sábado, 10 de agosto de 2019

Originais: Como os inconformistas mudam o mundo

Adam Grant, no livro “Originais: Como os inconformistas mudam o mundo”, recorda, anos atrás, os psicólogos terem descoberto existirem dois caminhos para a realização, um o conformismo, outro a originalidade. Conformismo significa seguir a multidão, percorrendo os caminhos convencionais e mantendo o status quo. Originalidade é tomar o caminho menos trilhado, defendendo um conjunto de ideias novas contrárias o pensamento corrente, mas, no fim, resultantes em algo melhor.

É claro nada ser completamente original, uma vez que todas as nossas ideias são influenciadas pelo aprendido com o mundo à nossa volta. Estamos sempre pegando pensamentos emprestados, seja de forma intencional ou inconsciente. Somos todos vulneráveis à “cleptomnésia” – a lembrança acidental de ideias alheias como se fossem nossas. Segundo minha definição, a originalidade envolve introduzir e impulsionar uma ideia relativamente incomum em determinada área de modo a ser beneficiada por ela.

A originalidade começa com a criatividade: a geração de um conceito ao mesmo tempo novo e útil. Mas não é só isso. Pessoas originais são aquelas capazes de tomar a iniciativa de transformar sua visão em realidade.

O propósito deste livro é mostrar como todos nós podemos nos tornar mais originais. E existe uma pista surpreendente sobre isso no navegador quando você usa para acessar a internet em busca de informações úteis – não de memes em feicebuque e uotzap.

Por que os usuários de Firefox e Chrome são mais comprometidos e têm melhor desempenho em todos os quesitos? A resposta óbvia é porque eles têm mais intimidade com tecnologia. O que faz a diferença é como eles obtém seus navegadores. Se você tem um PC, o Internet Explorer vem no pacote oferecido pelo Windows. Se você é um usuário de Mac, sua máquina tem um Safari pré-instalado. Quase dois terços dos profissionais de atendimento ao cliente usam o navegador padrão, sem jamais questionar se há uma opção melhor disponível.

Para ter um Firefox ou Chrome, você tem de demonstrar alguma desenvoltura e baixar um navegador diferente. Em vez de aceitar o padrão, toma a iniciativa de procurar uma opção possível de ser melhor. Esse ato de iniciativa, embora minúsculo, é uma janela para aquilo feito no trabalho.

Muitos de nós aceitamos o padrão em nossa vida. Em uma série de estudos instigantes, uma equipe liderada pelo psicólogo político John Jost examinou como as pessoas reagem a padrões indesejados. Ele descobriu, comparados a americanos de origem europeia, os afro-americanos revelam-se menos satisfeitos com sua situação econômica, mas consideram a desigualdade econômica mais legítima e justa em lugar do outro grupo.

Em comparação com pessoas nas faixas de renda mais altas, as que se situam nos patamares salariais mais baixos demonstraram ter 17% mais chances de considerar a desigualdade econômica necessária.Quando lhes perguntavam se apoiariam leis limitadoras dos direitos dos cidadãos e da imprensa de criticar o governo, caso a adoção de tal legislação fosse necessária para solucionar os problemas do país, o número de pessoas dispostas a abrir mão da liberdade de expressão foi o dobro nas faixas de renda mais baixas em relação às que ganhavam mais.

Depois de constatar os grupos em situação de desvantagem mostrarem-se consistentemente mais inclinados a defender o status quo em lugar dos privilegiados, Jost e seus colegas concluíram o seguinte: “As pessoas mais sofridas com determinado estado de coisas são, paradoxalmente, as menos propensas a questionar, desafiar, rejeitar e mudar esse estado.”

Para explicar um fenômeno tão peculiar, a equipe de Jost desenvolveu uma Teoria de Justificação do Sistema. A ideia central é as pessoas costumarem racionalizar o status quo como legítimo – mesmo isso indo diretamente contra seus interesses.

Em um estudo, eles acompanharam eleitores democratas e republicanos durante a campanha presidencial americana de 2000. Quando George W. Bush subia nas pesquisas, os republicanos passavam a considerá-lo mais desejável, mas o mesmo ocorria com os democratas. Eles já estavam preparando justificativas para o futuro status quo. Isso também acontecia quando as chances de sucesso de Al Gore cresciam: tanto republicanos quanto democratas passavam a vê-lo sob uma luz mais favorável. Qualquer que fosse a ideologia política, quando um candidato parecia fadado a vencer, as pessoas passavam a gostar mais dele. E se suas chances diminuíam, passavam a gostar menos.

Encontrar justificativas para o sistema corrente cumpre uma função de consolo. É como um analgésico emocional: se é assim que o mundo deve ser, não precisamos ficar descontentes com ele. Mas a transigência também nos rouba a indignação moral necessária para nos posicionarmos contra a injustiça e a vontade criativa de considerar modos alternativos de funcionamento do mundo.

O que distingue a originalidade é a rejeição do convencional e a investigação sobre a existência de opções melhores. Adam Grant passou mais de uma década estudando isso, e o problema acabou se revelando muito menos difícil do antes imaginado.

O ponto de partida é a curiosidade: ponderar por que a convenção existe. Somos levados a duvidar da legitimidade do que é convencional quando temos uma experiência de vujà-dé, o oposto de déjà-vu. O déjà-vu ocorre quando encontramos algo novo que, no entanto, parece que já conhecemos. Vujà-dé é o contrário: estamos diante de algo familiar, mas o observamos de uma perspectiva nova capaz de nos permitir ter novas ideias em relação a velhos problemas.

Quando nos tornamos curiosos em relação às convenções insatisfatórias do mundo, começamos a reconhecer que a maioria delas tem origens sociais. As regras e os sistemas são criados por pessoas. E essa consciência nos dá a coragem de refletir sobre como podemos mudá-las.

Antes de as mulheres conquistarem o direito ao voto nos Estados Unidos, muitas “jamais haviam considerado seu status degradante como nada além de natural”, observa a historiadora Jean Baker. À medida que o movimento sufragista ganhou força, “um número crescente de mulheres começou a perceber os costumes, o preceito religioso e a lei serem na verdade criações humanas e, portanto, reversíveis”.

Originais: Como os inconformistas mudam o mundo publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



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