quinta-feira, 28 de março de 2019

Tim Ferriss em Palestra TED2017 sobre Estoicismo

Em 1999, eu estava no último ano da faculdade. Eu estava muito feliz.

Lembro-me exatamente de onde estava dez dias depois. Estava sentado na carroceria da minha van no estacionamento do campus quando decidi cometer suicídio.

Fui da decisão a um plano completo muito rapidamente. Fiquei a um passo do precipício. Foi o mais perto onde eu já estive. Só tirei o dedo do gatilho graças a algumas coincidências. Depois do ocorrido, o que me deu mais medo: a oportunidade.

Então, eu me tornei muito metódico sobre testar formas diferentes de lidar com meus altos e baixos, o que provou ser um bom investimento. (Risos) Pessoas normais podem ter de seis a dez crises depressivas sérias na vida.

Eu tenho transtorno bipolar. É de família. Eu havia tido mais de 50 até aquele momento.

Aprendi muito. Tive muitas chances de jogada, muitas lutas no ringue com a escuridão, fazendo boas anotações. Então pensei: em vez de me levantar e criar a receita do sucesso ou uma dica iluminadora, eu compartilharia minha receita para evitar a autodestruição, e, certamente, autoparalisia.

A ferramenta encontrada provou ser a rede de segurança mais confiável para a queda livre emocional. Ela é a mesma ferramenta capaz de me ajudar a tomar as melhores decisões no trabalho. Mas isso é secundário. E é… o estoicismo

[Estoicismo é a doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264a.C.) e desenvolvida por várias gerações de filósofos. Ela se caracteriza por uma ética na qual a imperturbabilidade, a extirpação das paixões e a aceitação resignada do destino são as marcas fundamentais do homem sábio, o único apto a experimentar a verdadeira felicidade. O estoicismo exerceu profunda influência na ética cristã talvez por causa da rigidez de princípios morais ou pela resignação diante do sofrimento, da adversidade, do infortúnio.]

Parece entediante. (Risos) Talvez pensem no Spock, ou conjurem uma imagem como esta: (Risos) uma vaca parada na chuva. Não está triste, nem exatamente feliz. É só uma criatura impassível aceitando o que a vida manda.

Talvez não pensem no melhor competidor, Bill Belichick, técnico do New England Patriots. Ele detém o recorde de títulos do Super Bowl de todos os tempos. O estoicismo se espalhou como fogo no topo do ranking da NFL como forma de treinamento de resistência mental nos últimos anos.

Talvez vocês não pensem nos “pais fundadores”: Thomas Jefferson, John Adams, George Washington, citando três estudantes do estoicismo. George Washington, de fato, tinha uma peça sobre um estoico, chamada “Cato, uma tragédia”, encenada para suas tropas no Vale Forge, para mantê-las motivadas.

Mas por que pessoas ativas focam tanto Filosofia antiga? Parece muito acadêmico. Pensem no estoicismo de forma diferente: como um sistema operacional para prosperar em ambientes estressantes, para tomar decisões melhores.

Tudo começou aqui, mais ou menos, por volta de 300 a.C., em Atenas, uma pessoa chamada Zenão de Cítio deu muitas palestras caminhando em uma varanda pintada, uma “estoa“, o que, depois, se tornou “estoicismo“.

No mundo greco-romano, as pessoas usavam o estoicismo como um sistema abrangente para fazer muitas coisas. Mas, para nós, o principal objetivo é treinar para separar o que podemos de o que não podemos controlar. Depois, cabe fazer exercícios para focar exclusivamente o primeiro. Isso diminui a reatividade emocional, o que pode ser um superpoder.

[Fernando Nogueira da Costa: lembrei da Filosofia do Sarney, você deve dividir os problemas existentes em dois, um é insuperável, o outro o tempo lhe faz superar por si só.]

Por outro lado, digamos você ser um “quarterback“, perde uma jogada e fica furioso. Isso pode lhe custar o jogo. Se você é um CEO e perde a cabeça com um funcionário valioso por uma falha pequena, isso pode lhe custar o funcionário. Se você é um universitário em uma espiral descendente e se sente sem rumo e sem esperança, isso pode lhe custar sua vida. Então as apostas são muito, muito altas.

