A Ford nunca produziu picape de F1000 cabine dupla no Brasil, mas isso ocorreu apenas nos anos 60 com a F100 de 1963.
Esta tinha três portas e uma delas era de estilo suicida, com abertura invertida.
A partir de então, a Ford nunca mais fez uma picape com essa configuração no Brasil.
A F100 foi atualizada e virou F1000, mas mesmo quando esta última mudou de geração, apenas a cabine estendida foi adicionada.
Na década de 70, o mercado brasileiro já estava buscando picapes que tivessem cabine dupla.
A Chevrolet C10 chegou a ter versão com cabine dupla, mas a Ford mantinha sua F100 apenas com habitáculo simples.
No final dos anos 70, a Ford lançou a F1000, mas sem a promessa de cabine dupla.
Então, a necessidade faz o momento e o mercado pedia picapes com cabine dupla.
Com a insistência da Ford em não lançar uma desse tipo de carroceria, deixando que empresas nacionais começassem a ganhar notoriedade.
Iniciando com concessionários da Ford e também empresas que trabalhavam com fibra de vidro, começaram a surgir as chamadas picapes fora-de-série.
Essa indústria ganhou força especialmente após o fim das importações em 1976.
Na década de 90, ela era parte importante do mercado automotivo nacional, gerando muitos empregos e negócios.
As empresas que se dedicavam à transformação de picapes da Ford e Chevrolet, mas notadamente a primeira, se multiplicaram.
Havia diversas marcas e modelos no mercado nacional, não só de picapes, mas de furgões e outros derivados.
Neste artigo vamos falar das principais marcas que reproduziram a F1000 cabine dupla como fora-de-série.
F1000 cabine dupla
A F1000 cabine dupla é basicamente a segunda geração de picapes Série F da Ford feita no Brasil.
O modelo original surgiu em 1979, usando como diferencial para a F100, o motor diesel MWM 3.9.
Nos anos 80, ela surgiu a partir de empresas como Souza Ramos (SR), Brasilvan, Sid Car, Engerauto, Sulamericana, Tropical, Libramar, Amazônia, Spocar e Versát´1, entre outras de menor expressividade no mercado.
Destas, as cinco primeiras eram as maiores e mais famosas, tendo estruturas mais complexas e melhor qualidade construtiva.
A F1000 cabine dupla era feita basicamente sobre a picape original da Ford, que tinha cabine simples.
As transformações em cabine dupla seguiam basicamente três linhas de trabalho.
A mais simples acrescentava uma extensão à cabine original da F1000, cortando-se a lateral para introdução de uma vigia mais baixa.
Nesse caso, a caçamba permanecia sem alteração até a nova parte da cabine.
A primeira F1000 cabine dupla da Tropical Cabines foi feita assim em 1985, por exemplo.
Outra configuração fora-de-série era adicionar uma carroceria de fibra de vidro mais elevada atrás da cabine original da picape.
Esta configuração trazia mais espaço interno e assentos elevados, adicionando uma ou duas vigias de cada lado.
Esteticamente não era atraente e poucas apostaram nisso, como a Walk.
As empresas mais estruturadas, como a SR, podiam criar carrocerias inteiras em fibra de vidro sobre o chassi original.
A Desert XK foi, sem dúvida, a F1000 cabine dupla mais famosa dos anos 80 e 90.
Nos anos 90, a chegada de picapes importadas começou a minar o mercado de modelos fora-de-série.
Nos anos 2000, o setor quase desapareceu com a chegada de modelos como Chevrolet S10, Ford Ranger, Mitsubishi L200 e Toyota Hilux.
Sulamericana
A conversão para F1000 cabine dupla na verdade teve início na própria Ford, mas muitos anos antes.
Como já citada, a única picape da Ford que era vendida nas lojas com cabine dupla, em realidade não era de fábrica.
Um acordo entre Ford e a empresa Sulamericana, permitiu o lançamento desse modelo.
Ainda assim, a F100 da época foi vendida de forma oficial pela Ford.
O mesmo se daria anos mais tarde com o Escort XR3 Conversível, que era feito pela Karmann-Ghia à pedido da Ford.
Apenas em 1981, a Sulamericana voltou a mexer com uma Ford de cabine dupla, mas agora como fora-de-série.
Ela tinha o modelo GB Special, que era uma extensão da cabine com boa área envidraçada.
A F1000 cabine dupla da Sulamericana evoluiu nos anos seguintes e chegou à robusta picape GB Fly.
Modelos Mirage, Mig e Buchalla (sobrenome do dono da empresa) surgiram até 1987, quando também apareceu a Guerreiro 87, bem parecida com a última Desert XK, pois utilizava faróis e piscas do Del Rey, porém, com cabine mais simples.
Engerauto
Criada pela Companhia Santo Amaro, que era um grande revendedor Ford, a Engerauto começou a fazer de tudo.
Na F1000 cabine dupla, seu primeiro modelo surgiu em 1984 e com janelas “panorâmicas”.
Nos anos seguintes, se dedicou às picapes de cabine dupla e chassi alongado.
O produto de maior destaque foi a F1000 cabine dupla Magnum, que chegou a ter versão de três portas em 1988.
A Engerauto ainda sobreviveu aos primeiros anos da década de 90, mas encerrou com as picapes no fim desse período.
Walk
A Walk começou com a conversão de F1000 cabine dupla em meados dos anos 80, apostando também no alongamento do chassi.
Um dos modelos dessa época, de 1985, era uma F1000 cabine dupla com portas traseiras iguais às dianteiras, mas invertidas.
Nos anos seguintes, começou a dar ênfase aos modelos com cabine alta e grandes janelas panorâmicas.
A empresa também fazia conversões de outras marcas e para outras propostas.
Na década de 90 se concentrou na produção de ônibus e deixou o mercado de picapes fora-de-série.
Sidcar
Outra marca famosa no mercado com F1000 cabine dupla era a Sidcar, que começou também nos anos 80.
Seu principal modelo foi o Oregon, que tinha cabine alta na segunda versão.
A Sidcar também fez a F1000 cabine dupla Dallas, que tinha a mesma configuração.
Ela tinha como característica batizar suas picapes de cabine dupla com nomes de cidades e estados norte-americanos.
Na década de 90, a empresa até que começou bem, mas atuando em carrocerias de serviço comercial até encerrar as atividades.
Versát´1
Diferentemente da maioria das empresas que faziam a F1000 cabine dupla fora-de-série, a Versát´1 tinha outro método de produção.
Ao invés de usar a leve e barata fibra de vidro, a Versát´1 moldava suas cabines com aço estampado.
A empresa até apostou num processo de tratamento químico para reduzir a corrosão da estrutura.
Sem modelos conhecidos, a Versát´1 convertida para F1000 cabine dupla com janelas normais ou panorâmicas.
Brasilvan
A Brasilvan foi outra marca conhecida de F1000 cabine dupla, mas atuou mais tarde no mercado, começando por volta de 1987.
Ela também usou fibra de vidro na confecção da F1000 cabine dupla, geralmente com altura padrão.
No entanto, em 1990, ela seguiu os passos da SR e lançou um modelo com quatro portas e carroceria arredondada.
Este modelo da Brasilvan também explorava o conjunto ótico do Del Rey e inclusive tinha para-choques envolventes.
A Brasilvan procurou ampliar os detalhes dessa F1000 cabine dupla com estética similar aos produtos da Ford na época.
A companhia saiu do mercado em meados dos anos 90.
Souza Ramos (SR)
Sem dúvida, a Souza Ramos (SR) é a mais famosa marca de F1000 cabine dupla.
A SR foi fundada em 1979 por Eduardo Souza Ramos, cujo pai era um dos principais revendedores Ford.
Em meados dos anos 80, a ligação entre Ford e SR chegou ao nível mais elevado.
As F1000 cabine dupla da SR foram certificadas pela Ford e eram vendidas com garantia de fábrica.
A SR tinha suporte técnico da Ford para produzir seus modelos.
Foi a primeira empresa do setor de fora-de-série que teve a primazia de trabalhar em colaboração com o fabricante americano.
Embora tenha iniciada a fabricação em 1981, somente alguns anos depois é que surgiria seu maior rebento, a Deserter.
Essa F1000 cabine dupla também ganhou uma versão, que se tornaria outro modelo, a Max Sport.
A diferença entre elas era que a Deserter tinha janelas panorâmicas e uma série de itens de conforto a mais.
A SR Max Sport tinha janelas traseiras de tamanho padrão e era mais simples.
Logo surgiria a F1000 cabine dupla Deserter Rally, que tinha pneus fora de estrada, estepe no teto e barras de proteção na caçamba e frente.
No ano de 1989, a Deserter XK ganha visual novo e mais envolvente.
Em 1990, surgiu a Deserter XK com quatro portas, sendo a primeira F1000 cabine dupla da SR dessa forma.
Venda
Eduardo Souza Ramos percebeu que nos anos 90, o negócio de picapes fora-de-série seria minado com as importações.
Por isso, vendeu a SR para o recente dono da Furglass, que fazia a famosa van/furgão Furglaine.
Com duas fábricas (São Paulo e Diadema), a SR não era uma empresa pequena.
Em 1992, a F1000 tem sua terceira geração no Brasil e a SR decidiu mudar a Deserter XK.
O novo produto integrou-se perfeitamente ao modelo original, que acabara de ser feito pela Ford.
O mesmo aconteceu com a Country XK, versão SUV da Deserter XK.
No entanto, em 1996, um incêndio criminoso em Diadema provocou a falência da SR.
O objetivo, apurado pela justiça, era obter o dinheiro do seguro.
Com isso, encerrou-se a trajetória da marca SR, famosa por sua Deserter XK.
Atualmente, poucas empresas atuam na conversão de picapes para cabine dupla ou outras carrocerias.
A mais notável é a Tropical Cabines, do Paraná.
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