Max Gunther, no livro “Os muito, muito ricos e como eles conseguiram chegar lá” (tradução Jorge Ritter. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Best Business, 2015), conta: no século seguinte (XVIII), todo um novo conjunto de possibilidades se abriu. A revolução financeira foi sucedida pela Revolução Industrial. Tornou-se possível para um cidadão comum ficar rico investindo seu dinheiro em várias inovações tecnológicas.
Curiosamente, Marx e a literatura de esquerda destacam a revolução industrial, talvez por causa do surgimento de operários capazes de se organizarem em sindicatos e partidos, e não a prévia revolução financeira. Até hoje parte da esquerda se comporta como cristãos medievais antissemitas e se coloca contra os usurários e/ou rentistas.
Graças a muitas e complicadas razões, a Revolução Industrial não trouxe rapidamente uma Era de Ouro de prosperidade como a que os holandeses haviam vivido cem anos antes. As massas de cidadãos comuns na maioria das nações seguiam imobilizadas sem dinheiro e sem muita esperança de ganhá-lo. Mas alguns deles se saíram muito bem.
De 1750 em diante as páginas dos livros de história brilham mais e mais frequentemente com os nomes de homens capazes de ficar ricos com o próprio esforço. Seus números aumentaram bastante ao longo do século XIX, em particular nos Estados Unidos, o novo colosso econômico. Ele havia surgido de maneira súbita e discreta do outro lado do Atlântico.
Nos Estados Unidos, começando em torno de 1850, as possibilidades da riqueza conquistada pelo próprio esforço alcançaram seu melhor e mais vistoso florescimento. Nunca antes em toda a história, nem mesmo nos Países Baixos do século XVII, haviam sido dadas ao homem comum oportunidades tão incríveis para alcançar a riqueza.
Todo tipo de percurso estava se abrindo à medida da conquista desse enorme e “vazio” território, fora o genocídio dos nativos pelo exército norte-americano, quando escapavam de seus “campos de concentração” (reservas indígenas) se expandia e amadurecia. Muitos imigrantes, subitamente, deram um salto da obscuridade para uma proeminência notável.”
“Jay Cooke especializou-se em corretagem. Ele veio do nada, estabeleceu uma corretora em meados do século XIX, observou-a crescer à medida que o mercado de ações de Nova York crescia. Ele conquistou sua grande fortuna quando o governo do presidente Lincoln pediu a ele que vendesse títulos da Guerra Civil para o público. Cooke colocou agentes na rua para vender de porta em porta e pagou animada e descaradamente editores de jornais por todo o país para alardearem as glórias financeiras e patrióticas dos títulos. Ele vendeu aproximadamente 2,5 bilhões de dólares em títulos. Sua comissão, taxas e outros pagamentos nessa venda estupenda totalizaram quase 100 milhões de dólares, isentos de impostos.”
“Jay Gould apareceu em Wall Street por volta de 1860 com uns 200 dólares no bolso e logo transformou a soma em uma fortuna. A jogada favorita dele era construir empresas fantasmas, particularmente na indústria ferroviária. A febre das ferrovias tomara o país, muitas delas estavam sendo construídas rápido demais. Diversas operações pequenas, pouco capitalizadas e gerenciadas de forma desleixada, estavam indo à falência. Gould compraria algumas delas a preço de banana, as reuniria para formar uma nova companhia ferroviária com algum nome chamativo, faria a publicidade da nova companhia, aumentando o preço de sua ação, e cairia fora — depois disso, a estrutura sem solidez entraria em colapso.”
Junius Spencer Morgan, seu filho e seu neto eram banqueiros de investimentos. Eles se especializaram em construir monopólios. O velho Junius começara como um comerciante de artigos de armarinho e havia aplicado seu dinheiro em bancos de investimentos exatamente quando a Revolução Industrial começava a se insinuar nos Estados Unidos.
Os Morgans adoravam ferrovias. Em determinado momento, eles controlavam as ferrovias New York Central, New Haven, Lehigh Valley, Erie, Reading, Chesapeake e Ohio, Northern Pacific e várias outras — simultaneamente. Eles organizaram a U.S. Steele coordenaram trustes que vieram a ser proprietários da maior parte da produção de antracito e carvão macio no país.
John Jacob Astor era um imigrante da Alemanha de passagem pela Inglaterra. Ele chegou a Nova York em 1784, sem dinheiro e com fome. Astor vendeu instrumentos musicais por um tempo, perambulou pela cidade à procura de um negócio melhor e terminou como comerciante de peles no vale Mohawk. Os negócios eram bons: ele comprava peles baratas de tribos indígenas e as vendia com enormes remarcações em Montreal, Nova York e posteriormente Londres.
À medida que seu capital crescia, ele o investia no que deve contar como uma das especulações imobiliárias mais gloriosas da história. Astor comprou grandes faixas de terra na parte de cima da ilha de Manhattan, ao norte do que eram então os limites da cidade de Nova York.
“John D. Rockefeller investiu em outro tipo de terreno: o da indústria petrolífera. Ele começou a carreira como um escrivão de 16 anos em uma companhia mercantil de Cleveland nos anos 1850, foi promovido a contador e caixa por ser bom em cálculos, largou o emprego em 1858 para seguir por conta própria como uma espécie de representante comercial, vendendo produtos por comissão.
Nos anos 1860, Rockefeller conheceu um especialista em refino de petróleochamado Samuel Andrews. Ele o convenceu que muito dinheiro poderia ser ganho no recém-nascido negócio do petróleo. O primeiro poço norte-americano bem-sucedido havia sido perfurado em Titusville, Pensilvânia, em 1859. A pequena empresa de Rockefeller pegou um empréstimo e construiu uma pequena refinaria chamada Standard Oil Works. Ela demonstrou ser altamente lucrativa.
A empresa começou então uma longa (e não inteiramente honrosa) carreira de absorver competidores ou levá-los à falência praticando preços insustentáveis para eles. Quando os tribunais dissolveram o monopólio da Standard Oil em 1892, o ex-escrivão havia se tornado o primeiro bilionário de origem humilde.
Nunca antes na história, em nenhum outro lugar do mundo, tantos homens de origem humilde chegaram a patamares tão altos. Cada um deles encontrou uma maneira de dominar o ambiente em que vivia e dirigi-lo a seu favor.
De certa maneira, o ambiente econômico tornou-se um oponente mais complicado quando o século XX progrediu. Os impostos corporativos e pessoais aumentaram substancialmente. Leis antitruste e outras leis comerciais tornaram-se mais severas. As regras do mercado de ações foram incrementadas, de maneira que manipulações e grandes jogadas exigem mais astúcia, planejamento e paciência. O país como um todo está menos aberto à conquista selvagem como foi um dia.
Há menos espaço para manobra. Você não pode mais comprar um acre de terra em Manhattan por algumas centenas de dólares.
Sucessão da Revolução Financeira pela Revolução Industrial publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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