Steven Pinker, no livro “O novo Iluminismo: Em defesa da razão, da ciência e do humanismo” (São Paulo: Companhia das Letras; 2018), afirma: o Iluminismo também trouxe a primeira análise racional da prosperidade. Seu ponto de partida não foi a maneira como a riqueza é distribuída, e sim a questão primordial de como a riqueza surge.
Baseado em influências francesas, holandesas e escocesas, Smith observou: é impossível criar produtos em abundância com um agricultor ou artesão trabalhando sozinho. Isso depende de uma rede de especialistas.
Eles aprenderam, cada qual, a produzir a sua mercadoria com a maior eficiência possível. Eles combinam e trocam os frutos de seu engenho, sua habilidade e seu trabalho. Em um exemplo famoso, Smith calculou que um fabricante de alfinetes, labutando só, poderia produzir no máximo uma peça por dia, ao passo que em uma oficina onde “um homem puxa o fio, outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto o afia, um quinto o aplaina na ponta para receber a cabeça”, eles produziriam quase 5 mil unidades.
A especialização só funciona em um mercado onde permite aos especialistas trocar seus bens e serviços. Smith explicou: a atividade econômica era uma forma de cooperação mutuamente benéfica (um jogo de soma positiva, no jargão atual), quando cada um recebe em troca algo mais valioso para si em lugar daquilo cedido. Por meio dessa permuta voluntária, as pessoas beneficiam outras beneficiando a si mesmas.
Como Smith escreveu, “não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos o nosso jantar, e sim da consideração de cada qual pelo seu próprio interesse. Em vez de apelarmos à sua humanidade, dirigimo-nos ao seu auto interesse”.
Smith não quis dizer as pessoas serem de um egoísmo implacável, nem tampouco deveriam ser. Ele foi um dos mais perspicazes analistas da solidariedade humana em toda a história. Apenas afirmou: em um mercado, a tendência de um indivíduo a cuidar de sua família e de si mesmo pode atuar em benefício de todos.
A troca pode tornar toda uma sociedade não apenas mais rica, como também mais cordial, pois em um mercado eficaz é mais barato comprar em lugar de roubar as coisas. As outras pessoas lhe têm mais serventia vivas do que mortas.
Isso nos leva a outro ideal do Iluminismo, a paz. A guerra era tão comum na história de modo ser natural vê-la como parte permanente da condição humana e pensar a paz só poder vir em uma era messiânica. Hoje, porém, não se interpreta a guerra como uma punição divina a ser suportada e deplorada, nem como uma competição gloriosa a ser vencida e celebrada, e sim como um problema prático a ser mitigado e, um dia, resolvido.
Em À paz Perpétua, Kant enumerou medidas para desencorajar os líderes a arrastar seus países para a guerra. Além do comércio internacional, ele recomendou a república representativa (chamada por nós de democracia), a transparência mútua, normas contrárias a conquistas e interferências internas, liberdade para viajar e imigrar, e uma federação de Estados capaz de decidir judicialmente as eventuais disputas entre si.
Apesar de toda a presciência de fundadores nacionais, legisladores e philosophes, este livro, “O novo Iluminismo: Em defesa da razão, da ciência e do humanismo” de autoria de Steven Pinker, não é um livro sobre iluminismolatria.
Os pensadores iluministas foram homens e mulheres de sua época, o século XVIII. Alguns eram racistas, machistas, antissemitas, escravistas ou duelistas. Algumas das questões que os preocupavam são quase incompreensíveis para nós, e eles tiveram muitas ideias tolas junto com as brilhantes. Mais a propósito, eles nasceram muito cedo para apreciar algumas bases na nossa compreensão moderna da realidade.
Eles, aliás, teriam sido os primeiros a admitir isso. Se você enaltece a razão, então o que importa é a integridade dos pensamentos, e não a personalidade dos pensadores. E se você está comprometido com o progresso, não poderá dizer que já pensou em tudo.
Não é nenhum demérito para os pensadores iluministas identificarmos algumas ideias cruciais a respeito da condição humana e da natureza do progresso que nós conhecemos e eles não. Essas ideias, Pinker propõe, são: entropia, evolução e informação
Prosperidade e Paz publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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