sexta-feira, 1 de março de 2019

Economia Estagnada e Sem Nenhum Plano de Recuperação

A estimativa do PIB, realizada pelo IBGE, comprovou a economia brasileira em 2018 ter crescido apenas 1,1%, reforçando a estagnação caracterizada pela recuperação lenta do investimento e pela expansão muito pequena do consumo das famílias.

Dados do mercado de trabalho decepcionaram os louvadores de O Mercado. O desemprego no trimestre encerrado em janeiro de 2019 ficou em 12%, acima do previsto pelos vendedores de ilusões. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou a criação de 34 mil vagas formais no primeiro mês do ano, bem abaixo da média de 82 mil estimada pelos analistas em autoengano coletivo.

Com uma atividade estagnada e uma inflação baixa, inferior a 4%, começa a crescer até entre os economistas ortodoxos a ideia de ser necessário um corte na Selic neste ano. Aí a ignorância deles aparece mais uma vez: a política monetária é assimétrica, arma muito poderosa para provocar uma depressão ou recessão, mas muito inoperante para provocar uma retomada do crescimento. É feito uma corda: puxa o touro, mas quando ele vem na sua direção de nada serve para retrocedê-lo. É como puxar a cauda de um tigre: ele te devora!

Se eles tivessem lido Keynes saberiam: pode-se levar um cavalo à fonte, mas não pode obrigá-lo à beber! É a armadilha da liquidez. Entre o cálice e os lábios existe a incerteza.

A taxa de juro básica está em 6,5% ao ano desde o início de 2018 — e nada de crescimento sem o gasto público substituir o gasto privado, paralisado pelas expectativas negativas dos empresários. Quem investirá no Brasil sob a casta dos militares e incompetentes no ministério do capitão?!

No entanto, os idiotas de O Mercado condicionam a ação da política econômica de retomada do crescimento à aprovação da reforma da Previdência. Repetem essa ladainha enfadonha na mídia, diariamente, sem explicar qual é o mecanismo de transmissão entre uma coisa de efeito em longo prazo e a outra de impacto em curto prazo. Estado de confiança?! Só 🙂

A economia continua a caminhar a um ritmo fraco, mesmo depois da recessão cavalar do segundo trimestre de 2014 ao quarto de 2016. No ano passado, colocam a culpa nas incertezas provocadas pela greve dos caminhoneiros e pelas eleições. Elas teriam travado muitos investimentos. Ora, é mentira! Em uma economia com enorme capacidade ociosa não haverá tão cedo investimento privado sem o gasto público contra as expectativas negativas.

O clima de indefinição acabou após a eleição, haverá alguma reforma da Previdência e não haverá investimentos privados!

O resultado acumulado pelo PIB em quatro trimestres evidencia a dificuldade da atividade em ganhar tração. Nessa medida, o PIB atingiu o fundo do poço no segundo trimestre de 2016, com uma queda de 4,5%, provocado pelo locaute golpista empresarial da FIESP.

A recuperação é ridícula, atingindo alta de 1,1% no acumulado em 2017. De lá para cá, o desempenho pouco se alterou, mostrando o custo do golpe em 2016. Alcançou crescimento de 1,4% nos quatro trimestres até setembro de 2018, mas voltou para o ritmo de 1,1%. Em um ranking de 42 países que já divulgaram o dado de 2018, o Brasil ocupa o 40o. lugar, antepenúltimo, segundo a Austin Rating.

A recuperação da economia brasileira é a mais lenta da história das várias recessões pelas quais passou o país desde os anos 80s.

  • Nos oito trimestres seguintes à recessão de 1981/83, quando o PIB recuou 8,5%, a atividade cresceu 11,7%.
  • Dois anos após a contração de 7,7% de 1989/92, o crescimento foi de 8,4%.
  • Nos oito trimestres após a recessão de 2014/16, marcada por contração de 8,2%, o PIB acumulou expansão de apenas 3,4%.
  • Esse número é a comparação entre o PIB do quarto trimestre de 2016 e o quarto trimestre de 2018, na série com ajuste sazonal.

As recuperações costumam ser em ‘V‘, mas esta tem sido de um ‘U‘ abolado.

Ao longo do ano passado, o avanço da economia não foi uniforme. Cresceu 0,4% no primeiro trimestre, zero no segundo, 0,5% no terceiro e apenas 0,1% no quarto, na série com ajuste sazonal. Pior, a economia terminou em ritmo mais fraco no fim do ano com a eleição do capitão sem os atributos necessários para ser presidente do país.

Exemplo disso é, dentro do setor serviços (+0,3% no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior), o comércio caiu 0,1%, mostrando como o consumo teve desaceleração. Ainda no lado da oferta, a indústria caiu 0,3% e agropecuária cresceu só 0,2%.

Pelo lado da demanda, a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas, equipamentos, construção e pesquisa) caiu 2,5% no quarto trimestre. O consumo das famílias cresceu 0,4%, e o do governo caiu 0,3% no período. No acumulado do ano, o investimento cresceu 4,1%, o primeiro ano de expansão depois de quatro anos seguidos de queda. A alta em 2018 da FBCF, depois de cair mais de 30% na crise, foi em parte inflada pelas operações de plataformas de petróleo. Elas passaram a ser registradas como importação de bens de capital.

O consumo das famílias cresceu 1,9% no ano passado, um ritmo tampouco exuberante. A demanda das famílias foi a principal responsável pela expansão de 2018, compensando a contribuição negativa do setor externo, de 0,5 ponto percentual, porque as exportações cresceram menos que as importações. E ainda tem economistas neodesenvolvimentistas, assessores do Ciro Gomes, pregando um choque cambial inflacionário com maxidesvalorização da moeda à la Delfim Neto em 1979 e 1983, em benefício de exportações industriais!

Atrapalha a herança estatística de 0,4% deixada por 2018. Isso significa: se o PIB encerrar este ano no mesmo nível do fim de 2018, o crescimento será de 0,4%.

Faltam elementos para impulsionarem a economia em um ritmo acima de 2%. A indústria deve avançar com dificuldades. A recessão argentina e o cenário mais conturbado no exterior devem manter a volatilidade dos juros longos aqui. A desaceleração global pode implicar menos exportações. Isso afeta as decisões de investimento e produção. No lado doméstico, a fragilidade política demonstrada pelo governo do capitão e seus filhos também entra nessa conta.

A aprovação da reforma da Previdência não é um fator para se traduzir em aumento de atividade. Há entraves como o mercado de trabalho precário e a falta de recursos dos governos federal e regionais para investimentos.

Teremos uma nova década perdida, lembrando os anos 1980, quando houve perda de 0,3 ponto porcentual ao ano de PIB per capita. Este cenário se repete no período de 2011 a 2018.

A taxa de crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) do governo do ex-presidente Michel Temer foi a terceira mais baixa do período pós-redemocratização do país, superando apenas o desempenho dos governos Dilma Rousseff e Fernando Collor, mostram cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Com o resultado divulgado pelo IBGE, a taxa de crescimento do PIB trimestral médio do governo Temer foi 0,27%, na série com ajuste sazonal. Essa taxa considera o início do mandato em maio de 2016, quando a abertura do impeachment afastou a petista por 180 dias, Temer assumiu e anunciou sua equipe. O avanço do PIB total do governo Temer foi de 2,8%.

O desempenho da economia brasileira sob Temer foi um pouco melhor do que a taxa de crescimento do PIB trimestral médio do governo de Dilma Rousseff (+0,02%) e também de Fernando Collor de Mello (-0,1%). Ambos foram, respectivamente, o penúltimo e último colocados no levantamento do Ibre/FGV. Os dois mandatários foram afastados por processos de impeachment — e locaute ou sabotagem econômica.

O levantamento mostra que o governo de Itamar Franco teve a melhor média trimestral de crescimento, de 1,8%. A economia de seu governo foi ajudada pelo “boom” de consumo provocado pela implementação do Plano Real, em 1994. Depois dele, o melhor crescimento trimestral médio da economia brasileira foi registrado no governo de José Sarney, de 0,9%.

