quarta-feira, 20 de março de 2019

Entender o Pensamento da Direita Civilizada: Escola de Chicago Hoje

Luigi Zingales e Raghuram G Rajan, coautores do livro “Saving Capitalism From the Capitalists: Unleashing the Power of Financial Markets to Create Wealth and Spread Opportunity” (NYC-Índia: Collins Business, 2014), afirmam: “após duas décadas de privatização maciça, ampla desregulamentação e ampla liberalização, pode parecer absurdo afirmar os mercados livres poderem estar em perigo. De fato, eventos como o colapso da Enron são interpretados como evidência de ‘os mercados se tornaram livres demais’. Afinal, nos ‘bons e velhos tempos’ dos serviços públicos regulamentados, tais problemas não surgiram”.

Neste livro, os coautores adoradores da doutrina do livre-mercado, aprendida na Escola de Chicago, pregam seu credo de outra forma em relação aos “chicagões”, ou Chicago’s Oldies, retirados da tumba intelectual no Brasil pela direita militar com “2 neurônio” (sem S). Afinal, os tucanos do MIT são muito sofisticados para prestar esse “serviço”.

“Não apenas os mercados não são livres demais, mas não podem se tornar livres demais: os mercados estão sempre algemados e suprimidos, porque se apoiam em fundações políticas muito frágeis. Enquanto todos se beneficiam de mercados competitivos, ninguém em particular obtém enormes lucros mantendo o sistema competitivo e o nível do campo de jogo. Mesmo os capitalistas não ganham em defendê-lo.

De fato, em sua busca contínua pela proteção do governo contra a concorrência, eles muitas vezes acabam sendo os piores inimigos do capitalismo. Sem um forte eleitorado político os apoiando, e sob a pressão contínua dos interesses adquiridos, os mercados são sempre muito restritos, nunca muito livres.

Isso não quer dizer: “os mercados não precisem de regras”. O ideal dos coautores italiano e indiano imigrantes para os States não se define por: “mercados livres não é a anarquia da selva ou do Velho Oeste, mas um campo de atuação transparente e nivelado, onde todos têm uma boa chance de participar e aqueles que oferecem o melhor valor pelo dinheiro prevalecem”.

Eles adotam algo possível de ser consenso com economistas antes taxados de heterodoxos: o institucionalismo. “Para se tornar um campo nivelado, os mercados precisam de regras. Frequentemente, essas regras emergem do processo competitivo – como na formação de associações auto reguladoras – mas, às vezes, elas precisam ser impostas e impostas por uma autoridade superior. Sem regras devidamente aplicadas, a lei da selva, e não a do campo de jogo, prevalece”.

Enquanto a ausência de regras torna desigual o campo de jogo, muitas regras do tipo errado podem torná-lo desigual novamente, especialmente quando essas regras são introduzidas (Como tantas vezes acontece) sob a pressão das firmas incumbentes.

Um mercado verdadeiramente livre e competitivo ocupa um meio termo muito delicado entre:

  1. a ausência de regras e
  2. a presença de regras sufocantes.

Esse meio termo é tão estreito a ponto de o capitalismo, em sua melhor forma, ser muito instável. Ele degenera facilmente em um sistema de operadores em benefício próprio, seja pelos titulares administradores, seja pelos proprietários, isto é, os capitalistas.

Durante a maior parte da história, essa é a forma de capitalismo vivenciada. Infelizmente, essa ainda é a forma de capitalismo prevalecente em muitas partes do mundo hoje.

Aí os ideólogos contemporâneos da Escola de Chicago divulgam sua ideologia de outrora recauchutada. “Mas um mercado verdadeiramente competitivo não é apenas um ideal utópico; está ao nosso alcance. Com os melhores mercados financeiros, que dão às pessoas uma chance e intensa competição política, que mantêm os interesses investidos em xeque, nas últimas duas décadas, experimentamos os benefícios de nos aproximarmos desse ideal”.

O argumento é “globalista” como diz a direita tupiniquim. “A maior disponibilidade de capital está lentamente corrigindo muitos dos males do capitalismo – a tirania do capital sobre o trabalho, a excessiva concentração da indústria, a distribuição desigual da renda em favor dos donos do capital, a falta de oportunidade para os pobres. . . As pessoas têm mais oportunidades de atacarem sozinhas, e mesmo quando trabalham dentro de uma empresa, elas são tratadas melhor, porque as empresas se tornaram lugares menos autoritários para se trabalhar”. Sim! Nem se compara com o tempo de escravidão!

