preço de seus fundamentos microeconômicos, setoriais e macroeconômicos. Essa especulação criaria uma bolha e elevaria seu risco de explosão acima do atribuído aos demais ativos.
Baseado nessa ideia tosca sem contextualizá-la para uma economia de elevadíssima taxa de juro em renda fixa com risco soberano (títulos de dívida pública), para quaisquer produtos com objetivo de acumulação para a aposentadoria, Cerbasi diz ser recomendável assumir um perfil menos conservador e adotar um certo grau de risco. Porém engana-se quem acredita na renda variável ser garantido ganhar mais em lugar da renda fixa, assim como quem supõe investimento em ações seja fácil para qualquer ser humano.
Por isso, sugere avaliação do perfil de risco: conservador, moderado ou arrojado – em ordem contrária à elevação da idade segundo o modelo de ciclo de vida. Muitas vezes o pouco ganho nominal a mais não compensa o estresse dos mercados voláteis. “A melhor solução de investimento sempre será aquela que lhe deixar mais confortável, dentro do nível de risco adequado a seu perfil.”
Jamais se deve gerir os próprios investimentos de risco sem ter conhecimento ou tempo para essa gestão. Especulador profissional faz acompanhamento online em tempo real. Trabalhador somente deve investir em ações de empresas com bons fundamentos em longo prazo, porque não tem tempo para observar altas e baixas diárias de suas cotações.
“Sempre invista uma parcela menor de suas reservas em renda variável, sobretudo quando o investimento for de longo prazo. Informe-se continuamente sobre os mercados em que você investe – quanto mais rentável é o mercado, mais rapidamente as oportunidades e o conhecimento se renovam. E conte sempre com uma significativa reserva em renda fixa: além de dar solidez a seu patrimônio, é dela que saem os recursos quando você identifica uma boa oportunidade na renda variável.
A estratégia de trabalhadores é trabalhar com prazer criativo, isto é, com interesse pelo produto do trabalho. “Não penso em parar”, ao contrário do dito por Cerbasi, nem sempre é a desculpa para negligenciar os cuidados necessários com o futuro. Provavelmente, é uma reflexão sincera, pois há muitas pessoas, tal como eu, com orgulho por seu trabalho não alienante.
Mas, embora apreciando seu trabalho, em algum momento seu corpo vai impedir sua continuidade. Você terá dois caminhos: gastar muito dinheiro com cuidados pessoais ou diminuir o ritmo de trabalho. Para gastar mais, o ganho tem de ser muito maior. Nessa fase da vida, você começa a competir com o conhecimento renovado e o custo menor da mão de obra mais jovem.
“Esse é o momento em que, ainda que você queira continuar a trabalhar, o mercado já não irá lhe pagar o preço que você considera justo. Mesmo que não desista do trabalho, o trabalho pode desistir de você. Pode ser que sua saúde e sua disposição estejam muito acima da média, mas há outros motivos que nos incentivam a diminuir o ritmo de trabalho: amigos se aposentando, pais envelhecendo e dependendo de nosso apoio, ou planos para fazer aquilo sempre sonhado – e não relacionado a trabalho”.
Racionalmente, trabalhar até os últimos momentos de sua vida pode ser um argumento aceitável. Mas, emocionalmente, não o é. Mesmo querendo continuar na ativa, há vários fatores para impedi-lo de fazer isso.
“Trabalhar para sempre por prazer é uma atitude saudável e construtiva, mas se estiver mental e financeiramente tranquilo para se afastar quando bem entender e precisar. Por isso, essa estratégia não deve ser encarada como a solução para sua aposentadoria, mas sim como uma consequência de um planejamento cuidadosamente elaborado.”
Para minimizar os riscos de saturação do mercado ou o esgotamento da carreira, muitos profissionais se dedicam a iniciar uma atividade paralela ainda antes da aposentadoria. Dessa forma, têm uma alternativa caso sua carreira principal comece a dar sinais de falta de opções.
Com essa ideia em mente, há quem se dedique a prestar serviços fora do horário de expediente ou nos fins de semana. Outros iniciam uma faculdade ou um curso profissionalizante em outra área de que gostam, apostando no conhecimento novo, somado à experiência, servir de diferencial no mercado de trabalho.
“Uma solução para a renda futura bastante comum entre profissionais liberais e muitos empregados com bom histórico educacional é se dedicar a uma carreira acadêmica, cursando um mestrado e/ou um doutorado. Um diploma de pós-graduação praticamente garante emprego como professor em instituições de nível superior. Este é um trabalho com agenda flexível e relativamente mais tranquilo para quem tem muita experiência prática para somar à teoria.”
Risos: só tem paciência para acumulação de pontinhos Qualis – publish or perish – jovem no início da carreira. Isso sem falar na vida administrativa burocrática de Universidade e em orientação de teses/dissertações/monografias de jovens sem compromisso profissional. Então, não arrependo de ter tomado essa decisão profissional: ganhar menos, em termos de custo de oportunidade, mas fazer uma carreira completa na Universidade a partir dos 34 anos. Antecipei um prazer imaginado por alguns profissionais somente no futuro depois de se aposentar: trabalhar com conhecimento e ensino, seja em aulas, seja em escritos. Ou mesmo em palestras.
Fico com esse como o último aconselhamento de Gustavo Cerbasi: “a dedicação exigida para a construção de uma carreira paralela, se aplicada na construção de boas estratégias de investimento para o patrimônio acumulado, pode até render melhores frutos, como um patrimônio crescente em ritmo mais acelerado e uma agenda mais livre para desfrutar a vida após a aposentadoria da carreira principal.”
Investir com mais Risco em Economia de Endividamento? Arriscar em Mercado de Capitais? publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário