FIGURA 5.1. Como os professores descreveram sua própria posição política. A relação esquerda-direita aumentou rapidamente desde meados da década de 1990. (Fonte: Higher Education Research Institute. Os dados são de pesquisas nacionalmente representativas de professores nos Estados Unidos.)
A Figura 5.1 mostra a porcentagem de professores (em todos os campos) que se identificaram em uma pesquisa como estando à esquerda (na linha superior), à direita (linha inferior), ou “meio da estrada” (linha do meio).
A proporção da esquerda para a direita no início dos anos 90 era de cerca de dois para um. Os poucos estudos datados de meados do século XX, geralmente também mostram os professores se inclinarem para a esquerda ou votarem nos democratas, mas não por uma margem muito desigual.
As coisas começaram a mudar rapidamente, no final dos anos 90. Foi quando os professores da Geração da Guerra começaram a se aposentar, para serem substituídos por membros da Geração Baby Boom. Em 2011, o índice chegou a cinco para um.
Os professores da Grande Geração eram predominantemente homens brancos que haviam lutado na Segunda Guerra Mundial. Depois, conseguiram um incentivo ao ensino superior a partir de uma legislação destinada a ajudá-los no período do pós-guerra. Essa onda de estudiosos incluiu muitos republicanos e muitos conservadores.
Os professores do Baby Boom, em contraste, eram mais diversificados por raça e gênero, mas menos diversificados em suas políticas. Muitos deles foram influenciados pela grande onda de protestos sociais na década de 1960. Muitos entraram em carreiras acadêmicas nas Ciências Sociais e na Educação para continuar a lutar por justiça social e causas sociais progressistas.
Por isso, a proporção muda muito mais dramaticamente quando olhamos para as profissões associadas à abordagem das preocupações de justiça social. No campo de Psicologia Social, a relação entre a esquerda e a direita era de dois para um e quatro para um dos anos 1930 até meados dos anos 90, mas depois começou a disparar, atingindo dezessete para um até 2016.
As razões em outros os campos centrais das Ciências Humanas e Sociais estão quase todos acima de dez para um. O desequilíbrio é maior em universidades de maior prestígio e na Nova Inglaterra. O único campo entre todas as Ciências Humanas e Sociais conhecido por ter diversidade política suficiente para permitir a desconfirmação institucionalizada é a Economia, onde a proporção entre a esquerda para a direita encontrada em um estudo sobre os registros de eleitores-professores foi comparativamente baixa de quatro para um.
[Fernando Nogueira da Costa: evidentemente, isso se altera de acordo com cada centro de ensino de excelência. Por exemplo, meus professores da graduação na FACE-UFMG (1971-1974) temiam se posicionar politicamente, mas eram na maioria ortodoxos. Nós, a liderança ou a vanguarda do movimento estudantil, éramos esquerdistas. Por isso, durante o regime militar ditatorial, fui fazer a pós-graduação na UNICAMP. Eu, passando no 3º lugar no concurso seletivo da ANPEC, poderia escolher qualquer uma, mas jamais iria para a FGV-RJ ou a FEA-USP, “antro de direitistas como Simonsen e Delfim Netto”. Quando voltei para fazer o doutorado em 1985, fui contratado como professor pelo IE-UNICAMP. Nele estou até hoje.]
A perda de diversidade política entre professores, particularmente em áreas que lidam com conteúdo politizado, pode minar a qualidade e o rigor da pesquisa acadêmica. Por exemplo, quando um campo carece de diversidade política, os pesquisadores tendem a se reunir em torno de questões e métodos de pesquisa geralmente capazes de confirmar a narrativa compartilhada, ignorando questões e métodos sem o oferecimento desse suporte ideológico.
A perda de diversidade política entre os professores também tem consequências negativas para os alunos, de três maneiras.
