Adam Grant, no livro “Originais: Como os inconformistas mudam o mundo”, pergunta: na última vez que você teve uma ideia original, o que fez com ela?
Embora os Estados Unidos sejam uma Nação dita capaz de valorizar a individualidade e a expressão de seu modo único de ser, quando a questão é a busca por excelência e o medo do fracasso, a maioria dos americanos prefere se acomodar a se destacar. “Em matéria de estilo, nade com a corrente”, teria dito Thomas Jefferson, mas “em matéria de princípios, fique firme como uma rocha”.
A pressão pela realização nos leva a fazer o oposto. Encontramos modos superficiais de parecer originais – uma gravata-borboleta, talvez, ou sapatos vermelhos brilhantes – sem assumir o risco de sermos originais de fato. Quando se trata das ideias poderosas que temos na cabeça e dos valores essenciais que trazemos no coração, optamos pela autocensura.
Se há tão poucos originais na vida é porque as pessoas têm medo de levantar a voz e sobressair. Quais serão os hábitos de quem estende a originalidade além da aparência e chega à ação?
Para ser um original, você precisa assumir riscos radicais. Essa crença está tão profundamente arraigada em nossa psique cultural que é raro pararmos para pensar no assunto.
Quando nos maravilhamos com os indivíduos originais alimentadores da criatividade e condutores de transformações no mundo, costumamos imaginar eles serem feitos de uma matéria diferente da nossa. Do mesmo jeito, alguns sortudos nascem com mutações genéticas de modo os tornarem resistentes a doenças como câncer, obesidade e aids, acreditamos os grandes criadores trazerem de berço uma imunidade biológica ao risco.
São feitos de forma a dar boas-vindas à incerteza e ignorar a aprovação social. Simplesmente não se importam com o custo do inconformismo como o resto de nós. São programados para serem iconoclastas, rebeldes, revolucionários, criadores de caso, independentes, do contra e ainda impermeáveis ao medo, à rejeição e ao ridículo.
A palavra entrepreneur (empreendedor), cunhada pelo economista Richard Cantillon, significa literalmente “aquele que assume riscos”. Como todos os grandes criadores, inovadores e agentes de mudança, quem transformou o mundo estava disposto a dar um salto. Afinal, se você não arrisca o chute, não tem como fazer o gol.
Adam Grant, no livro “Originais: Como os inconformistas mudam o mundo”, quer derrubar o mito de a originalidade exigir assumir riscos extremos e convencer você de as pessoas originais serem muito mais comuns em relação ao imaginado.
Em todas as áreas, dos negócios à política, passando pela ciência e pelas artes, as pessoas capazes de fazerem o mundo avançar com ideias originais raramente são modelos de convicção e comprometimento. Ao questionar as tradições e desafiar o status quo, podem parecer audazes e cheias de autoconfiança, mas, no fundo, elas também precisam enfrentar o medo, a hesitação e a insegurança.
Costumamos pensar nelas como autossuficientes, porém seus esforços muitas vezes são estimulados e às vezes até forçados por outros. Embora possa parecer adorarem o risco, na verdade, elas preferem evitá-lo.
Em um estudo fascinante, os pesquisadores da área de gestão Joseph Raffiee e Jie Feng formularam uma pergunta simples: quando alguém começa um negócio próprio, é melhor manter ou abandonar seu emprego convencional?
De 1994 a 2008, eles acompanharam um grupo de amostragem com mais de 5 mil americanos, na faixa de 20 a 50 anos. Eles haviam se tornado empreendedores. A decisão deles de manter ou deixar o emprego não foi influenciada pela necessidade financeira: indivíduos “com renda familiar elevada ou altos salários não se mostraram mais ou menos propensos a largar o emprego para se tornarem empreendedores em tempo integral. A pesquisa mostrou que aqueles que mergulhavam de cabeça e se demitiam sentiam atração pelo risco e eram cheios de confiança. Os empreendedores que mantinham um plano B conservador, fundando suas empresas sem abandonar seus empregos regulares, eram muito mais avessos ao risco e inseguros.
Se você pensa como a maioria, vai supor uma clara vantagem para quem assume integralmente o risco. No entanto, o estudo demonstrou o oposto: os empreendedores mantenedores de seus empregos apresentaram probabilidade 33% menor de fracassar em relação a quem fez pedido de demissão de imediato.