Há muitas ferramentas na caixa capazes de nos ajudar. Eu vou focar em uma: ela mudou completamente minha vida em 2004. Chegou até mim por duas razões: um amigo próximo, com a minha idade, havia morrido de câncer, inesperadamente, e minha namorada, com quem pensava me casar, ela me deixou. Ela tinha se cansado e não me deixou uma carta de despedida, mas ela me deu isso: uma placa de despedida.

Não estou inventando, eu ainda a tenho: “O horário comercial termina às 17h!” Ela me deu isso para pôr na minha mesa, para minha saúde, porque, na época, eu estava trabalhando no meu primeiro negócio. Estava perdido. Trabalhava 14 horas por dia, 7 dias por semana. Usava estimulantes para ficar ativo. Tomava antidepressivos para relaxar e dormir. Era um desastre. Eu me sentia completamente preso. Comprei um livro para, humildemente, tentar achar respostas.

Achei uma frase que fez uma enorme diferença na minha vida. Era: “Sofremos mais vezes na imaginação que na realidade“, de Sêneca, o Jovem, um famoso escritor estoico.

Isso me levou às cartas dele. Elas me levaram ao exercício, “premeditatio malorum“. Significa a premeditação dos males. Simplificando, é visualizar detalhadamente os piores cenários capazes de nos colocar medo. Eles nos impedem tomarmos uma atitude. Para tomar uma atitude é necessário superar o medo.

Meu problema era minha mente, muito barulhenta, incessante. Apenas pensar nos problemas não funciona. Tinha de pôr meus pensamentos no papel. Então, criei um exercício escrito. Chamei-o de “definição dos medos“. Era como fosse um plano de metas para mim. É composto por três páginas. Muito simples.

A primeira página está bem aqui. “E se eu…?” Lista tudo temido, capaz de nos deixar ansiosos, por isso, estamos sempre adiando. Pode ser convidar alguém para sair, terminar um relacionamento, pedir uma promoção, sair do emprego, abrir uma empresa. Qualquer coisa. Para mim era tirar as primeiras férias em quatro anos e deixar meu trabalho por um mês, para ir a Londres, onde ficaria no quarto de um amigo, de graça, para me retirar como obstáculo dos negócios ou fechá-lo.

Na primeira coluna, “Definir,” escrevemos tudo de pior, imaginado acontecer se tomarmos aquela decisão. Colocamos de 10 a 20. Não vou listar todos, mas vou dar dois exemplos. Primeiro: vou a Londres, vai estar nublado, vou ficar deprimido, vai ser uma grande perda de tempo. Segundo: deixo de receber uma carta da Receita e vou ser investigado, atacado, baleado ou algo assim.

Então passamos para a coluna “Prevenir“, onde escrevemos as respostas para: “O que posso fazer para impedir essas coisas acontecerem ou, pelo menos, diminuir um pouco a probabilidade?” Então, para não ficar depressivo em Londres, eu podia levar uma luz azul comigo e usá-la por 15 minutos pela manhã. Eu sabia aquilo ajudar a evitar crises depressivas. No caso da Receita, eu podia mudar o endereço do cadastro para a papelada fosse para o meu contador em vez de ir para a empresa. Muito fácil.

Então vamos para “Consertar“. Se acontecesse o pior, o que poderíamos fazer para reparar um pouco o dano, ou a quem poderíamos pedir ajuda? No primeiro caso, Londres, bem, eu poderia pegar um dinheiro, voar para a Espanha, tomar um sol. Consertar o estrago, caso estrasse em uma fossa. No caso de não receber a carta da Receita, poderia ligar para um amigo advogado ou perguntar, digamos, a um professor de Direito o que ele recomendaria, com quem eu poderia conversar, como lidaram com isso no passado. Então uma pergunta para se ter em mente enquanto fazemos essa primeira página é: “Alguém, na história do tempo, menos inteligente ou orientado resolveu isso?” Provavelmente a resposta é “sim“. (Risos)

A segunda página é simples: “Quais seriam os benefícios de uma tentativa ou de um sucesso parcial?” Estamos enfatizando os medos e olhando para o lado positivo. Se arriscamos fazer o que estamos considerando, construímos confiança, criamos habilidades, emocionalmente, financeiramente, ou de outra forma, quais seriam os benefícios de um golpe certeiro? Passem de 10 a 15 minutos nesse.

