Benjamin Graham, no livro “O Investidor Inteligente”, avalia em grande parte das vezes, o mercado ser bastante preciso em sua avaliação dos preços da maioria das ações. Ao negociarem ações, milhões de compradores e vendedores fazem, na média, um trabalho de avaliação de companhias. Porém, às vezes o preço não está correto; ocasionalmente, está muito equivocado.
Em tais momentos, você precisa entender a imagem do Sr. Mercado elaborada por Graham, provavelmente a metáfora mais brilhante já criada para explicar como as ações acabam tendo preços errados. O Sr. Mercado, maníaco-depressivo, nem sempre cota as ações da forma que um avaliador ou comprador privado avaliaria um negócio. Em vez disso, quando as ações estão subindo, ele paga acima do valor objetivosem pestanejar, e quando elas estão caindo, ele fica desesperado para se livrar delas por menos que seu valor verdadeiro.
O Sr. Mercado ainda está por aí? Ele ainda é bipolar? Pode apostar: é sim. Em caso de amor selvagem com certas ações, o Sr. Mercado deixa de notar algo com relação a seus negócios. A companhia pode estar perdendo dinheiro, muito dinheiro com o pagamento de dívidas relacionadas às aquisições de outras companhias – troca de propriedade sem adicionar valor à economia produtiva – ou mesmo aos investimentos em prospecção de novos negócios para agregar valor no futuro.
Subitamente, o Sr. Mercado entra em uma depressão repentina e terrível. O havia muda? Apenas o humor do Sr. Mercado quando os investidores ficam enlouquecidos com fake Newsda internet ou manchetes escandalosas para vender jornal e cotam as ações de maneira disparatada em relação às receitas das companhias. O Sr. Mercado se metamorfoseia ao passar de Dr. Jekyll a Sr. Hyde e ataca furiosamente todas as ações quando percebe ter sido feito de bobo.
Porém, nem a fúria noturna do Sr. Mercado nem sua euforia maníaca se justifica. Em uma data qualquer outra companhia anuncia a compra da companhia alvejada por valor para a ação um pouco superior ao piso do fundo-do-poço vigorante no Sr. Mercado. Isso representa se aproveitar de uma subvalorização. Quando o Sr. Mercado torna as ações tão baratas, não surpreende que companhias inteiras sejam compradas imediatamente bem embaixo de seu nariz – ou mais ainda dos seus olhos…
Você permitiria de bom grado a um “lunático de carteirinha” dizer-lhe, pelo menos cinco dias por semana, para você se sentir exatamente igual a ele? Você concordaria, alguma vez, em ficar eufórico apenas porque ele está, ou se sentir infeliz apenas porque ele pensa assim você deveria se sentir?
Não. Você insistiria em seu direito de assumir o controle de sua própria vida emocional, com base em suas experiências e crenças. Porém, quando se trata de sua vida financeira, milhões de pessoas deixam o Sr. Mercado dizer-lhes como se sentire o que fazer apesar do fato óbvio de, de tempos em tempos, ele tem surtos de loucura.
Quando o Sr. Mercado está gargalhando prazerosamente, os empregados com desconto de imposto de renda em folha de pagamentos devem destinar, em média, 12% de seus salários brutos para seus planos de aposentadoria em contas PGBL com 45% em renda variável? Ou, após o Sr. Mercado ter gasto anos arremessando ações para dentro de sacos de lixo pretos, a taxa média de contribuição deve baixar em quase um quarto, ou seja, para apenas 8%? Quanto mais baratas as ações, menos ansiosas as pessoas ficaram para comprá-las, porque estavam imitando o Sr. Mercado em vez de pensarem por si mesmas.
O investidor inteligente não deveria ignorar inteiramente o Sr. Mercado. Em vez disso, deveria fazer negócios com ele, mas apenas quando ele servir a seus interesses. O trabalho do Sr. Mercado é fornecer preços; o seu é decidir se é vantajoso para você agir com base neles. Você não precisa negociar com ele apenas porque ele constantemente suplica para você o fazer.
Ao impedir o Sr. Mercado se tornar seu amo, você o transforma em seu servo. Afinal, mesmo quando ele parece estar destruindo valores, ele os está criando em outro lugar. A medida mais ampla do desempenho das ações pode subir em grande parte, por exemplo, por causa do desempenho das ações de tecnologia de informações e telecomunicações (TIC). No entanto, ações de determinadas empresas podem cair de valor mesmo enquanto a média estar subindo. Ao mesmo tempo quando aquelas ações de alta tecnologia e telecomunicações estavam mais valorizadas, centenas de ações da “velha economia” podem estar ficando cada vez mais baratas.
Uma das percepções mais poderosas de Graham é esta: “o investidor ao se deixar arrebatar ou se preocupar sem razão com o efeito de quedas injustificadas do Sr. Mercado sobre sua carteira está transformando, de forma perversa, sua vantagem básica em uma desvantagem básica”.
O investidor inteligente individual tem total liberdade para escolher seguir ou não o Sr. Mercado. Você pode se dar ao luxo de pensar por si mesmo.
