domingo, 11 de agosto de 2019

Bandeira-de-luta: Corte da Jornada de Trabalho Semanal (sem Corte de Salário) depois de 100 anos

Se a Reforma da Previdência aumenta cinco anos de vida ativa, serão mais 9.200 horas de trabalho até se aposentar, totalizando 64.400 horas, pagando mais contribuições, e tendo menos vida inativa até o falecimento; os trabalhadores só perderão. Contrapartida: negociar 48 semanas X 36 horas = 1.728 horas anuais; considerando 35 anos de trabalho, seriam 60.480 horas trabalhadas na vida ativa; elevaria em 5.280 horas a carga de trabalho anterior, mas teria mais um dia livre na semana.

Minha bandeira-de-luta: cortar a jornada de trabalho semanal, trocando trabalho alienante por trabalho criativo sem corte dos salários por conta da maior produtividade durante a atual revolução tecnológica.

Duas diretoras de recursos humanos da Unilever, estão trabalhando somente três dias por semana— ao invés dos tradicionais cinco — desde abril. Assim como a jornada, o salário das duas profissionais também foi reduzido, e agora elas recebem 60% do que ganhavam antes. “Trabalhando 60% do tempo, as duas recebem 60% do salário e os benefícios seguem a mesma lógica”, explica o vice-presidente de recursos humanos da multinacional.

Não se trata de uma redução forçada da jornada em função de um corte de custos da empresa. Trabalhar menos foi uma escolha das duas executivas, que agora compartilham o mesmo cargo e se dividem entre as tarefas da função, em um modelo que a Unilever está chamando de “job sharing” ou cargo compartilhado.

Pela organização feita, nenhuma das duas trabalha às sextas-feiras e há dois dias na semana quando ambas estão simultaneamente na companhia para alinhar o trabalho e fazer reuniões presenciais com a equipe.

A ideia do “job sharing” surgiu de uma conversa entre as duas diretoras. Elas estavam passando por um momento de vida em que gostariam de ter mais tempo para se dedicarem aos filhos e aos estudos. Uma, com dois filhos, estava prestes a voltar de licença- maternidade, e outra, também mãe de dois, gostaria de ter mais tempo para a família e os estudos.

Juntas, começaram a imaginar como seria dividir a mesma função e trabalhar menos. Já haviam tido contato com profissionais da companhia em outros países. Eles faziam “job sharing”. Fizeram algumas consultas internas para pensar em como estruturar o novo modelo, montou-se a proposta, apresentou-se para o ‘board’ e eles aprovaram.

Com maior poder de barganha, consegue-se retomar o salário anterior com menor jornada semanal por conta da maior produtividade!

A experiência do cargo compartilhado está relacionada à vontade da Unilever de ter novos formatos de trabalho. O modelo é uma evolução das iniciativas de flexibilidade já existentes, como horário flexível e home office, e atende ao anseio de jovens talentos e profissionais que desejam um modelo mais colaborativo, inovador e diverso. Enquanto os funcionários ganham flexibilidade para acomodar demandas pessoais, sem abandonar suas respectivas carreiras, a companhia ganha em produtividade e inovação.

Operações da Unilever em outros países, como Inglaterra, Holanda e Austrália, já praticam o “job sharing” há mais tempo e a intenção é essa modalidade ser ampliada. A intenção é oferecer essa possibilidade para outros funcionários, depois de avaliar os aprendizados, as oportunidades e os próximos passos.

Outra multinacional que tem algo semelhante é a Bosch, com mais de 8 mil funcionários no Brasil. Além de oferecer home office, a empresa tem a modalidade de jornada parcial. Ela permite ao funcionário exercer suas atividades em uma carga horária semanal reduzida de até 30 horas.

A empresa não tem formalmente em sua política a modalidade “job sharing”, mas afirma que ela é possível caso existam duas pessoas com jornada parcial cumprindo uma atividade complementar. A jornada reduzida é uma possibilidade para todos os colaboradores das áreas administrativas. A carga horária semanal de até 30 horas pode ser distribuída conforme a necessidade do funcionário e da empresa. É importante haver interesse do colaborador e a validação do gestor para os resultados serem positivos para todos.

Novas formas de trabalho estão alinhadas com as mudanças nas relações entre empregador e empregado. Além de oferecer ao colaborador mais qualidade de vida, a jornada flexível

  1. traz impactos positivos no clima organizacional,
  2. deixa o profissional mais motivado e
  3. possibilita a empresa contar com pessoas qualificadas, por vezes, sem disponibilidade para trabalhar em jornada integral ou 100% presencial na empresa.

Desde quando a companhia começou a implementar a jornada flexível, em 2013, foram observados impactos positivos:

  1. na gestão por resultado,
  2. na prática da autonomia,
  3. na delegação,
  4. na confiança nas equipes e
  5. na atração de talentos.

A semana de trabalho reduzida, ainda bastante incipiente, vem ganhando espaço nos debates de recursos humanos. Em janeiro deste ano, o tema chegou a Davos, durante o Fórum Econômico Mundial. A justificativa é trabalhar menos poderia trazer uma série de benefícios aos trabalhadores e às empresas.

Há boas experiências mostrando, ao reduzir o número de horas de trabalho, as pessoas são capazes de focar sua atenção com mais eficiência, produzindo com mais qualidade e criatividade. “As pessoas também são mais leais às organizações dispostas a oferecer flexibilidade, por se preocuparem com os funcionários fora do trabalho”, disse Adam Grant, psicólogo organizacional da Wharton School, escola de negócios da Universidade da Pensilvânia, durante o Fórum.