O crescimento do PIB trimestral médio do governo Lula, considerando os dois mandatos, foi de 0,6%. O avanço acumulado em seus dois mandatos, porém, foi o maior de todos os ex-presidentes: 37,4%.

Conforme divulgado ontem pelo IBGE, o PIB cresceu 1,1% em 2018, o mesmo ritmo de crescimento do ano anterior (1,1%). Se em 2017 a expansão da economia brasileira foi ajudada por uma safra agrícola recorde, o crescimento do ano passado foi baseado no resultado da indústria e dos serviços.

O PIB de cada presidente pode, claro, ser relativizado. Os mandatários “herdam” um ciclo econômico dos antecessores, herança esta que pode ser positiva ou negativa. O governo Temer, por exemplo, teve início em meio a uma das maiores recessões documentadas no país, gestada no segundo mandato da presidente Dilma sob Joaquim Levy, um economista neoliberal. Ele deu o choque tarifário inflacionário e o Banco Central respondeu com uma grande alta na taxa de juros, fixando-a em 14,25% aa por quinze meses!

O Produto Interno Bruto (PIB) per capita teve o equivalente a uma “década perdida” em apenas três anos, de 2014 a 2016. Desde então a recuperação foi mínima, como mostram os dados das Contas Nacionais divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A instituição, na verdade, refere-se ao período de 12 anos, entre 1981 e 1992, quando o indicador caiu 7,6%. Em apenas um terço desse período, entre 2014 e 2016, o PIB per capita afundou 8,6%.

No ano passado, o PIB per capita brasileiro cresceu apenas 0,3%, a mesma taxa de 2017, e atingiu R$ 32.747, segundo o IBGE.

Em 2014, houve queda de 0,3%, que se aprofundou a -4,4% e, em 2015, e -4,1% em 2016. No auge recente, o indicador aumentou 6,5% em 2010, na esteira da recuperação econômica após a recessão um ano antes causada pela crise financeira global.

O PIB per capita é calculado a partir da divisão do valor corrente do PIB pela população residente do país. O indicador é frequentemente usado por economistas para comparar o nível de riqueza e de bem-estar entre diferentes países.

A participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) voltou a recuar no ano passado e atingiu o menor nível em pelo menos 18 anos. O peso da indústria de transformação no valor adicionado bruto da economia foi de 11,3% em 2018, abaixo dos 12,2% do ano anterior. Em 2005, o setor representava 17,4% da economia, seu pico na série histórica iniciada em 2000.

A perda de participação ocorre apesar do crescimento em volume da indústria de transformação no acumulado do ano passado. A atividade do setor cresceu 1,3% em volume frente ao ano anterior, impulsionada por ramos como veículos, papel e celulose, remédios e metalurgia.

Apesar do avanço de 1,3% em volume, os bens da indústria de transformação registraram queda de 5,72% nos preços em 2018. Dessa forma, o valor adicionado (volume versus preços) ficou no campo negativo.

Além disso, chama a atenção o ganho de participação da indústria extrativa, que passou de 1,7% em 2017 para 3%. Esse avanço é explicado tanto pelo aumento do volume (1%) quanto dos preços (84,5%) no ano passado.

Houve valorização dos preços das commodities como minério de ferro e petróleo. Então, o valor da indústria extrativa cresceu tomando participação de outras atividades, como a indústria de transformação.

A queda dos preços da indústria de transformação não surpreende. O setor sofre com a recuperação ainda lenta e está exposto à concorrência dos importados.

Para além do desempenho do ano passado, a indústria de transformação vem em processo de perda de participação no PIB há mais de uma década, parte de um processo que classificou de “desindustrialização prematura“.

Em países desenvolvidos, a indústria perde espaço para o setor de serviços na economia, refletindo o aumento da renda das famílias. Não é o caso brasileiro. Aqui há problemas estruturais, como a falta de investimentos, de tecnologia, carga tributária.

O setor industrial enfrentou na última década variáveis negativas, como o câmbio desfavorável e taxa de juros elevadas, o que teria resultado no envelhecimento do parque fabril. Tudo isso provocou a perda de competitividade da indústria.

Economia Estagnada e Sem Nenhum Plano de Recuperação publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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