Nathália Larghi (Valor, 27/03/19) avalia: aplicar no Tesouro Direto, o programa de venda de títulos públicos pela internet, tem sido considerada uma estratégia para guardar o dinheiro de forma segura e, ao mesmo tempo, garantir bons retornos.
Evidência disso foi o recorde no número de investidores ativos registrado nos últimos 12 meses: foram 315 mil novos aplicadores ativos, atingindo o total de 896,3 mil pessoas ativas no programa. Ao todo, já são mais de 3,59 milhões de investidores cadastrados.
Para se ter uma ideia do aumento na demanda, nos dois primeiros meses de 2019, foram registrados 110 mil novos investidores ativos (58.851 + 51.161). No primeiro semestre do ano anterior (2018), a média mensal oscilava em torno de 9 mil novos investidores ativos.
O valor médio por operação no Tesouro Direto em fevereiro de 2019 foi R$ 5.452,24. Até um mil reais eram 64,9% dos investimentos, elevando-se em relação ao um ano antes: 59,2%.
Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o instituto de pesquisa Datafolha mostrou que 50% das pessoas que investem em títulos públicos por meio do site foram motivadas pelo retorno da aplicação. A segurança aparece em segundo lugar entre as principais justificativas para a escolha, citada por 40% das pessoas. A facilidade foi apontada por 9%.
Recentemente, temos visto um processo de Educação Financeira maior. O pequeno investidor sempre optou pela poupança, pela visão de segurança e facilidade, mas agora está migrando para o Tesouro Direto por ter a mesma sensação, mas com retornos maiores. Por isso, houve a chegada de clientes recém-saídos da poupança, em busca de estabilidade, mas escolhendo os títulos públicos como investimento inicial.
Um estudo realizado pela corretora XP Investimentos mostrou que as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), conhecidas como Tesouro Selic por ter seu rendimento indexado pela taxa básica de juros, rendeu, líquido de impostos, 32% acima da poupança nos últimos três anos. O título geralmente é o mais procurado pelos investidores: em fevereiro, dos R$ 2,3 bilhões investidos no Tesouro, R$ 1,05 bilhão foi em LFTs. Mesmo já sendo o mais vendido no mesmo mês de 2018, a alta no montante aplicado foi de 90,4%.
Além do retorno mais alto do que a poupança, a percepção dos investidores de que o Tesouro Direto é uma aplicação segura é verdadeira. Algumas pessoas ainda têm aquela visão de que a poupança é o investimento mais seguro. Mas os títulos do Tesouro são garantidos pelo governo federal. Já a caderneta é garantida pelo banco emissor e pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). A chance de um governo “quebrar” é dar um calote improvável. A bancarrota é um dos riscos apresentados mais por bancos pequenos.
Ainda assim, a poupança é o investimento mais usado pelos brasileiros. Enquanto o estoque do Tesouro Direto em janeiro deste ano atingiu R$ 56 bilhões, a caderneta contabilizava, no mesmo mês, R$ 787,9 bilhões.
Segundo a pesquisa da Anbima, porém, quem aplica na caderneta não busca retornos, mas sim comodidade e segurança, apontadas por 27% e 21% dos entrevistados, respectivamente. A rentabilidade do valor aplicado só foi considerada um motivo para a escolha da poupança por 5% dos seus investidores.
Essa percepção dos investidores mostra haver um espaço para aplicações mais sofisticadas, como o próprio Tesouro Direto. Com os juros mais baixos, os investidores querem produtos mais rentáveis. E as corretoras e bancos estão se esforçando para mostrar essas alternativas. Recentemente, corretoras independentes e até bancos do varejo cortaram a taxa de corretagem para o Tesouro Direto.
Essas ações de bancos e corretoras são importantes para incentivar as pessoas a “pouparem melhor”. A poupança, no primeiro momento, é um instrumento educativo, mas depois precisamos fazer com que os investidores diversifiquem melhor seus portfólios e tenham ganhos maiores.
A busca por retornos maiores é um caminho natural do investidor quando ele começa a diversificar seu portfólio. O Tesouro Direto é justamente a porta de entrada após a poupança. Depois disso, o investidor vai migrando para outros ativos.
A pesquisa da Anbima mostrou: tanto para fundos, como para títulos privados e ações, a principal justificativa do investidor são os retornos maiores, apontados por 34%, 42% e 62% dos investidores, respectivamente.
É preciso “criar uma cultura de investimentos no Brasil” e, para isso, é preciso a economia do país continuar estável. O investidor já está buscando mais alternativas, mas para isso se intensificar, ele precisa estar seguro para seguir em frente.
Então, é preciso de um período longo de inflação baixa e de juros baixos para criar o hábito de investir mensalmente percentual acima do seu padrão de vida. Este deve ser, pelo menos, 10% inferior à sua renda líquida.
De acordo com seu estoque de riqueza financeira, ele verificará essa sua “sobra de renda do trabalho” ser acima dos rendimentos mensais de juros em média de 0,5% am líquidos. Por exemplo, se investir R$ 1.000 / mês, ele terá de ter pelo menos um saldo financeiro de R$ 200.000 para render o mesmo em juros.
Vale comparar o número e o perfil dos investidores em Tesouro Direto e o dos investidores PF em ações, ambos em fevereiro de 2019.
Curiosamente, considerando todos os investimentos em ações e renda variável pelos 121.383 ricaços do Private Banking, somavam R$ 212 bilhões em dezembro de 2018. Eram 1/5 de seu portfólio. Esse valor é próximo dos R$ 224 bilhões representativos do total de investimentos diretos de PF em ações em fevereiro de 2019.
Acima de 56 anos, investidores em ações possuíam 65% do valor, embora possuíssem 26% das contas. Provavelmente, são os acionistas em longo prazo.
As grandes entradas de investidores na Bolsa de Valores ocorreram de 2004 a 2007 e desde 2017, quando o juro Selic caiu para 6,5% aa. Então, a renda variável se tornou, em parte, uma alternativa à renda fixa.
Compare com as faixas de clientes em Títulos e Valores Mobiliários garantidos pelo FGC. Quase 88% (214 milhões) dos clientes acumulam em conjunto apenas 4,8% do valor total, enquanto os 138 mil milionários (0,1%) acumulam conjuntamente quase um trilhão de reais (R$ 941 bilhões), ou seja, 42,7% do valor total. Essa comparação revela uma faceta da desigualdade social na acumulação da riqueza no Brasil.
Observe 95% desses clientes, desconsiderando FIFs (Fundos de Investimentos) possuem até R$ 20.000. Por exemplo, eu só possuo contas de depósitos à vista entre esses produtos financeiros, o restante está aplicado em Fundos, inclusive PGBL.
Motivações para Investimento em Tesouro Direto e Perfis de Investidores Comparados publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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