André Rocha (Valor, 27/02/19) comenta o equívoco de considerar a aplicação em ações uma atividade meramente especulativa. A maioria dos leigos não sabe qual é o impacto sofrido por uma empresa aberta quando as suas ações desvalorizam na bolsa de valores. Se a empresa já “ganhou” o seu dinheiro quando fez o IPO, o impacto é somente para quem comprou as ações?
Rocha explica como funciona o mecanismo de transmissão entre os recursos obtidos em uma abertura de capital na bolsa e a atividade econômica.
Quando uma companhia fechada vai abrir seu capital na bolsa, ela precisa oferecer suas ações aos investidores. O nome dessa operação é IPO (“Initial Public Offering“, na sigla em inglês). Essa oferta pode ser de dois tipos:
- primária ou
- secundária.
Na primeira (emissão primária), a companhia emite novas ações. O valor obtido vai para o caixa da empresa e tem como contrapartida um aumento do patrimônio líquido. Esses recursos são utilizados, em regra, para investimentos orgânicos, aquisição de concorrentes com o objetivo de consolidar seu mercado de atuação ou redução do endividamento.
A equação do PIB pela ótica da demanda é: PIB = C + G + I + (X – M), em que: C é o consumo privado de bens de consumo; G, o consumo desses bens por parte do governo; I, os investimentos das companhias; X, exportações e M, importações.
Caso a companhia tenha feito seu IPO com o intuito de fazer investimentos, o I irá aumentar, contribuindo para o incremento do PIB. É fácil perceber que ela, embora de forma modesta, contribui individualmente para a atividade econômica.
Na emissão secundária, não há emissão de novas ações e os acionistas originais transferem suas ações para os novos acionistas na operação de abertura de capital. Nesse caso, os recursos não transitam no caixa da companhia, indo direto para os bolsos dos acionistas originais.
Daí a pergunta — “qual é o impacto que uma companhia sofre quando suas ações se desvalorizam na bolsa?” — tem a seguinte resposta.
Quando a companhia já possui ações negociadas na bolsa de valores, se ela quiser fazer uma expansão da sua planta fabril, mas já é alavancada, o endividamento a restringe a buscar capitais de terceiros emprestados no mercado bancário. A solução alternativa seria fazer uma oferta de ações no mercado.
Como ela é listada, já fez anteriormente a sua oferta de abertura de capital (IPO). Agora, ocorrerá uma oferta subsequente (“follow-on“, em inglês). Sendo uma oferta primária, haverá emissão de novas ações.
Quanto maior o preço da ação, menos ações serão emitidas, reduzindo a diluição dos acionistas atuais.
Em outra situação, essas ações poderão ser usadas como garantia para a tomada de um empréstimo. Quanto mais baixo o preço da ação, mais ações deverão ser dadas em garantia.
Assim, a companhia e seus controladores possuem interesse de suas ações se manterem valorizadas. Um preço depreciado da ação reduz a capacidade de financiamento da empresa.
Desvalorização de Ações: Efeito em Empresa Aberta publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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