Se você é avesso ao risco e tem dúvidas sobre a viabilidade de suas ideias, é provável seu negócio ser construído de forma a se tornar duradouro. Se é um apostador audacioso, sua start-up será muito mais frágil.
O hábito de manter o emprego regular não é exclusividade dos empreendedores de sucesso. Muitas mentes criativas influentes optaram por conservar seus postos de trabalho ou estudo mesmo depois de ganhar dinheiro com grandes projetos.
Por que todos esses originais optaram pela cautela em vez de arriscar tudo?
Uma Teoria do Risco inovadora afirma: no mercado de ações, se você vai fazer um investimento arriscado, trata de se proteger, combinando-o com outros seguros. Na vida cotidiana, as pessoas bem-sucedidas fazem a mesma coisa, equilibrando os riscos em um portfólio.
Quando acolhemos o risco em determinada área da vida, reduzimos o nível geral de risco sendo cautelosos em outro setor. Se você está prestes a apostar agressivamente na roleta, é provável que queira dirigir abaixo do limite de velocidade a caminho do cassino.
Portfólios de risco explicam por que as pessoas costumam se tornar originais em um aspecto de suas vidas enquanto permanecem bastante convencionais em outros. Ninguém pode ser original em determinado campo se não possuir a estabilidade emocional e social advinda de atitudes regulares em todas as outras áreas além daquela onde está sendo original.
Mas empregos regulares não são distrações possíveis de nos impedir realizar nosso melhor trabalho? O senso comum sugere feitos criativos não poderem florescer sem grandes janelas de tempo e energia, assim como empresas não podem prosperar sem um esforço intensivo. Esses pressupostos deixam de levar em conta o benefício central de um portfólio de risco balanceado: sentir-se seguro em um setor da vida nos dá liberdade para sermos originais em outro. Tendo alguma solidez financeira, escapamos à pressão de publicar livros semiacabados, vender arte medíocre ou lançar negócios sem fazer testes prévios.
Montar um portfólio de risco balanceado não quer dizer ficar sempre no meio do caminho, assumindo apenas riscos moderados. Pelo contrário: os originais bem-sucedidos assumem riscos extremos de um lado e os contrabalançam com cautela extrema do lado oposto.
Há cada vez mais evidências de os empreendedores não apreciarem o risco mais do que qualquer um de nós. Essa é uma das raras conclusões sobre as quais economistas, sociólogos e psicólogos estão de acordo.
Economistas descobriram: na adolescência, empreendedores de sucesso eram três vezes mais inclinados em relação aos amigos a quebrar regras e participar de atividades ilícitas. No entanto, quando examinamos mais de perto os comportamentos relacionados a isso, percebemos os adolescentes mais tarde, ao fundarem empresas produtivas, estavam apenas assumindo riscos calculados.
As pessoas originais têm, sim, atitudes variadas em relação ao risco. Algumas são apostadoras arrojadas, outras são paranoicas e avarentas. Para se tornar original, você precisa tentar algo novo, o que implica aceitar alguma medida de risco.
Mas os originais mais bem-sucedidos não são os malucos capazes de dar o salto antes de olhar para baixo: ao contrário, são aqueles com relutância para se aproximar da beira do abismo, calculam a velocidade da queda, conferem três vezes os paraquedas e estendem uma rede de segurança lá embaixo por via das dúvidas.
O descaso pela aprovação social também não é característico das pessoas que tomam caminhos originais na vida. Em uma análise abrangente de 60 pesquisas, incluindo mais de 15 mil empreendedores, constatou-se as pessoas pouco preocupadas com a opinião dos outros não terem maior probabilidade de empreender, nem suas empresas apresentavam desempenho melhor.
Encontramos o mesmo padrão na política. Quando centenas de historiadores, psicólogos e cientistas políticos avaliaram os presidentes americanos, descobriram os líderes menos efetivos terem sido aqueles restritos à vontade da população e seguidores dos passos de seus predecessores. Os melhores presidentes foram os que desafiaram o status quo e implementaram transformações de modo a beneficiar muito o país. Tais comportamentos não guardavam relação alguma com quanto eles se importavam com a aprovação popular e a harmonia social.
