Alex Pentland, no livro “Física social: como boas ideias são disseminadas – as lições de uma nova ciência” (“Social Physics: How Good Ideas Spread-The Lessons from a New Science”. New York: The Penguin Press; 2014), avalia: a maioria das Ciências Sociais atuais é baseada na análise de fenômenos de laboratório ou em pesquisas, ou seja, em descrições de médias ou estereótipos. Essas abordagens não levam em conta a complexidade da vida real, quando todas as nossas peculiaridades mentais operam ao mesmo tempo.
Elas também sentem falta do fato crítico: os detalhes sobre as pessoas com quem interagimos e como interagimos com elas. Importam tanto quanto as forças de mercado ou as estruturas de classe. Os fenômenos sociais são, na verdade, compostos de bilhões de pequenas transações entre indivíduos. Essas pessoas negociam não apenas bens e dinheiro, mas também informações, ideias ou apenas fofocas.
Há padrões nessas transações individuais geradoras de fenômenos como colisões financeiras. Precisamos entender esses micropadrões, porque eles não apenas medem a maneira clássica de entender a sociedade. O Big Data nos dá a chance também de ver a sociedade em toda a sua complexidade, através das milhões de redes de trocas pessoa a pessoa.
O objetivo deste livro de autoria de Alex Pentland é explicar como a Física Social reúne grandes dados sobre comportamento humano. Esses novos fundamentos das Ciências Sociais propiciam uma ciência prática. Ela pode ser – e, na verdade, já está sendo –aplicada em muitos cenários do mundo real.
Na primeira parte do livro, Pentland coloca algumas bases teóricas através de exemplos ilustrativos dos dois conceitos mais importantes da Física Social:
- o fluxo de ideias dentro das redes sociais: como elas podem ser separadas em exploração (encontrar novas ideias / estratégias) e engajamento (fazendo todos coordenarem seu comportamento);
- aprendizagem social: como novas ideias se tornam hábitos e como a aprendizagem pode ser acelerada e moldada pela pressão social.
Esta primeira parte do livro também descreve como podemos usar “migalhas de pão digitais” para produzir medidas práticas e precisas de conceitos como influência social, confiança e pressão social. Essa técnica nos permite medir o fluxo de ideias nas redes sociais e implantar incentivos capazes de moldar o padrão de aprendizagem social em situações do mundo real. Pentland usa exemplos de redes sociais on-line, saúde, finanças, política e comportamento de compra do consumidor para ilustrar o funcionamento da Física Social.
Na segunda parte do livro, Pentland usa vários tipos de exemplos do mundo real para demonstrar como a Física Social tem sido usada para tornar as organizações mais flexíveis, criativas e produtivas. Os exemplos incluem laboratórios de pesquisa, departamentos de publicidade criativa, operações de suporte de sala de apoio e call centers.
A terceira parte examina a Física Social em uma escala muito maior, ou seja, para as cidades. Aqui seu foco principal é como podemos usar a Física Social para reestruturar nossas cidades para sermos mais eficientes, além de mais criativas e produtivas.
Na seção final, discute como a Física Social se aplica às nossas instituições sociais. Aqui ele explora o papel do governo e a estrutura do Direito e da regulação em uma sociedade baseada em dados. Sugere mudanças na privacidade e na regulação econômica.
Ao longo da leitura, espera o leitor aprender o modo de pensar da Física Social. Em muitos aspectos, essa nova abordagem é semelhante à Economia, devido ao seu caráter quantitativo e preditivo. De fato, muito da linguagem usada por Pentland neste livro é extraída da Economia.
Mas, em vez de estudar como funcionam os agentes econômicos e como as economias funcionam, a Física Social busca entender como o fluxo de ideias se transforma em comportamento e ação. Em outras palavras, a Física Social é sobre como o comportamento humano é impulsionado pela troca de ideias – como as pessoas cooperam para descobrir, selecionar e aprender estratégias e coordenar suas ações – em vez de como os mercados são movidos pela troca de dinheiro por bens e serviços e/ou ativos – formas de manutenção de riqueza.
A Física Social também compartilha alguma semelhança superficial com outros domínios acadêmicos, como as Ciências Cognitivas. O contraste entre a maioria das Ciências Cognitivas e a Física Social é, no entanto, bastante importante. Em vez de se concentrar em pensamentos e emoções individuais, a Física Social se concentra na aprendizagem social como a principal impulsionadora de hábitos e normas.
Uma suposição fundamental é aprender com exemplos de comportamento de outras pessoas – e os recursos contextuais relevantes. Este é um mecanismo dominante e provável de mudança de comportamento em humanos. Por não tentar capturar processos cognitivos internos, a Física Social é inerentemente probabilística, com um núcleo de incerteza irredutível, causado por evitar a natureza geradora do pensamento humano consciente.
Física Social: Uma Bem-Fundamentada Ciência Social publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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