Primeiro, há o problema de muitos estudantes universitários têm pouca ou nenhuma exposição a professores de metade do espectro político. Muitos alunos se formam com um entendimento impreciso de conservadores, políticos e grande parte dos Estados Unidos. Três dias depois da vitória eleitoral inesperada de Donald Trump, os editores do principal jornal estudantil de Harvard revelaram exatamente ser este o caso em um editorial invocando o lema de Harvard, Veritas – a palavra latina para “verdade” – pedindo à administração lhes dar mais diversidade política:
“A busca pela Veritas, que sustenta nossa vida intelectual, exige não só que cada membro de nossa comunidade possa debater a política livremente, mas também que atendamos à multiplicidade de visões políticas que existem em nossa nação. Sufocar essa discussão no campus é um desserviço aos nossos pares na minoria política do campus e ao nosso próprio crescimento educacional.”
Em segundo lugar, a perda de diversidade de ponto de vista entre o corpo docente significa o que os alunos aprendem sobre tópicos politicamente controversos ter muitas vezes “deixado de lado” certas verdades.
Existe uma gama de opiniões razoáveis sobre muitas questões factuais. Por exemplo: quanto de aumento do salário mínimo faz com que os empregadores contratem menos trabalhadores pouco qualificados? Qual é a influência dos hormônios pré-natais sobre as diferentes preferências de brinquedo entre meninos e meninas?
Mas os estudantes em departamentos politicamente homogêneos, cuja maioria é exposta a livros e estudos de pesquisa extraídos da faixa da metade esquerda, então eles tendem a se inclinar para a ” verdade da esquerda”, em média. E vice-versa.
Por exemplo, é provável subestimarem a elasticidade da demanda por mão-de-obra, especialmente se frequentam universidades de prestígio na Nova Inglaterra.
Às vezes, a visão de esquerda se mostra correta, às vezes é a visão de direita, mas, em média, os estudantes se aproximarão da verdade se forem expostos a debates entre acadêmicos credenciados capazes de abordarem problemas difíceis de diferentes perspectivas.
Para agravar esse segundo problema, durante o mesmo período quando o corpo docente se tornava mais politicamente homogêneo, os estudantes também estavam mais monolíticos. Pesquisas de calouros ingressantes em Universidades, conduzidas pelo Instituto de Pesquisa de Educação Superior, mostram cerca de 20% dos estudantes ingressantes se identificarem como conservadores. Esse número se manteve estável desde o início dos anos 80.
Quem descreve a si mesmo como “moderado” compunha cerca de metade de todos os estudantes nas décadas de 1980 e 1990, mas esse número vem caindo desde o início dos anos 2000 – agora quem está nos 40 anos – como a porcentagem de progressistas (auto descritos como “liberais”) sobe para os elevados 30%. A mudança acelerou desde 2012.
Os coautores não estão dizendo haver algo intrinsecamente errado com o crescente número de estudantes de esquerda no campus. Mas estão dizendo a diversidade de pontos de vista é necessária para o desenvolvimento do pensamento crítico, enquanto a homogeneidade do ponto de vista (seja à esquerda ou à direita) deixa a comunidade vulnerável ao pensamento de grupo sectário e à ortodoxia dogmática.
Se tanto o corpo docente quanto os estudantes vêm perdendo moderados e ganhando progressistas, desde os anos 1990, e se essa mudança entre os estudantes se acelerou desde 2012, então esperamos ver algumas mudanças na cultura e na dinâmica social das universidades americanas, especialmente depois de 2012.
Este é o terceiro problema. É o problema durkheimiano. É o risco de algumas comunidades acadêmicas – particularmente aquelas nas partes mais progressistas do país – possam atingir níveis tão elevados de homogeneidade política e solidariedade de modo a passarem por uma mudança de fase, assumindo propriedades de uma entidade coletiva antitéticas aos objetivos normais de uma universidade.
Uma entidade coletiva mobilizada para a ação é mais propensa a reforçar a ortodoxia política e menos propensa a tolerar desafios às suas principais crenças ideológicas. Comunidades politicamente homogêneas são mais suscetíveis à caça às bruxas, particularmente quando se sentem ameaçadas de fora.
Relação entre Esquerda e Direita nos Campus Universitários Norte-americanos publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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