Página três. Essa pode ser a mais importante, então não pulem: “O preço da inatividade“. Nós, humanos, somos muito bons em pensar no que pode dar errado se tentarmos algo novo, como pedir um aumento. O que não consideramos é o custo cruel do status quo, o custo de não mudar nada. Então, devemos nos perguntar: “Se eu evitar essa ação ou decisão – e ações e decisões como esta –, como estará minha vida em 6 meses, 12 meses, 3 anos?” Mais longe isso começa a parecer intangível. E, detalhe, novamente, emocionalmente, financeiramente, fisicamente, tudo isso.

Quando fiz isso, criei um cenário aterrorizante. Estava me automedicando, meu negócio ia implodir a qualquer momento, se eu não me afastasse. Meus relacionamentos estavam desgastados ou fracassando. Percebi a inatividade não ser mais uma opção para mim.

Essas são as três páginas. Essa é a definição dos medos.

Depois disso, percebi, em uma escala de um a dez, um sendo mínimo impacto, dez sendo máximo impacto: se eu fosse viajar, arriscaria de um a três em dor temporária e reversível por oito a dez de mudança positiva de vida. Ela poderia ser semipermanente. Então eu fui. Nenhum dos desastres aconteceu. Houve alguns tropeços, claro. Consegui me libertar dos negócios. Acabei estendendo essa viajem por um ano e meio ao redor do mundo, e essa foi a base do meu primeiro livro. Ele me traz aqui hoje.

Eu posso localizar todas as minhas maiores vitórias e todos os meus desastres evitados fazendo a definição dos medos pelo menos uma vez por trimestre. Não é uma solução milagrosa. Vão descobrir: alguns dos seus medos são bem fundados. (Risos)

Mas você não deve concluir isso sem antes colocá-los sob um microscópico. Isso não torna fáceis todas as dificuldades e escolhas difíceis, mas pode tornar muitas delas mais fáceis.

Eu gostaria de acabar a palestra com o perfil de um dos meus estoicos modernos favoritos. Esse é Jerzy Gregorek. Tetracampeão olímpico de levantamento de peso, refugiado político, poeta publicado, ele tem 62 anos. Ele ainda pode me dar uma surra e provavelmente em muitos aqui. É um cara impressionante.

Passei bastante tempo em sua estoa, sua varanda, pedindo conselhos de vida e treino. Fez parte da Solidariedade, na Polônia, um movimento pela mudança não violento violentamente reprimido pelo governo. Ele perdeu seu emprego como bombeiro. Seu mentor, um padre, foi sequestrado, torturado, morto e jogado em um rio. Depois foi ameaçado. Ele e a esposa fugiram da Polônia, indo de país em país até chegarem aos EUA com quase nada, dormindo no chão.

Hoje ele vive em Woodside, Califórnia, em uma casa bem bacana. Entre as mais de 10 mil pessoas conhecidas na minha vida, eu o colocaria entre as top 10 em termos de sucesso e felicidade.

Tem uma conclusão, então, prestem atenção. Mandei uma mensagem, há algumas semanas, perguntando a ele: “Já leu alguma filosofia estoica?” Ele respondeu com duas páginas de texto. Isso foi bem atípico, ele é um cara sucinto. (Risos)

Ele não apenas era familiarizado com o estoicismo, mas apontou, para todas as decisões mais importantes, os pontos de inflexão dele, em que ele defendeu seus princípios e ética, como usou o estoicismo e algo como a definição dos medos, o que me deixou maravilhado!

Ele concluiu duas coisas. Número um: ele não podia imaginar vida mais bela em lugar da de um estoico. E a última, o mantra dele, ele aplica a tudo, e nós podemos aplicar a tudo: “Escolhas fáceis, vida difícil. Escolhas difíceis, vida fácil.

As escolhas difíceis, o que mais tememos fazer, perguntar, dizer, são, geralmente, aquelas mais necessárias de fazer. Os maiores desafios e problemas enfrentados nunca serão resolvidos com conversas confortáveis, seja dentro da sua mente ou com outras pessoas. Então, peço se perguntarem: “Onde na sua vida, agora, definir seus medos talvez seja mais importante em vez de definir suas metas?” Lembrando sempre das palavras de Sêneca: “Sofremos mais na imaginação em lugar de na realidade“.

Tim Ferriss em Palestra TED2017 sobre Estoicismo publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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