O ponto de vista de Grant é amparado em pesquisas e experimentos. Eles mostram a semana de trabalho mais curta deixar as pessoas mais felizes e produtivas.

Na Nova Zelândia, a empresa Perpetual Guardian se submeteu ao teste de retirar um dia inteiro da semana de trabalho. Em março e abril do ano passado, a empresa pediu aos seus 240 funcionários que trabalhassem quatro dias por semana — ao invés de cinco — com a mesma remuneração e pacote de benefícios. A jornada semanal teria, então, 30 horas, e a quantidade de trabalho seria a mesma de uma semana normal.

Pesquisadores da Universidade de Auckland entrevistaram os funcionários antes e depois do experimento e constataram um aumento no engajamento da equipe. O comprometimento passou de 68% (antes do teste) para 88% (depois), enquanto que a motivação subiu de 66% para 84%. A experiência também gerou uma percepção melhor sobre o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, com o índice passando de 54% para 78%, enquanto o nível de estresse caiu sete pontos percentuais.

Ao mesmo tempo, a liderança da companhia informou: a produtividade se manteve, com ligeira melhora na maioria das equipes. Com o resultado da experiência, a empresa neozelandesa decidiu adotar a semana de trabalho de quatro dias de forma permanente.

Apesar de existirem casos pontuais já implementados de redução da jornada de trabalho e de a discussão vir à tona entre profissionais e pesquisadores, há uma barreira cultural impedindo que o assunto avance. A lógica da vigilância e do controle do trabalho ainda é muito forte.

Em muitos lugares ainda é mais importante estar presente fisicamente oito horas no escritório, mesmo se o funcionário não estar produzindo. É uma rotina mais importante em vez da produção em si.

Porém, o trabalho flexível é, sim, uma tendência. Faz parte de uma ideia de futuro do trabalho, considerando o contexto dinâmico vivenciado atualmente.

A flexibilização do trabalho é uma tendência muito forte, e não só em termos de jornada, mas inclusive em relação ao tipo de vínculo empregatício. A questão cultural (reacionarismo, i.é, reação contra o avanço da história) é o entrave. Há resistências culturais por parte das lideranças. Somente empresas mais modernas em termos de gestão partem para a total flexibilização.

A prática não vai gerar uma sobrecarga de trabalho. É uma resposta ao mundo estressado vivenciado, inclusive diminui o trânsito e melhora o meio ambiente. Se bem estruturada, a prática não vai gerar mais trabalho, mas há o desafio de lidar com o comportamento egóico dos gestores. Quando um deles toma decisão, o outro precisa aceitar. A sintonia disso é o desafio.

Dados da Organização Internacional do Trabalho mostram, ainda hoje, um terço da força de trabalho global trabalha mais do que 48 horas por semana, apesar de a instituição ter observado progresso substancial na redução de horas trabalhadas em muitos países desde a adoção da Convenção Número 1, de 1919. Há um século definiu a jornada de oito horas diárias e 48 semanais.

No estudo “Expediente e o Futuro do Trabalho”, publicado em 2018, a OIT afirma haver diversas razões para se considerar a redução da jornada. “Horas de trabalho mais curtas são positivamente associadas a uma maior produtividade devido à redução da fadiga, motivação do trabalhador, diminuição do absenteísmo, menores riscos de erros e acidentes de trabalho e à redução da rotatividade. Jornadas mais curtas também tendem a reduzir problemas de saúde ocupacional e custos associados à assistência médica, além de melhorar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal”, pontua o estudo.

Cerca de três anos atrás, a indústria automobilística adotou a semana reduzida de trabalho, mas por outro motivo: a crise. Com a produção de veículos em queda, essa foi uma das soluções encontradas pelas empresas do setor para segurar as demissões. Com a retomada das vendas, a jornada de cinco dias retornou.

PS:

Em 2019 comemoramos os 100 anos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), entidade criada com o fim da 1ª Guerra Mundial para discutir questões como desemprego, jornada de trabalho, proteção à maternidade, trabalho noturno e trabalho do menor

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi fundada em 1919 como parte do Tratado de Versalhes, que pôs fim à 1ª Guerra Mundial. Objetivando a promoção da justiça social, a OIT é a única agência das Nações Unidas que possui um arranjo interno tripartite, com presença dos 183 países membros nas diversas esferas de decisão, nas quais se tem efetiva participação igualitária dos representantes de governos, de organizações de empregadores e de trabalhadores.

Orientado pela preservação da justiça social nas relações capital-trabalho, o papel da OIT se mostrou ainda mais fundamental diante da acelerada transformação em marcha no mundo do trabalho desde o final do século XX. Em meio à reestruturação produtiva mundial, ao surgimento das cadeias globais de valor e aos processos de terceirização, a OIT expandiu seu espectro de atuação incluindo em sua pauta a luta pelos direitos dos povos indígenas e dos trabalhadores migrantes, bem como pelo respeito aos portadores de HIV/AIDS no ambiente de trabalho.

Ainda neste contexto, a OIT estabeleceu o Trabalho Decente como o principal objetivo de suas ações e políticas. O Trabalho Decente engloba a promoção de oportunidades para mulheres e homens, junto a um trabalho produtivo, bem remunerado e exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, garantindo uma vida digna ao empregado.

*Faça aqui o download do “Relatório da Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho 2019” produzido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Bandeira-de-luta: Corte da Jornada de Trabalho Semanal (sem Corte de Salário) depois de 100 anos publicado primeiro em https://fernandonogueiracosta.wordpress.com



Nenhum comentário:

Postar um comentário