Juliana Machado (Valor, 19/03/19) informa: apesar dos péssimos fundamentos macroeconômicos na economia real a bolsa de valores está em alta. Especula ao comprar antes dos trouxas entrarem no mercado de ações, enganados por um governo preocupado apenas em desmantelar o Estado brasileiro. Ele promete de bons negócios para os parceiros exatamente dos bancos de negócios, nacionais ou estrangeiros, não importa ao “nacionalismo de direita anti-globalista, mas pró-americano”.
Desde a eleição presidencial, o investidor institucional local tem sido o grande responsável por alçar o Ibovespa a novos recordes. O estrangeiro não tem uma visão positiva para o Brasil, governado de maneira ideológica.Não é besta o bastante para elevar a exposição à renda variável local. Dados mais recentes da B3 mostram: no acumulado do ano até o dia 14 de março, os estrangeiros estão com uma posição negativa de R$ 597,2 milhões na bolsa. Já os investidores institucionais locais, fundos de ações onde eleitores do Bozo investem, estão alocados com R$ 4,6 bilhões até a mesma data.
Além de não contar com o impulso do capital externo, o Ibovespa chega aos 100 mil pontos aquém das máximas em termos reais e na comparação com os recordes batidos em dólares. Em moeda americana, o recorde do Ibovespa foi batido em 19 de maio de 2008, quando marcou 44.616 pontos (73.438 pontos em moeda local na época), durante o governo Lula. Agora, convertido pelo dólar PTax, o Ibovespa está em 26.237 pontos, ou seja, precisaria subir 70% para atingir o pico observado há quase 11 anos.
Se o cálculo do atual patamar da bolsa for feito corrigido pela inflação acumulada do período, a variação real do Ibovespa não superou a alta dos preços da economia do intervalo: desde as máximas em dólar de maio de 2008, o índice subiu 36%; com a correção pela inflação, houve queda de 25,6%.
A dificuldade de o Ibovespa retornar a tais níveis históricos é o atual patamar do câmbio. Em 2008, a taxa de câmbio estava em R$ 1,646; agora o dólar PTax está em R$ 3,811. Naquele ano, os efeitos da crise financeira mundial interferiam na demanda pelos mercados desenvolvidos, o que fez com que a moeda americana perdesse valor para outras divisas. Em contraste, a China adotava uma política de forte estímulo econômico, com consequente valorização para as matérias- primas como o minério de ferro e o petróleo, que ultrapassavam os US$ 100.
A onda de euforia atingiu então os países emergentes, sobretudo aqueles exportadores das commodities — caso do Brasil. Assim, o Ibovespa, com uma grande participação de companhias do segmento exportador, beneficiou-se diretamente dessa dinâmica.
Dessa vez, a movimentação das commodities também compõe a lista de motivos para a valorização da bolsa brasileira. O minério de ferro já subiu no ano 21,3%, enquanto o petróleo Brent avança 27,1% no período. Embora a confiança local tenha feito papéis ligados ao ciclo doméstico ganharem importância para os gestores, ações ligadas às oscilações externas tiveram ganhos robustos no acumulado de 2019.
A desaceleração global é um aspecto de dúvida para a sustentabilidade dos preços de matérias-primas, mas a redução da oferta de minério e de petróleo ainda dá sustentação aos preços.
No setor de commodities e matérias-primas — líderes das valorizações do índice –, o valor de mercado das empresas cresceu 15% no ano. Já os bancos registraram uma valorização de 11,4% em 2019, enquanto as companhias de varejo e consumo tiveram ganho de valor mercado conjunto de 3,8%. Em 2019, a maior alta do Ibovespa é da CSN: 85%. No total, 26 dos 65 papéis que compõem o índice renovaram máxima histórica de preços na bolsa neste ano.
Só gente desinformada e iludida aposta na melhora da situação fiscal do Brasil e na retomada do crescimento da economia. Elas foram capturadas pelos papéis das instituições financeiras e de outras empresas com grande “atraso”, como as construtoras. Só um crescimento sustentado faria um maior fluxo de renda se dirigir para a bolsa e se concentrasse justamente nos papéis de consumo e varejo.
“Essa marca [do Ibovespa] é histórica, mas é só o começo”, diz um propagador do “me engana que eu gosto”. O dito por qualquer vendedor de ilusões pró-mercado é reproduzido pela imprensa sem nenhum contraponto crítico: “Vemos um movimento de mudança estrutural no Brasil, com crescimento acompanhado de inflação ancorada, juros em mínima histórica e uma agenda de reformas que pode prolongar a longevidade desse cenário.” Podes crer… Acredite quem quiser ser enganado.
Especulação na Bolsa de Valores: Posicionamento na Espera do Regime de Capitalização publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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