A originalidade não é uma característica fixa. É uma escolha. Com frequência, tanto no trabalho quanto na vida pessoal, não temos a possibilidade de exercer tal controle.
Uma vez tendo revelado os originais bem-sucedidos costumarem começar questionando o convencional e montando portfólios de risco balanceados, o restante deste livro de Adam Grant, “Originais: Como os inconformistas mudam o mundo”, aborda como construir pontes entre pensamento e ação. Depois de ter uma ideia nova, qual é a forma mais eficaz de defendê-la? Como podemos ser todos mais originais sem comprometer relacionamentos, reputações e carreiras?
O autor espera suas descobertas ajudarem as pessoas a criar coragem e desenvolver estratégias para perseguir a originalidade. Elas podem fornecer aos líderes os conhecimentos necessários para criarem culturas de originalidade em suas equipes e organizações.
Lançando mão de estudos e histórias cobrindo áreas como negócios, política, esportes e entretenimento, examina as sementes da transformação criativa, moral e organizacional – e as barreiras possíveis de atravancar o progresso.
A primeira seção deste livro trata da administração dos riscos envolvidos em gerar, reconhecer e expor ideias originais. Por definição, ideias inovadoras são repletas de incertezas, mas há evidências poderosas de como aprimorar a capacidade de separar o joio do trigo, a fim de não apostarmos em ideias ruins enquanto deixamos escapar as boas.
Depois de identificar uma ideia promissora, o passo seguinte é comunicá-la de forma eficaz. Grant compartilha as melhores práticas de expressão, esclarecendo como selecionar as mensagens e o público de modo a ser mais ouvido e menos ignorado.
A segunda seção lida com as escolhas feitas para replicar e disseminar a originalidade. Começa pelo dilema do momento certo: é bom manter-se cauteloso a respeito de ser o pioneiro, pois costuma ser mais arriscado agir cedo do que tarde.
Por incrível que pareça, alguns dos maiores empreendimentos criativos e iniciativas de transformação da história tiveram raízes na procrastinação, e a tendência de atrasar ou adiar pode ajudar os empreendedores a construir empresas duradouras, os líderes a conduzir esforços de transformação e os inovadores a manter sua originalidade.
Em seguida trata dos desafios de construir alianças, investigando como cultivar apoio para uma ideia original e reduzir os riscos de rejeição. Os inimigos são aliados melhores se comparados aos “amigos da onça”.
Valores compartilhados podem acabar dividindo em vez de unir. O melhor é recrutar colaboradores equilibrando idealismo com pragmatismo e misturando o familiar com o novo.
A terceira seção trata das formas de destravar e sustentar a originalidade, tanto em casa quanto no trabalho. Grant examina como cultivar a originalidade nas crianças, explicando como pais, irmãos mais velhos e outras pessoas ao cumprirem o papel de exemplos moldam nossa tendência à rebeldia.
O autor pondera por que algumas culturas se tornam verdadeiras seitas e como os líderes podem valorizar opiniões divergentes para incentivar o florescimento da originalidade. Você aprenderá com um bilionário mago das finanças – Ray Dalio – demite os funcionários incapazes de o criticar.
Encerra o livro “Originais: Como os inconformistas mudam o mundo” refletindo sobre as emoções capazes de nos impedir de buscar a originalidade. Você vai ter uma nova compreensão sobre a superação do medo e da apatia com o caso do grupo de jovens de 20 e poucos anos que derrubou um tirano. Esses exemplos destacam: manter a calma não é a melhor forma de controlar a ansiedade, explodir de raiva é dar um tiro pela culatra e o pessimismo às vezes nos deixa mais energizados em lugar do otimismo.
No fim das contas, são as pessoas capazes de escolher e defender a originalidade aquelas impulsionadoras do mundo. Depois de anos estudando e interagindo com elas, Adam Grant fica impressionado de perceber suas experiências interiores não serem nem um pouco diferentes das nossas. Elas sentem os mesmos medos e as mesmas dúvidas sentidas por nós. O que as diferencia é, mesmo assim, partirem para a ação. No fundo, sabem: fracassar lhes traria menos desgosto do que nem tentar.
Ideia Original publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com
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