A economia global está sofrendo com a tensão comercial e as incertezas políticas, especialmente na Europa, segundo um relatório divulgado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). As novas projeções refletem os eventos dos últimos quatro meses, quando pouca coisa deu certo para as maiores economias. A fraqueza da zona do euro e da China está se mostrando mais persistente e o comércio global teve uma forte desaceleração, enquanto as incertezas com o Brexit permaneceram.
“A expansão global continua perdendo força”, disse a OCDE, ao rebaixar a perspectiva para quase todos os países do G-20, o grupo das maiores economias mundiais. “O crescimento poderá ser ainda mais fraco se os riscos negativos se materializarem ou interagirem.”
A projeção para o Brasil também piorou depois da incompetência demonstrada pelo (des)governo do capitão-miliciano.
Bancos centrais, entre eles o Federal Reserve (Fed), dos EUA, já respondem à mudança de cenário. A China foi forçada a reduzir sua meta de crescimento econômico. Anunciou também corte de impostos para estimular a economia.
A perspectiva da OCDE contradiz as expectativas de as fontes de fraqueza no fim de 2018, como a menor confiança do consumidor, serem apenas temporárias. Isso cria um problema aos BCs. Eles terão de encontrar soluções mais combativas e com menor espaço de manobra nas áreas fiscal e monetária.
Os BCs deverão continuar em modo expansionista, mas a OCDE pede reformas estruturais e estímulos fiscais nos países europeus com condições de fazer isso. Devido à assimetria da política monetária — potente para provocar recessão e impotente para criar expansão –“sozinha, a política monetária não pode resolver a desaceleração da Europa nem melhorar as modestas perspectivas de crescimento para o médio prazo”.
A OCDE reduziu sua expectativa de crescimento da zona do euro neste ano, de 1,8% para 1%. Ela recomenda ao BCE um adiamento no plano de elevar a taxa de juros e a possibilidade de novas medidas para melhorar o financiamento dos bancos.
A União Europeia (UE) decidiu redefinir os laços com a China, prometendo enfrentar as crescentes ameaças ao comércio, ao crescimento econômico e à segurança, representadas pela assertividade global de Pequim.
Em uma mudança brusca de postura em relação a dois anos atrás, quando a China era vista como possível parceira para a manutenção de regras e instituições globais após a eleição do presidente americano Donald Trump, a Comissão Europeia — braço executivo da UE — classificou Pequim como um “concorrente econômico” em campos críticos como o desenvolvimento de redes 5G e um “rival sistêmico” na arena política.
As afirmações colocam a abordagem de Bruxelas em relação a Pequim próxima à avaliação dos Estados Unidos sobre China como um grande rival estratégico. Sob Trump, os laços entre os EUA e a China vêm sendo tumultuados por disputas comerciais, tensões sobre a Coreia do Norte e ambições regionais de Pequim.
Autoridades da UE disseram as atitudes europeias em relação à China terem mudado por causa de:
- sua incapacidade em abrir seus mercados,
- o uso de subsídios para criar campeãs nacionais,
- suas ações no Mar do Sul da China e
- a pressão pelo domínio nos setores de tecnologia e telecomunicações.
O documento lança a primeira reflexão de alto nível da UE sobre os laços com a China em anos. Os ministros das Relações Exteriores da UE se reunirão com seu colega chinês e os líderes da UE discutirão os desafios estratégicos apresentados pela China.
Autoridades reconhecem que o esforço para criar uma frente europeia unida sobre a China enfrenta obstáculos. A China construiu laços políticos sólidos com alguns países do bloco, e vários governos da UE têm procurado empréstimos e investimentos chineses para fortalecer economias frágeis.
A Itália, por exemplo, está negociando um memorando de entendimento com a China em apoio à Iniciativa do Cinturão e da Rota. O documento, que seria o 14o da China com um membro da UE, causou divisões dentro da frágil coalizão do governo italiano, provocou críticas dos EUA e levou desconforto em outras capitais europeias.
O déficit dos EUA no comércio de bens atingiu um recorde em 2018, desafiando os esforços do presidente Donald Trump para reduzir esse rombo. No período, as importações aumentaram e algumas exportações, como soja e outros produtos agrícolas, foram afetadas pelas retaliações contra as tarifas impostas pelos EUA.
O déficit em bens cresceu 10% no ano passado para US$ 891,3 bilhões, o maior já registrado, informou ontem o Departamento do Comércio. Os déficits comerciais dos EUA com a China e o México bateram novos recordes.
O cenário comercial parece menos negativo quando se contabiliza serviços como o turismo, ensino superior e as atividades bancárias, embora esse déficit também tenha de aumentado. Incluindo os serviços, o déficit em transações correntes cresceu 12% no ano passado, para US$ 621 bilhões, o maior desde 2008.
O fato de a economia dos EUA estar crescendo é o principal motivo da alta do déficit. No total, as importações americanas cresceram 7,5% no ano passado, refletindo em parte os gastos com bens de consumo, suprimentos industriais e bens de capital. Os americanos importaram mais da China, comprando mais televisores, autopeças, videogames e móveis. As exportações também cresceram, mas apenas 6,3%.
As políticas comerciais envolvendo tarifas sempre serão engolidas pelos fatores macroeconômicos. Conforme previsto, é o que aconteceu. Ao longo de 2018, Trump impôs tarifas sobre US$ 300 bilhões em produtos importados pelos EUA de outros países, especialmente a China, na esperança de proporcionar vantagem competitiva aos produtos americanos.
