sexta-feira, 29 de março de 2019

Complementar Previdência Complementar

Gustavo Cerbasi, no livro “Adeus, aposentadoria: como garantir seu futuro sem depender dos outros”, adverte: “com juros reais baixos, dificuldades para criar boas estratégias nos mercados de renda variável e cenário desfavorável para ganhos fáceis, é necessário fazer mais sacrifícios no presente para alcançar o patrimônio desejado no futuro.

Em primeiro lugar, é preciso pensar no saldo necessário em investimentos para se poder viver de saques perpétuos sem consumir o valor principal do patrimônio, ou seja, preservando a capacidade de gerar renda”.

“Se antes investimentos conservadores proporcionassem ganhos reais (acima da taxa de inflação) de 0,4% ao mês, e hoje proporcionam apenas 0,2%, antes um patrimônio de R$ 1 milhão lhe garantiria um conforto mínimo desejável, hoje quem tem esse valor em reservas financeiras precisa do dobro deste valor. É o dobro de esforço a se fazer para alcançar seus objetivos.”

Nesse ponto, Cerbasi necessita ler meu artigo “Desilusão Monetária”. Eu lhe perguntaria: entre uma taxa de juro de 6,5% aa com taxa de inflação de 2,68% acumulada em 12 meses, resultando 3,72% aa de juros reais, como em 2018, ou um juro nominal médio anual de 13,9% com taxa de inflação de 10,7%, deduzindo juros reais de 2,92% aa, como em 2015, qual é a preferência do “investidor qualificado” detentor de mais de um milhão de reais?

No primeiro caso, a cada milhão de reais possuído, ele ganharia nominalmente R$ 65.000 no ano. No segundo, R$ 139.000. Racionalmente, ele optaria por essa segunda situação, mesmo a taxa de juro real sendo menor, pois o rendimento de pouco mais de um milhão de reais provavelmente já cobriria o gasto anual com sua cesta básica de consumo, por exemplo, R$ 150 mil. Os demais milhões de suas reservas financeiras propiciariam muito mais juros compostos a continuarem ser capitalizados sem exercer o poder de compra.

Outro ponto fraco no argumento de Cerbasi:

“Se a taxa de juros estiver em 10% anuais e a inflação for de 7,5% ao ano, seu ganho real (isso sem considerar impostos) é de 2,5%, ou 0,2% ao mês. Mas, se a inflação subir para 8% ao ano, seu ganho real cai para 2% ao ano. Na prática, é uma perda de 20% ou um quinto do que você planeja para sua aposentadoria”.

Qual é o ponto fraco? Ele abstrai o fato do Banco Central do Brasil com regime de meta de inflação elevar sempre a taxa de juro básica (Selic) mais além do aumento da inflação quando esta entra em processo de alta. Tira empregos dos trabalhadores, mas protege os milionários com a auto atribuição de defender a moeda nacional.

Uma série temporal de taxa de juro real mostrará oscilações ao longo dos anos pelas distintas distâncias mensais entre a taxa de juro básica e a taxa de inflação. Portanto, esse exercício de extrapolação de uma taxa real menor para todo o período é equivocado.

Ele está correto em alertar: “poupar mais para garantir reservas maiores pode ser um esforço apenas ilusório se sua estratégia não conseguir blindar seus ganhos contra o risco de corrosão pela inflação. Não basta aumentar o esforço de poupança se você descuidar da qualidade de acumulação de seu patrimônio, ou seja, da estratégia de investimentos.

Dedicar tempo a adquirir conhecimentos sobre investimentos pode proporcionar ganhos mais significativos em vez de, simplesmente, reduzir gastos e aumentar o esforço de poupança. Atente mais para os fatos econômicos em lugar da Matemática Financeira na hora de elaborar e acompanhar a evolução de seus planos.”

Eu diria a renda do trabalho é superior à renda do capital financeiro até o limite de 99% das famílias, isto é, R$ 20.000. Se a taxa de juro estiver em 0,5% aa, para alcançar R$ 240.000 em um ano, o montante financeiro em renda fixa teria de ser R$ 4 milhões. Em juros simples, a cada mês se obteria R$ 20 mil.

Gerbasi insiste em seu argumento com base em eventual queda da taxa de juro real: “caso seus rendimentos caiam de 0,4% para 0,2% ao mês, seu objetivo de poupança [sic, investimento financeiro] aumenta de R$ 1 milhão para R$ 2 milhões. Se você não conseguir cortar mais gastos hoje e mantiver seu atual ritmo de poupança, suas metas ficarão mais distantes:

  • Com rendimentos reais de 0,4% ao mês e poupando R$ 700,00 mensais, serão necessários 40 anos para alcançar o objetivo de R$ 1 milhão.
  • Se os ganhos reais caírem para 0,2% ao mês e você continuar poupando os R$ 700,00 mensais, demorará 56 anos para formar um patrimônio de R$ 1 milhão, ou 79 anos para alcançar R$ 2 milhões.”

Esses prazos irrealistas surgem a partir de extrapolação de uma baixíssima taxa de juro real (0,2% a.m.) para todo o período sem considerar a possibilidade de sua elevação futura. Mas a dedução de contribuição extra durante as fases de baixa dessa taxa de juro é realista. O importante é o monitoramento contínuo das variações reais.

“Se um prazo maior de poupança nos permite alcançar condições melhores de aposentadoria, nada seria mais sensato do que iniciar o planejamento da aposentadoria desde cedo, nos primeiros passos da carreira profissional. Se cada um entendesse que todo dinheiro ganho com o trabalho ou com os negócios deve ter uma parte reservada para o futuro, provavelmente previdência e crédito não seriam temas tão preocupantes nas finanças das famílias.”

Importante é valorizar a cultura rentável em trabalho qualificado e não o consumismo desperdiçado em modismo, esnobismo e/ou luxo ilusório. O efeito demonstração de, hipoteticamente, “estar com aparência de rico” indica apenas pobreza de espírito.

Quanto é suficiente? Até 35 anos, ter reserva de um salário anual; até 45 anos, três salários anuais; até 55 anos, seis salários anuais; até 65 anos, nove salários anuais; até 75 anos, doze salários anuais. Se no topo da carreira este for R$ 25 mil, seriam R$ 3,6 milhões. Só.

Complementar Previdência Complementar publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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