terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Inflação de Alimentos e de Serviços: Seca e Estagnação sob controle?

A inflação tende a acelerar em 2019, com reajustes nos preços de serviços puxados pela gradual melhora do emprego e maior espaço para as empresas repassarem custos aos consumidores, recuperando margens. Ainda assim, os preços de serviços e a média dos núcleos da inflação — medidas acompanhadas de perto pelo Banco Central para definição da política monetária — continuarão em nível tranquilo e abaixo do padrão histórico.

A elevada ociosidade da economia explica os preços comportados, apesar dos choques provocados pela greve dos caminhoneiros e pela desvalorização cambial. Prova disso é que a média dos núcleos da inflação — retirados os itens mais voláteis para melhor captar a tendência de preços — desaceleraram de 3,15% em 2017 para 2,77% em 2018, no índice acumulado de 12 meses.

A expectativa a média dos núcleos chegar ao fim de 2019 em 3,59%, acelerando em relação aos anos anteriores, mas ainda muito comportada. Como base de comparação, de dezembro de 2003 a dezembro de 2018, a mediana do indicador é de 6,1%.

O núcleo da inflação reflete melhor o estado da demanda doméstica, excluindo ou reduzindo o peso de itens que geram alguns choques de preços (positivos ou negativos) relacionados à interrupção de fornecimento no mercado interno, questões sazonais ou até mesmo alguns choques nos preços globais de commodities específicas que são repassados para os preços no mercado local.

Já a inflação de serviços encerrou 2018 em 3,34%, no menor patamar desde 2000. A própria inércia inflacionária jogou a favor.”O fato de a inflação de 2017 ter sido de 2,95% faz com que os reajustes praticados em 2018 tenham sido menores do que no ano anterior.

A inflação de serviços deve ir a 4,3% em 2019, puxada pela melhora da economia, com redução do desemprego e aumento do trabalho com carteira, o que afeta os custos do setor com salários e também a demanda das famílias. Ainda assim, o nível é bastante tranquilo, considerando de 2011 a 2015 a inflação de serviços ter ficado acima dos 8% ao ano.

O desemprego ainda elevado, a capacidade ociosa da indústria e uma depreciação mais moderada do câmbio devem contribuir para esse cenário benigno.

O resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2018 mostrou uma inflação domada, refletindo em boa parte uma economia com grande ociosidade de recursos, em que a taxa de desemprego ainda é muito elevada – de 11,6% no trimestre encerrado em novembro, o equivalente a 12,2 milhões de pessoas.

O IPCA teve alta de 3,75% no ano passado, mais que os 2,95% de 2017, mas consideravelmente abaixo da meta de 4,5%. Em dezembro, o IPCA avançou 0,15%, a menor variação para o mês desde 1994, ainda que tenha ficado um pouco acima da média das projeções dos analistas consultados pelo Valor Data, de 0,12%.

A inflação de serviços e as medidas de núcleo (que buscam eliminar ou reduzir a influência dos itens mais voláteis) ficaram extremamente comportadas em 2018, com variação consideravelmente inferior ao do índice “cheio”. Os preços livres, determinados pelo mercado, subiram apenas 2,91%, enquanto os preços administrados (como tarifas de serviços públicos e gasolina) avançaram 6,22%. No acumulado do ano, a energia elétrica subiu 8,7%, e a gasolina, 7,24%.

Nos últimos meses, porém, esses itens têm registrado um comportamento benigno. Em dezembro de 2018, os preços administrados caíram 0,89%, com queda de 1,96% da energia elétrica e 4,8% da gasolina.

O efeito da lenta recuperação da economia, em um quadro de grande ociosidade, fica evidente no comportamento dos núcleos da inflação. O IPCA EX 2, que reúne alimentos, serviços e bens industriais mais sensíveis ao ciclo econômico, teve alta de apenas 2,2% em 2018, abaixo até mesmo do piso da banda de tolerância da meta, de 3%.

O índice de difusão, que mostra o percentual de itens em alta no mês, passou de 54,6% em novembro para 61,1% em dezembro. É um número bastante próximo da média histórica, de 61,8%.

A inflação de 2018 teria sido ainda mais baixa se não fosse o efeito da greve dos caminhoneiros, paralisação iniciada em 21 de maio, com duração de 11 dias. O evento pressionou os preços de junho, levando o IPCA daquele mês a fechar em alta de 1,26%, um ponto fora da curva num ano marcado por um quadro inflacionário benigno. A greve acrescentou cerca de 0,5 ponto percentual à inflação de 2018, ou seja, sem ela, IPCA teria ficado na casa de 3,25%.

As projeções apresentadas pelo Banco Central no seu Relatório Trimestral de Inflação de dezembro, divulgado em dezembro de 2018, sugerem que o Banco Central não precisará subir os juros em 2019. Mas as projeções não permitem reduzir a taxa básica. E, para manter a inflação nas metas em prazos mais longos, é provável um aperto monetário em 2020.

É necessário, porém, tomar todas as projeções condicionais do Relatório de Inflação com uma dose extra de cautela, porque o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central atribui a elas um peso relativo menor nas suas decisões, diante de um balanço de risco assimétrico.

Com a taxa Selic nos atuais 6,5% ao ano, é possível cumprir as metas de inflação até 2020. Isso assumindo os dois cenários de câmbio utilizados nas projeções condicionais: o com a taxa constante no nível de R$ 3,85 ou o que coloca a moeda na faixa prevista no Focus, de R$ 3,78 a R$ 3,86 de 2018 a 2021.

Deve-se notar, porém, o quanto essas projeções são dependentes de um câmbio mais ou menos comportado nos níveis atuais. Uma eventual crise de confiança provocado pela falta de progresso no ajuste fiscal e/ou um choque externo poderia mudar essa trajetória de inflação.

Dessa mesma projeção, por outro lado depreende-se que, com os juros atuais, o Banco Central seria capaz de colocar a inflação nas metas, isto é, sem promover estímulos monetários adicionais. Dessa forma, as projeções não autorizam, pelo menos por enquanto, apostas em cortes adicionais na taxa básica de juros.

Inflação de Alimentos e de Serviços: Seca e Estagnação sob controle? publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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