O típico gestor de recursos de terceiros, no entanto, não tem qualquer escolha a não ser imitar todos os movimentos do Sr. Mercado, a saber, comprar na alta, vender na baixa, caminhar quase sem raciocinar no rastro de seus passos erráticos. Aqui estão algumas das desvantagens dos gestores de fundos mútuos e de outros investidores profissionais:
- Com bilhões de dólares sob seu controle, eles devem gravitar em direção às maiores ações, as únicas capazes de comprar nas quantidades multimilionárias exigidas para preencher suas carteiras. Portanto, muitos fundos terminam comprando os mesmos gigantes supervalorizados.
- Os investidores tendem a colocar mais dinheiro nos fundos quando o mercado sobe. Os gestores usam esse novo dinheiro para comprar uma quantidade maior das ações já possuídas, levando os preços a alturas ainda mais perigosas.
- Se os investidores em fundos pedirem seu dinheiro de volta quando o mercado cair, os gestores podem precisar vender ações para pagá-los. Assim como os fundos são forçados a comprar ações a preços inflacionados em um mercado de alta, eles se tornam vendedores forçados quando as ações ficam novamente baratas.
- Muitos gestores de carteira recebem um bônus se baterem o Sr. Mercado, por isso medem obsessivamente seus lucros, comparando-os com referências, como o índice de 500 ações da S&P ou o Índice Bovespa. Se uma companhia é incorporada a um índice, centenas de fundos a compram compulsivamente. Se não comprarem, e aquela ação tiver um bom desempenho, os gestores parecem incompetentes e são despedidos. Se eles a compram e ela não se sair bem, ninguém os condenará por isso com desemprego.
- Cada vez mais, espera-se os gestores de fundos se especializarem. Assim como ocorre na Medicina, onde o clínico geral deu lugar aos especialistas em alergia pediátrica e otorrinolaringologia geriátrica, os gestores de fundo devem comprar apenas ações “pequenas de crescimento rápido” ou apenas ações de “valor intermediário” ou nada além de ações de “conglomerados grandes”. Se uma companhia fica grande demais, ou pequena demais, ou um pouco cara demais, o fundo precisa vendê-la pela estratégia adotada – e anunciada para os investidores –, mesmo se o gestor adorar a ação.
Portanto, não há razão para você não alcançar resultados tão bons quanto os dos profissionais. O que você não pode fazer (apesar de todos os sábios terem dito o contrário) é “ganhar dos profissionais no jogo deles”. Os profissionais não conseguem nem ganhar em seu próprio jogo! Por que você desejaria até mesmo jogá-lo? Se você seguir as regras dele, perderá, pois terminará tão escravo do Sr. Mercado quanto são os profissionais.
Em vez disso, reconheça: investir com inteligência envolve controlar o controlável. Você não pode controlar se as ações compradas por você (ou o fundo de ações onde investiu) superarão o mercado hoje, na próxima semana ou neste ano. No curto prazo, seus retornos serão sempre reféns do Sr. Mercado e de seus caprichos. No entanto, você pode controlar:
- seus custos com corretagem, ao negociar pouco, com paciência e de forma barata;
- seus custos de propriedade, ao recusar comprar fundos mútuos com despesas anuais excessivas;
- suas expectativas, ao utilizar o realismo, não a fantasia, para prever seus rendimentos;
- seus riscos, ao decidir qual a proporção de seus ativos a ser colocada em risco no mercado acionário, diversificando e reequilibrando;
- suas contas de impostos, ao manter ações durante, pelo menos, um ano e, sempre quando possível por, pelo menos, dez anos quando aplicar em PGBL com tributação regressiva (a partir de 35%, menos 5% de alíquota a cada 2 anos até restar só 10% sobre a retirada), para baixar os impostos sobre ganhos de capital;
- e, mais importante de tudo, seu próprio comportamento.
Se você assistir à TV financeira ou ler a maioria das colunas sobre o Sr. Mercado, pensará que investir é algum tipo de jogo de aposta em um cassino. No entanto, investir não significa ganhar dos outros em seu jogo. Significa controlar-se em seu próprio jogo. O desafio para o investidor inteligente não é encontrar as ações com mais capacidade de subir e menos de cair, mas, em vez disso, evitar ser seu próprio pior inimigo, ou seja, comprar na alta apenas porque o Sr. Mercado diz “Compre!” e vender porque o Sr. Mercado diz “Venda!”.
Se seu horizonte de investimento é longo, pelo menos 30 ou 35 anos até a aposentadoria, há apenas uma abordagem sensata: comprar todo mês, automaticamente, e sempre quando você tiver dinheiro sobrando. A melhor escolha isolada para essa carteira de longo prazo é um fundo de índice do mercado acionário. Venda apenas quando você precisar de dinheiro.
Para ser um investidor inteligente, você deve também se recusar a julgar seu próprio sucesso financeiro de acordo com o desempenho de um bando de desconhecidos – ou mesmo com o de seu colega ou cunhado.
Afinal, o objetivo do investimento não é ganhar mais dinheiro em relação à média, mas ganhar o suficiente para suas necessidades. A melhor forma de medir seu sucesso nos investimentos não é se você está superando o Sr. Mercado, mas se você colocou em prática um plano financeiro e a disciplina comportamental capaz de levar aonde deseja chegar. No fim, o que importa não é cruzar a linha de chegada antes dos outros, mas se certificar de a cruzar.
Sr. Mercado: Comportamento Desumano emergente de interações de Comportamentos Humanos publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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