Trump também criticou publicamente companhias que terceirizaram empregos, renegociou pactos com grandes parceiros comerciais dos EUA, como o México, Canadá e a Coreia do Sul. Ele irritou aliados europeus de longa data ao classificar suas exportações de aço e alumínio como uma ameaça à segurança nacional dos EUA.
Os assessores de Trump afirmam que trata-se de uma estratégia de longo prazo e que os benefícios dos acordos comerciais renegociados renderão frutos com o tempo. Um dos principais assessores comerciais do presidente, defendeu: a agenda comercial tem sido um sucesso. “Os resultados são inegáveis: no ano passado, os EUA criaram 284.000 novos empregos no setor industrial, o maior número em 21 anos.” O argumento não se combina com a realidade.
O déficit com a China, o maior parceiro comercial dos EUA e o principal foco dos esforços da Casa Branca, foi o quem mais cresceu, para US$ 419 bilhões em 2018, um aumento de US$ 44 bilhões.
Pequim reduziu as compras de produtos americanos, especialmente os agrícolas, como soja, trigo e sorgo. As compras chinesas dessas três culturas caíram quase US$ 10 bilhões no ano passado.
O déficit comercial dos EUA em bens também aumentou com outros parceiros que vêm sendo o foco das políticas de Trump, como a União Europeia (UE) e o México. O rombo subiu US$ 18 bilhões com a UE e US$ 11 bilhões com o México. China, UE e México respondem por 54% dos produtos importados dos EUA, mas responderam por 86% do aumento no déficit.
Portanto, o déficit comercial aumentou no fim do ano, sugerindo as forças por trás da elevação do déficit estarem se intensificando e não diminuindo. O déficit comercial geral de dezembro de 2018 foi o maior desde 2008, com um aumento de 19% em relação a novembro, para US$ 59,8 bilhões — valor sazonalmente ajustado.
Curiosamente, apesar de sua proeminência no comércio mundial, pesquisadores denunciam a economia da China ser cerca de 12% menor em relação aos números oficiais. Indicadores de seu crescimento real foram superestimado em cerca de 2 pontos percentuais anuais nos últimos anos, segundo uma pesquisa do Brookings Institution, com sede em Washington. Os dados reforçam o ceticismo de longa data quanto às estatísticas oficiais chinesas.
Também aumentam os receios de a desaceleração da economia da China ser mais grave do que o governo admite. Mesmo com base nos dados oficiais, o crescimento da economia chinesa em 2018, de 6,6% — a menor taxa desde 1990.
As análises do estudo cobrem o período de 2008 a 2016 e, portanto, não incluem a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 nem o tamanho da economia chinesa nesse ano. Se o PIB de 2018 tiver sido superestimado na mesma escala que os autores estimaram para 2016, isso implicaria que o PIB real de 2018 foi 10,8 trilhões de yuans (US$ 1,6 trilhão) abaixo do número oficial de 90 trilhões de yuans.
A ênfase do governo chinês em metas numéricas — um legado do planejamento estatal maoísta — torna a expansão do PIB um dado politicamente delicado. O Partido Comunista avalia o desempenho de seus quadros locais em grande medida com base no crescimento da economia de suas respectivas regiões.
“Como os governos locais são recompensados por atingir as metas de crescimento e investimentos, eles têm incentivos para distorcer as estatísticas locais“, disseram os autores, encabeçados por Chang-Tai Hsieh, economista da Booth School of Business, da Universidade de Chicago, e pesquisador associado do Gabinete Nacional de Análises Econômicas (NBER, na sigla em inglês) dos EUA.
Há anos, a soma dos PIBs das províncias da China excede o número nacional, um claro sinal de que os dados são inflados nas esferas locais. A Agência Nacional de Estatística (NBS, na sigla em inglês) da China já reconheceu no passado que “algumas estatísticas locais são falsificadas”. Em 2017, o governo federal acusou três províncias no cinturão industrial do nordeste chinês de fabricar dados.
O estudo da Brookings Institution destaca como a agência chinesa de estatísticas, em Pequim, enfrenta dificuldade para ajustar os dados inflados que recebe das autoridades locais. A análise conclui os ajustes dos dados locais feitos pelo governo federal parecerem, em grande medida, ser precisos até 2007-2008. “Depois dessa data, não parecem mais ser precisos.”
A NBS comunicou em 2018 passar a ter mais controle sobre o recolhimento dos dados provinciais a partir de 2019 para eliminar as discrepâncias entre os dados nacionais e locais.
Os economistas usam dados do imposto sobre valor agregado para ajustar a série histórica de crescimento do PIB da China. Os dados tributários, que tem sido compilados por um sistema computadorizado desde 2005, são altamente imunes a fraudes e adulterações, argumentam os economistas.
Em média, os dados oficiais exageraram o crescimento nominal do PIB em 1,7 ponto percentual por ano entre 2008 e 2016, o que torna a economia 12% menor em relação ao indicado pelos números oficiais.
Em termos reais, o crescimento do PIB foi superestimado em 2 pontos percentuais no mesmo período, calcularam os economistas da Brookings Institution. Entretanto, os coautores têm menos confiança em suas estimativas de crescimento do PIB real do que nos números nominais.
Além dos dados sobre o PIB, o estudo também conclui os números oficiais da produção industrial e dos investimentos terem sido altamente superestimados, mas que os dados oficiais sobre o consumo e o setor de serviços são mais confiáveis.
Nos últimos anos, tanto o governo federal quanto os locais passaram a reduzir sua ênfase em metas rígidas do PIB. A meta de crescimento do PIB para 2019 está agora na faixa de 6% a 6,5%.
EUA + Europa X China (“Globalismo Marxista”, sic) publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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