“Mas todas essas conquistas estão longe de serem irreversíveis. Os mercados não são perfeitos, nem a superestrutura reguladora os supervisiona. Aberrações como a Enron ocorrem e algumas revisões no sistema de governança corporativa são necessárias. Mas a raiva dos trabalhadores e investidores, simplesmente por perderem tudo, não deve se tornar a desculpa para uma intervenção massiva: a experiência histórica sugere a intervenção nesses momentos ser invariavelmente mal direcionada. A atual tempestade vai explodir – esperançosamente, sem muitos danos – mas o que impediria uma crise séria de retardar o desenvolvimento dos mercados por mais cinquenta anos?”

Os ideólogos temem o destronamento de um sistema complexo por um ato-de-vontade de uma autoproclamada “vanguarda”! Ora, a sociedade mudará por um processo e não por um ato-de-força. Este só atrasa a mudança se for totalitária – ou burro como nos Estados Unidos e no Brasil – fora alhures fora das Américas.

“Somente nos últimos anos os economistas começaram a prestar atenção novamente às instituições capazes de sustentar os mercados. Portanto, talvez não surpreenda quão pouco o público esteja ciente de sua fragilidade política. Mas muitos economistas jogam com modelos elegantes de mercados perfeitamente competitivos sem fazer perguntas sobre como os mercados surgem, como eles prosperam e como eles morrem.

Talvez esse viés seja simplesmente porque os economistas acadêmicos mais proeminentes [falta o italiano e o indiano gritarem: eu! Eu! Eu!] vivem em países onde os mercados funcionam. Mas para eles se preocupam com o futuro de suas próprias economias de mercado. E isso impede eles terem mais impacto em países precisados, desesperadamente, de economia sólida”.

Continuam a discurso conservador: “quando, há dez anos, economistas do Ocidente foram chamados para aconselhar os países enfrentando a difícil transição do socialismo para o mercado, eles viram a tarefa deles principalmente como a criação de instituições básicas. Por exemplo, eles achavam: uma vez os ativos estatais fossem transformados em propriedade privada, muitas das outras instituições necessárias para uma economia de mercado se seguiriam.

Mas as instituições econômicas não surgem nem florescem, a menos sendo a vontade política de apoiá-las. E por vontade política, Luigi Zingales e Raghuram G Rajan não querem dizer apenas apoio ao processo de privatização, mas também a criação de grupos beneficiários dos mercados livres e com o poder de apoiá-los politicamente”.

Daí voam na maionese para demonstrar erudição. “Henrique VII e Henrique VIII fizeram isso, provavelmente inconscientemente, quando ‘privatizaram’ a terra expropriada da igreja e dos nobres. Isto é o que não aconteceu em muitos países da Europa Oriental. Precisamos entender melhor os fundamentos políticos dos mercados, a fim de construir um maior apoio para eles”. ‘tadinhos… snif… snif…

“Infelizmente, a batalha pelos mercados não precisa ser luta apenas em economias em transição. Tem de ser combatido todos os dias, mesmo nos países mais desenvolvidos. Os mercados precisam de apoio político, mas o seu funcionamento prejudica o apoio. Como resultado, o mercado é uma instituição frágil, traçando um caminho estreito entre a Scylla da interferência do governo presunçoso e o Charybdis de pouco apoio governamental”.

Continuam a parolagem. “O maior perigo para a democracia de mercado, hoje, não é ela cair no socialismo, mas se irá reverter para o sistema de relacionamento, suprimindo a competição sob a desculpa de reduzir o risco. Mas não podemos evitar isso pregando uma atitude de não-intervenção para o Estado. Não apenas nos arriscaremos a deixar a infraestrutura necessária subdesenvolvida para o mercado funcionar mal e o acesso limitado aos poucos privilegiados, mas também deixaremos o mercado superexposto à reação política da inevitável desaceleração do mercado. É precisamente porque precisarmos de um equilíbrio de forças, nenhum mantra irá funcionar”.

Em vez disso, os coautores imigrantes para os Estados Unidos oferecem um conjunto equilibrado de propostas. Acham: “juntas, fortalecerão os fundamentos políticos de O Mercado. As propostas asseguram os operadores históricos terem pouco incentivo para se oporem aos mercados. Mesmo os proprietários controladores pretendendo dificultar a concorrência, eles têm pouca habilidade para fazer isso. O público não deve ter medo ou se ofender excessivamente com O Mercado. O público em geral deve ver os interesses daqueles opostos a eles”.

Ora, são eles os capitalistas, seus patrões exploradores!

Mas a síntese da mensagem do livro conservador transpõe o antagonismo com patrões para com políticos, em tese, representantes do povo em uma República. “Os políticos desconsideram o interesse público porque o público muitas vezes não sabe qual é esse interesse. Se livros como o nosso [de Luigi Zingales & Raghuram G Rajan] podem aumentar a conscientização do público, eles reduzem um custo importante da ação coletiva – o custo de compreender as questões – e forçam os políticos a prestar atenção. Se tivermos conseguido convencer o leitor – pelo menos em parte -, então este livro cumpriu seu objetivo”. Já deu, né? Basta!

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